Dois estranhos conheceram-se no Caminho de Santiago. Poucas semanas depois estavam noivos - TVI

Dois estranhos conheceram-se no Caminho de Santiago. Poucas semanas depois estavam noivos

  • CNN
  • Francesca Street
  • 1 mai 2023, 16:12
Loni Bergqvist no Caminho de Santiago Fotos cortesia Loni Bergqvist

Kjartan Bergqvist, da Dinamarca, e Loni Philbrick-Linzmeyer, dos EUA, eram desconhecidos quando se cruzaram durante uma caminhada pelo Caminho de Santiago.

Quando Loni Philbrick-Linzmeyer decidiu fazer o Caminho de Santiago, estava convencida que tinha de fazê-lo sozinha.

Estávamos em 2013. Loni era uma professora californiana de 29 anos que estava “numa encruzilhada”. Tinha acabado de passar por uma separação difícil e sentia-se à deriva.

“Isso levou-me a questionar os meus próprios valores e o meu próprio futuro - se queria ter filhos, qual era o meu caminho para isso?”, conta hoje Loni à CNN. “Em termos de trabalho, também estava numa situação difícil, tinha tido um ano de ensino muito duro.”

Enquanto tentava escapar a estes sentimentos socializando e mantendo-se ocupada, Loni sabia que, no fundo, o que realmente precisava era de tempo para fazer uma pausa e refletir. Ela tinha “um bocadinho de medo” do que poderia acontecer se deixasse as coisas andar, sem mudanças. Acabaria por ficar presa? Ainda mais infeliz?

Certa noite, revirando-se e não conseguindo dormir, Loni decidiu, definitivamente, que ia tomar uma atitude. Algumas pesquisas à noite no Google levaram-na a descobrir o Caminho de Santiago, o famoso trilho de peregrinação que se estende cerca de 800 quilómetros através de França, Portugal e Espanha. As múltiplas rotas da peregrinação histórica terminam na cidade espanhola de Santiago de Compostela, na sua catedral espetacular.

Loni reservou logo um bilhete de avião para Paris.

“Foi tudo muito espontâneo, muito aleatório, mas também num momento em que eu sabia que tinha de fazer outra coisa para mudar os meus hábitos e refletir muito sobre a minha vida, para onde queria ir e quem queria ser”, diz Loni. “Foi assim que cheguei ao Caminho de Santiago.”

Durante os dois meses seguintes, Loni treinou e preparou-se para a aventura. Os seus entes queridos apoiaram-na, embora um pouco preocupados com o facto de Loni embarcar sozinha na viagem. Mas Loni estava convencida de que esta tinha de ser uma aventura independente, por isso os pais compraram um grande mapa do percurso do Caminho e penduraram-no em casa para mapear o progresso de Loni com autocolantes, à medida que ela os informava das suas movimentações.

Do outro lado do Atlântico, na Dinamarca, Kjartan Bergqvist, de 24 anos, estava a meio do curso na faculdade de Medicina e questionava a sua decisão de tornar-se médico. Seria o caminho certo?

Uma ex-namorada mencionara uma vez o Caminho de Santiago - até então, Kjartan nunca tinha ouvido falar dele – e durante as sessões de estudo noturnas, quando deveria estar a debruçar-se sobre os manuais de Medicina, Kjartan dava por si a pensar no Caminho. No final, a sua decisão de embarcar na caminhada foi ainda mais espontânea do que a de Loni.

“Fui a Copenhaga, comprei umas botas de montanha e uma mochila e, basicamente, parti no dia seguinte de comboio para Paris”, conta Kjartan.
Tal como Loni, Kjartan sentiu fortemente que esta tinha de ser uma viagem a solo - de tal forma que nem sequer mencionou o Caminho a nenhum amigo ou família. Disse aos pais que estava a planear viajar pela Europa, mas manteve os pormenores vagos.

Loni e Kjartan partiram de Paris com poucos dias de diferença, encontrando rapidamente consolo na vida ao percorrer o Caminho de Santiago.

Havia algo de reconfortante - e de excitante - no facto de acordar todos os dias e caminhar com firmeza. Havia tempo infinito para refletir e pensar nas coisas a sós. Havia também muitas oportunidades para estabelecer contactos com outros caminhantes.

“Há muita abertura no Caminho”, diz Loni. “Pode ser-se tão independente ou tão social quanto se quiser ou se precisar nesse dia.”

Por vezes, Loni caminhava com outros viajantes durante algum tempo. Outras vezes, ficava sozinha durante longos trechos, mas gostava de cumprimentar caras amigas ao longo do percurso. Os companheiros de caminhada eram imediatamente reconhecíveis, com as suas mochilas e botas de caminhada.

“Às vezes temos conversas prolongadas com pessoas, sobre todo o tipo de assuntos, às vezes são coisas emocionais muito profundas. Outras vezes, é mais superficial”, relata Kjartan.

Sempre que Kjartan ou Loni se cruzavam com outros peregrinos - como são muitas vezes chamados os caminhantes do Caminho - faziam a mesma saudação calorosa: “Buen Camino”.

“É uma frase muito boa, porque significa olá e adeus ao mesmo tempo”, diz Kjartan.

Cruzando caminhos

Loni fotografada a fazer o Caminho de Santiago. Cortesia de Loni Bergqvist

Foi por volta de duas semanas após o início das respetivas viagens que Kjartan e Loni se encontraram pela primeira vez. Estavam numa zona florestal, não muito longe da cidade espanhola de Burgos.

“Buen Camino”, disseram um ao outro quando os seus olhos se cruzaram. Depois, Loni comentou o tempo - havia algumas nuvens ao longe e ela estava entusiasmada com a perspetiva de chuva. Vivia na Califórnia, explicou, onde nunca chovia.

“Chamo-me Kjartan”, apresentou-se ele. “Sou de Copenhaga, Dinamarca.” Lá chovia muito, pelo que, para ele, um dia de chuva em Espanha não era muito apelativo.

A interação foi amigável mas breve - e nenhum dos dois sugeriu que continuassem a caminhar juntos, pelo que Kjartan seguiu em frente.

Enquanto ele se afastava, um pensamento surpreendente passou pela cabeça de Loni: “Posso mudar-me para Copenhaga por aquele tipo.”

“Foi estranho, não foi amor à primeira vista", diz Loni hoje. “Acho que acabei por me esquecer do nome dele mais tarde, mas houve certamente um momento em que pensei: ‘OK, talvez esteja interessada nele.”

Enquanto Kjartan seguia em frente, deu por si a esperar que voltasse a cruzar-se com Loni.

E de facto, nessa noite, os dois estranhos acabaram no mesmo albergue em Burgos, que estava repleto de outros caminhantes.

“Normalmente, ao fim da tarde, as pessoas juntam-se, talvez bebam um pouco de vinho e conversem um pouco e depois vão para a cama cedo, para estarem prontas no dia seguinte para continuar a caminhar”, diz Kjartan.

Quando Kjartan viu Loni entrar, ficou entusiasmado. “Fui logo a correr!”, diz.

“Foi nessa altura que me esqueci do nome dele”, diz Loni, rindo. “Mas é um pouco difícil para os americanos dizerem Kjartan.”

Os dois conversaram um pouco nessa noite, mas a maior parte da conversa foi num ambiente de grupo, enquanto os companheiros de Caminho partilhavam histórias uns com os outros e comparavam bolhas.

A certa altura, Loni mencionou que estava a planear tirar o dia seguinte para descansar e explorar Burgos. Kjartan não tencionava ficar por lá, mas pensou que talvez fizesse o mesmo, na esperança de que surgisse outra oportunidade de passar algum tempo com Loni.

“Nessa noite, fui para a cama com muita vontade de falar contigo na manhã seguinte”, conta Kjartan a Loni hoje.

Estava tão entusiasmado com a perspetiva que mal conseguiu dormir. Na manhã seguinte, “saltou da cama e desceu as escadas a correr”.

Lá estava Loni, a preparar-se para sair e explorar a cidade.

“Queres ir beber um café?”, perguntou-lhe Kjartan.

“Claro, parece-me óptimo”, respondeu Loni.

Ela estava agradada, mas também um pouco surpreendida.

“Sinceramente, foi um pouco inesperado - não houve nenhuma outra situação no Caminho em que alguém me pedisse para tomar um café comigo”, diz Loni hoje.

Como resultado, o convite assumiu uma formalidade que não teria tido se ela estivesse no seu país. Parecia uma espécie de encontro a dois. Mas era só um café. Talvez Kjartan estivesse apenas a ser simpático. Ou gostava mesmo de café?

“Quando nos sentámos e começámos a falar, tive de perceber quais eram as suas intenções - se era porque estava interessado em mim ou se queria apenas uma chávena de café”, diz Loni a Kjartan hoje. “Mas, na verdade, quando começámos a falar, a conversa fluiu muito rapidamente.”

Loni e Kjartan estavam a entrar no ritmo da conversa quando foram interrompidos por uma caminhante canadiana do Caminho, Liz, que os reconheceu da noite anterior - e não percebeu muito bem as vibrações românticas.

“Ela tinha o joelho dorido e não podia andar nesse dia”, explica Kjartan. “Por isso, juntou-se a nós, e acabámos por ser um pequeno grupo de três pessoas - e ficámos a passear pela cidade, porque é um sítio lindo.”

O grupo passou o dia a absorver Burgos, a passear pelas ruas e a visitar um museu. À noite, saíram para beber sangria e Liz retirou-se cedo, deixando Kjartan e Loni a retomar o trabalho que tinham feito de manhã.

Nessa altura, já não havia dúvidas de que havia algo entre eles. Foi uma noite fantástica, mas no dia seguinte Loni acordou em conflito.

“Tive uma reação muito forte em que pensei: 'Não vim aqui para ter um caso. Não vim de tão longe para conhecer um tipo e passar duas semanas com ele'", conta.

Loni expressou as suas preocupações a Kjartan, que compreendeu o seu ponto de vista.

“Até essa altura, eu estava muito consciente de não querer juntar-me a um grupo”, diz ele. “Mas também me lembro de uma mudança ao conhecer a Loni.”

Os dois decidiram passar o dia seguinte separados, mas voltar a encontrar-se à noite para falar sobre o que fazer.

Entretanto, Loni confidenciou à sua nova amiga Liz as suas preocupações. Surpreendeu-se a si própria com a sua conclusão.

"Na verdade, apercebi-me de que a coisa mais vulnerável que poderia fazer - e provavelmente este era o crescimento que eu mais procurava - seria abrir-me para caminhar com outra pessoa”, diz ela.

“Por isso, aquilo que tinha pensado que iria fazer como sendo uma coisa muito independente, acabou por mostrar que o que eu precisava era de estar mais aberta, mais vulnerável, mais exposta.”

Quando Loni e Kjartan se reagruparam, ele começou por dizer que achava que deviam fazer o resto do Caminho de forma independente - queria respeitar os sentimentos e as intenções originais de Loni. Mas Loni interrompeu-o. Ela tinha mudado de ideias, explicou.

“Sabes que mais? Na verdade, quero caminhar contigo”, disse ela.

Caminhar o Caminho

Kjartan e Loni tornaram-se íntimos depois de caminharem juntos o Caminho de Santiago. Cortesia de Loni Bergqvist

E assim Loni e Kjartan partiram juntos de Burgos, com Liz a completar o grupo.

Tanto Loni como Kjartan ficaram contentes por Liz estar lá também - ela era engraçada e bem-humorada, ótima a manter as coisas divertidas e leves. E rapidamente se tornou uma grande amiga de Loni e de Kjartan.

Todos os dias, os dois acordavam e confirmavam um com o outro se ainda queriam caminhar juntos.

“Na maior parte dos dias, durante o resto do Caminho, a resposta era sim. E caminhámos juntos. E houve alguns dias em que dissemos: 'Não, hoje preciso de um tempo separados'. E combinávamos onde nos encontraríamos", diz Loni.

Os dias foram passando e Loni e Kjartan foram-se aproximando. Caminhavam por zonas rurais espanholas, partilhando histórias sobre as suas vidas e o que sentiam em relação a tudo - desde as suas esperanças para o futuro até às suas opiniões sobre o casamento.

Loni também tinha chegado a uma conclusão sobre uma das questões que a incomodava antes da viagem - agora sabia que queria ter filhos. E Kjartan disse-lhe desde logo que ter uma família também era importante para ele.

Antes de Loni e Kjartan se conhecerem, ambos estavam concentrados no objetivo final de chegar a Santiago. Mas, de alguma forma, esse objetivo já não parecia tão importante. Estavam mais abertos a desvios inesperados - como a vez em que passaram um dia e uma noite inteiros numa pousada peculiar, cheia de camas de rede, onde as galinhas corriam aos seus pés e um burro zurrava ao fundo.

“Santiago já não tinha importância nenhuma”, diz Kjartan.

“Alguma coisa tinha mudado”, concorda Loni. “A perceção de que, na verdade, o que importa é a viagem e os momentos ao longo do caminho, que não antecipamos, é que a tornaram realmente memorável."

O tempo no Caminho também parecia funcionar numa frequência diferente do tempo no “mundo real”.

“Aquelas três semanas pareceram muito mais longas, no bom sentido, no muito bom sentido”, diz Kjartan. “Eu estava a voar tão alto - obviamente muito apaixonado, e é Verão, e não há outro lugar onde se deva estar a não ser onde se está neste momento.”

Mas, à medida que se aproximavam de Santiago, Loni e Kjartan foram tomados por uma excitação, uma vontade de ver a linha da meta.

Liz queria caminhar um pouco mais devagar, por isso, no último dia, Loni e Kjartan caminharam a dois, percorrendo cerca de 50 quilómetros e chegando a Santiago a meio da noite.

Foi surreal ver finalmente a Catedral, iluminada apenas pelo luar. Como todos os hotéis estavam fechados, os dois dormiram na rua, partilhando um único saco-cama.

“Apercebi-me que não queria que aquilo acabasse, não queria ir para casa sem ter a Loni na minha vida”, diz Kjartan.

Loni sentia o mesmo. E trocar contactos e prometer manter-se em contacto não parecia ser suficiente. Até mesmo o compromisso de um romance à distância não era suficiente.

“Não quero ir para casa sem ti”, disse Kjartan a Loni no dia seguinte à sua chegada a Santiago.

“Eu também não”, disse Loni.

“Então está decidido”, disse Kjartan.

“O que queres dizer com isso?”, pergunta Loni.

“Precisas mesmo que eu te peça?”, pergunta Kjartan.

“Sim, preciso”, disse Loni.

Então Kjartan disse as palavras em voz alta: “Queres casar comigo?”

Loni ficou radiante.

“Nos meus desejos secretos, eu queria-o”, diz ela sobre o pedido de casamento. “Acho que estava entusiasmada e um pouco nervosa, mas também não me lembro de ter qualquer dúvida de que era a escolha certa e de que seríamos capazes de o fazer. Era claro como o dia - este é o caminho”.

Não queria que aquilo acabasse, não queria ir para casa sem ter a Loni na minha vida". Kjartan Bergqvist

No dia anterior, Loni tinha falado por Facetime com mãe e tinha-a apresentado a Kjartan pela primeira vez. Agora, enviava-lhe uma mensagem de texto entusiasmada: “Estou noiva!”

Decidiu esperar e contar aos amigos quando estivesse de volta aos Estados Unidos. Quanto a Kjartan, enviou um postal aos pais a contar-lhes tudo, “dizendo que estava noivo e muito entusiasmado, mas que tinham de esperar pela história até eu voltar para casa”.

Loni deu por si a voltar ao pensamento que tivera quando viu Kjartan pela primeira vez - mudar-se-ia para Copenhaga por ele. Não se tratava apenas de uma ideia romântica, havia um elemento prático nesta decisão: Kjartan ainda estava a estudar Medicina, mas como professora seria mais fácil para Loni trabalhar em qualquer lugar.

Chegou então a altura de Loni e Kjartan seguirem, temporariamente, caminhos diferentes. A despedida não foi fácil. Mas partiram entusiasmados e confiantes no seu futuro comum.

“Acredito realmente que decidimos não gastar a nossa energia a decidir se devíamos estar juntos, mas sim gastar essa energia a descobrir como estarmos juntos da melhor forma possível", diz Loni.

“Tomar essa decisão ajudou-nos a sobreviver a todo o processo de regresso a casa, de volta às nossas vidas”, diz Kjartan. “Estávamos muito determinados e tomámos uma decisão de estarmos juntos, e isso foi o mais importante.”

Agarrarem-se ao espírito do Caminho

O casal ficou noivo apenas 23 dias depois de se conhecer. Cortesia de Loni Bergqvist

Foi triste dizerem adeus um ao outro, mas dizer adeus à vida no Caminho foi quase mais difícil. Loni e Kjartan tinham adorado a simplicidade de acordar todos os dias e caminhar com um objetivo. Também tinham adorado a comunidade. Foi difícil deixá-la para trás.

Loni diz que regressou à Califórnia determinada a “agarrar-se ao Caminho e ao espírito do Caminho”.

“Quando deixei o Caminho, senti-me tão em paz, uma sensação de paz em mim própria”, diz ela.

No início de 2014, seis meses depois de se terem conhecido, Loni e Kjartan casaram-se num tribunal em San Diego, na Califórnia. Mantiveram as núpcias a uma escala pequena, planeando uma celebração maior para o Verão seguinte. Mas Liz voou da sua casa no Canadá para os surpreender e pareceu correto que ela fosse uma das testemunhas. Loni adotou o nome de Kjartan, tornando-se Loni Bergqvist.

O casamento no Verão foi um fim-de-semana de celebrações e foi também a primeira vez que muitos dos amigos e familiares de Loni e Kjartan se viram e conheceram. No final do fim-de-semana, eram uma família unida e multinacional.

Liz foi a anfitriã da cerimónia, partilhando a história de como interrompeu involuntariamente o primeiro encontro de Loni e Kjartan, e depois teve um “lugar na primeira fila” enquanto a sua relação se desenrolava no Caminho. Loni e Kjartan escreveram os seus próprios votos e leram-nos um ao outro.

Ainda demorou algum tempo até que o casal vivesse no mesmo país - antes de arranjar um emprego na Dinamarca, Loni conseguiu um emprego em Londres. Mas, finalmente, em 2015, Loni mudou-se para Copenhaga e foi viver com Kjartan. O casal deu à luz o seu primeiro filho pouco tempo depois.

Dez anos depois

Kjartan fotografado com os três filhos do casal. Cortesia de Loni Bergqvist

Atualmente, Loni e Kjartan ainda permanecem na Dinamarca, onde se divertem a criar os seus três filhos bilingues. Kjartan deixou recentemente a Medicina e está agora a estudar Teologia, enquanto Loni tem a sua própria empresa de consultoria na área da educação.

Tanto para Loni como para Kjartan, construir a sua própria família trouxe-lhes alegria e realização. Loni diz que é espantoso ver os filhos “tornarem-se estas pessoas fantásticas com as suas personalidades fortes e a sua forma de ver o mundo”.

O casal continua a esforçar-se por manter vivo “o espírito do Caminho” no seu dia-a-dia. Mas com o passar do tempo, Loni e Kjartan dão por si a refletir menos sobre as origens da sua história de amor e mais sobre o que aconteceu a seguir e onde estão hoje.

“Sinto que não é difícil ir a Espanha e apaixonar-se - mas é-o realmente tomar a decisão de se comprometer e fazer o trabalho que é preciso, é disso que me orgulho", diz Kjartan.

“Há uma realidade no facto de nos apaixonarmos e tomarmos a decisão de casar”, concorda Loni. “Há também a realidade de me mudar para um lugar estrangeiro, sem a família ou amigos e sem conhecer ninguém exceto uma pessoa."

O Kjartan e eu fomos ambos a pensar que desejávamos uma certa coisa e que precisávamos de uma certa coisa. E acho que o que aconteceu foi que o Caminho proporcionou outra coisa inesperada". Loni Bergqvist

Loni adora viver na Dinamarca, mas também teve de se ambientar às diferenças culturais e adaptar-se a viver longe dos seus entes queridos. Kjartan diz que está sempre consciente disso, chamando à sua relação “assimétrica em certos aspetos”.

“A Loni deixou tudo para trás para estar comigo na Dinamarca. Eu não sacrifiquei o mesmo pela Loni. Estou no meu próprio país, rodeado da minha família e amigos”, diz ele.

Loni tomou consciência da realidade de viver longe do seu país de origem quando os pais morreram inesperadamente, a mãe em 2016 devido a complicações de um cancro do pulmão e o pai devido a um ataque cardíaco em 2021.

“Os meus pais adoravam vir de visita à Dinamarca. O meu pai estava a aprender dinamarquês e vinha visitar-nos de três em três meses depois da morte da minha mãe”, conta Loni.

Loni diz-se grata pelo apoio contínuo de Kjartan enquanto lida com a perda dos seus pais.

“Ser capaz de apoiar um parceiro que está de luto deu-nos uma ligação mais profunda”, diz ela. “Aquilo de que precisamos quando estamos de luto é um pouco inexplicável, mas Kjartan tem sido capaz de estar presente e de juntar os cacos durante duas mortes bastante traumáticas. Sinceramente, não sei o que teria feito sem ele”.

Loni e Kjartan estão tão confiantes no seu futuro hoje como estavam naquele dia em Santiago, quando ficaram noivos depois de se conhecerem há apenas 23 dias.

“Há um ditado sobre o Caminho, que é 'o Caminho dá", diz Loni. “Pode ser qualquer coisa, desde uma torção no tornozelo até uma ajuda, ou uma situação em que não se consegue ver bem e alguém nos ajuda a ver as coisas com clareza.”

Loni e Kjartan acreditam que o Caminho os ajudou um ao outro.

“Kjartan e eu fomos ambos a pensar que desejávamos uma certa coisa e que precisávamos de uma certa coisa. E acho que o que aconteceu foi que o Caminho nos proporcionou outra coisa inesperada”, diz Loni. Não era o que eles esperavam, mas era absolutamente o que precisavam.

Kjartan acha que foi um “timing divino”.

Loni tem menos certezas quanto à sorte ou ao destino. Mas o que quer que tenha sido, "foi certamente algo muito especial”.

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