Cancro está a atingir mais pessoas de 30 e 40 anos. Eis o que precisa de saber sobre isto - TVI

Cancro está a atingir mais pessoas de 30 e 40 anos. Eis o que precisa de saber sobre isto

  • CNN
  • Sandee LaMotte
  • 4 fev 2023, 16:30

Médicos chamam-lhe uma tendência preocupante. Diagnósticos de cancro estão a aumentar em pessoas mais jovens em todo o mundo.

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Hoje é o Dia Mundial do Combate ao Cancro e as perspetivas de vencer a guerra contra esta doença são tanto boas como más.

Nos Estados Unidos, as mortes por cancro diminuíram 33% desde 1991, com uma estimativa de 3,8 milhões de vidas salvas, principalmente devido aos avanços no diagnóstico precoce e no tratamento. Ainda assim, 10 milhões de pessoas em todo o mundo perderam as suas vidas em 2020 por causa do cancro.

“Durante os últimos três anos, a principal causa de morte no mundo foi o cancro, e não a covid-19”, afirma Arif Kamal, diretor executivo da área de doentes da Sociedade Americana do Cancro.

Os sintomas do cancro podem imitar os de muitas outras doenças, pelo que pode ser difícil distingui-los, dizem os especialistas. Esses sintomas incluem perda ou ganho inexplicável de peso, inchaço ou caroços nas virilhas, pescoço, estômago ou axilas, e febre e suores noturnos, de acordo com o Instituto Nacional do Cancro dos EUA.

Problemas na bexiga, no intestino, na pele e neurológicos podem ser sinais de cancro, tais como alterações na audição e visão, convulsões, dores de cabeça e hemorragias ou hematomas sem razão aparente, acrescenta o Instituto. Mas a maioria dos cancros não causa dor no início, pelo que não se pode confiar nisso como um sinal.

“Dizemos aos doentes que se tiverem sintomas que não melhoram após algumas semanas, devem visitar um médico”, explica Kamal. "Isso não significa, no entanto, que o diagnóstico será cancro”.

Casos aumentam em pessoas mais jovens

Em vez de esperar pelos sintomas, a chave para manter o cancro à distância é a prevenção, juntamente com rastreios para detetar a doença nas suas fases iniciais. Isso é fundamental, dizem os especialistas, uma vez que os novos casos de cancro estão a aumentar a nível mundial.

Um número surpreendente de novos diagnósticos está a acontecer em pessoas com menos de 50 anos, de acordo com uma análise feita por cientistas da Universidade de Harvard da investigação disponível em 2022.

Os casos de cancro da mama, cólon, esófago, vesícula, rim, fígado, pâncreas, próstata, estômago e tiróide têm vindo a aumentar desde os anos 90 em jovens de 50, 40 e mesmo 30 anos.

Isto é invulgar para uma doença que atinge tipicamente pessoas com mais de 60 anos, considera Kamal. “O cancro é geralmente considerado uma doença relacionada com a idade, porque se está a dar tempo suficiente para se ter uma espécie de percalço genético".

As células mais velhas experimentam décadas de desgaste devido a toxinas ambientais e escolhas de estilo de vida menos favoráveis, tornando-as candidatas privilegiadas a uma mutação cancerígena.

“Acreditamos que é preciso tempo tempo para que isso aconteça, mas se alguém tem 35 anos quando desenvolve cancro, a questão é 'O que poderá ter acontecido?’", questiona Kamal.

Ninguém sabe exatamente, mas o tabaco, consumo de álcool, poluição do ar, obesidade, falta de atividade física e uma dieta com poucas frutas e vegetais são fatores de risco de cancro, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

Se somarmos esses fatores, temos um potencial culpado pelo advento de cancros precoces, afirmaram os investigadores de Harvard.

"O aumento do consumo de alimentos altamente processados, juntamente com mudanças nos estilos de vida, no ambiente... e outros fatores podem ter contribuído para tais mudanças”, escreveram os investigadores na sua revisão de 2022.

“Não são necessários 65 anos de consumo de carne estaladiça, carbonizada ou processada como dieta principal, por exemplo”, acrescenta Kamal. “O que se precisa é de cerca de 20 anos, e depois começa-se a ver cancros do estômago e colorretais, mesmo em idades jovens".

Então, como é que se luta contra o grande C? Comece na casa dos 20 anos, responde Kamal.

Obtenha a história familiar

Muitos dos cancros mais comuns, incluindo o da mama, do intestino, do estômago e da próstata, são de base genética - o que significa que se um familiar próximo tiver sido diagnosticado, poderá ter herdado uma predisposição para desenvolver também esse cancro.

É por isso que é fundamental conhecer o historial de saúde da sua família. Kamal sugere que os jovens se sentem com os seus avós e outros familiares próximos e lhes perguntem sobre as suas doenças - e depois escrevam-nas.

“A pessoa média não sabe de facto que nível de detalhe é útil na avaliação do risco", diz. “Quando falo com os doentes, o que eles dizem é: 'Oh, sim, a avó teve cancro'. Há duas questões que eu quero saber: com que idade foi diagnosticado o cancro, e que tipo específico de cancro foi? Preciso de saber se ela tinha cancro na casa dos 30 ou 60 anos, porque isso determina o seu nível de risco. Mas muitas vezes as pessoas não sabem".

O mesmo se aplica ao tipo de cancro, diz Kamal.

“As pessoas dizem frequentemente 'a avó tinha cancro nos ossos'. Bem, o mieloma múltiplo e o osteossarcoma são cancros ósseos, mas ambos são relativamente raros”, diz Kamal. "Portanto, não creio que a avó tenha tido cancro ósseo. Penso que a avó teve outro cancro que foi para o osso, e eu preciso de saber isso".

A seguir, os médicos precisam de saber o que aconteceu a esse parente. O cancro foi agressivo? Qual foi a resposta ao tratamento?

“Se souber que a mãe ou a avó foi diagnosticada com cancro da mama aos 40 anos e morreu aos 41, então sei que o cancro foi muito agressivo, e isso muda a minha perceção do vosso risco. Posso acrescentar testes adicionais que não estão nas diretrizes para a sua idade".

As diretrizes para o rastreio do cancro baseiam-se em avaliações a nível populacional, e não no risco individual, diz Kamal. Assim, se o cancro (ou outras doenças como doenças cardíacas, diabetes, Alzheimer ou mesmo enxaquecas) corre na família, torna-se um caso especial e precisa de um plano personalizado.

“E digo-vos, toda a comunidade científica está a observar esta mudança de idades mais jovens em diferentes cancros e pergunta-se: 'Devem as diretrizes ser mais deliberadas e intencionais para que alguns destes conselhos cheguem às populações mais jovens?"

Examine-se a si próprio

Se o historial da sua família estiver livre de cancro, isso reduz o seu risco - mas não o elimina. Pode diminuir a probabilidade de cancro comendo uma dieta saudável, baseada em vegetais, obtendo a quantidade recomendada de exercício e de sono, limitando o consumo de álcool e não fumando, dizem os especialistas.

Proteger-se do sol e dos solários é também fundamental, uma vez que os raios ultravioleta nocivos danificam o ADN nas células da pele e são o principal fator de risco para o melanoma. Contudo, o cancro da pele pode aparecer mesmo onde o sol não brilha, avisa Kamal.

"Tem havido um aumento do melanoma que aparece em áreas não expostas ao sol, tais como a axila, a zona genital e entre os dedos dos pés", diz Kamal. "Por isso é importante verificar - ou ter um parceiro ou dermatologista a verificar - todo o seu corpo uma vez por ano".

Verificação da pele: Tire todas as suas roupas e olhe cuidadosamente para toda a sua pele, incluindo as palmas das mãos, as plantas dos pés, entre os dedos dos pés, as nádegas e na zona genital. Use o método A, B, C, D, E para analisar quaisquer manchas preocupantes e depois consulte um especialista se tiver preocupações.

Consulte também um dermatologista se tiver comichão, hemorragia ou se vir um sinal que pareça “feio” e que se destaque do resto das manchas no seu corpo.

Vacine-se se não o tiver feito: duas vacinas protegem contra cancros cervicais e hepáticos, e outras para cancros como o melanoma estão em desenvolvimento. (…)

[Em Portugal, a Associação de Investigação de Cuidados de Suporte em Oncologia, em parceria com a DGS, lança uma campanha sobre Vacinação e Cancro, cujo conteúdo pode consultar aqui:

“Andreia Capela, presidente da AICSO e médica oncologista no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia – Espinho, EPE, explica também que “há vacinas que previvem o cancro”. Dá como exemplo, a vacina contra o vírus do HPV (vírus do papiloma humano) que está comprovadamente relacionado com vários tipos de cancro: colo do útero (com o HPV a ser responsável por quase 100% dos casos), vagina, ânus, vulva, pénis e orofaringe. O outro exemplo é a vacina contra o vírus da Hepatite B, que pode prevenir o cancro do fígado.”]

A vacina HPV protege contra várias estirpes de papilomavírus humano, a infecção sexualmente transmissível mais comum, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA. O papilomavírus humano pode causar cancro do colo do útero mortal, bem como cancro vaginal, anal e peniano. Pode também causar cancro na parte de trás da garganta, incluindo a língua e as amígdalas.

"Estes cancros da cabeça e pescoço relacionados com o HPV são mais agressivos que os cancros não relacionados com o HPV", diz Kamal, "por isso tanto os rapazes como as raparigas devem ser vacinados".

Desde a aprovação da vacina em 2006 nos EUA para adolescentes dos 11 aos 13 anos de idade, as taxas de cancro do colo do útero diminuíram 87%. Atualmente, a vacina pode ser administrada até aos 45 anos de idade, disse o CDC.

Autoexames mamários: O cancro da mama é o tipo mais comum de cancro diagnosticado em todo o mundo, segundo a OMS, seguido dos cancros do pulmão, colorretal, da próstata, da pele e do estômago.

Tanto homens como mulheres podem contrair cancro da mama, pelo que os homens com antecedentes familiares devem também estar conscientes dos sintomas, dizem os especialistas. Estes incluem dor, vermelhidão ou irritação, covinhas, espessamento ou inchaço de qualquer parte da mama. Novos nódulos, seja na mama ou na axila, qualquer puxão no mamilo e descarga no mamilo que não seja leite materno são também sintomas preocupantes, segundo o CDC.

As mulheres devem fazer um autoexame uma vez por mês e consultar um médico se houver quaisquer sinais de aviso.

Rastreios e testes: os exames em casa e vacinas podem salvar vidas, mas muitos cancros só podem ser detetados através de testes laboratoriais, rastreios ou biópsias.

Fazê-los atempadamente aumenta a possibilidade de deteção precoce e tratamento, mas ainda é da responsabilidade de cada pessoa conhecer os seus fatores de risco, diz Kamal.

“Lembre-se, as directrizes são apenas para pessoas em risco médio", disse ele. "A única forma de alguém poder saber se as directrizes se lhes aplicam é compreender realmente a sua história familiar".

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