Cândido Ferreira, candidato à Presidência da República em 2016, morreu esta terça-feira aos 73 anos, vítima de doença. Natural de Febres, Cantanhede, o médico legou ao município uma vasta e valiosa coleção para integrar um museu que se encontra em construção.
Licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra, em 1973, Cândido Ferreira acabou por ser ali monitor da cadeira de Nefrologia. Como médico participou na primeira transplantação bem-sucedida em Portugal, sob a direção do professor Linhares Furtado.
Especializou-se em Nefrologia com a nota máxima, tendo sido fundador do Colégio de Especialidade da Ordem dos Médicos, criando na zona de Leiria várias clínicas de hemodiálise.
Depois do 25 de Abril filiou-se no PS de Mário Soares e, em 1976, desvinculou-se do partido para ser mandatário-jovem da candidatura de Ramalho Eanes às presidenciais desse ano.
Regressou ao PS como membro da Assembleia Municipal de Leiria, tendo sido o líder da bancada socialista de 1985 a 1989. Foi presidente da distrital do PS em Leiria, de 1991 a 1995, sendo diretor de campanha local de Jorge Sampaio nas presidenciais de 1996. Deixou o Partido Socialista quando, em 2011, se candidatou à liderança e perdeu para o então primeiro-ministro José Sócrates.
Nas presidenciais de 2016, em que se candidatou, ficou conhecido o momento em que abandonou um debate com Marcelo Rebelo de Sousa, Jorge Sequeira e Vitorino Silva, por discordar dos tempos de antena dados a cada candidato.
Deixou a medicina no ano seguinte, tendo continuado ligado ao mundo empresarial, às artes, à cultura e à ciência. Foi autor dos romances “O Senhor Comendador”, “A Paixão do Padre Hilário” e “Setembro Vermelho” e de três livros de crónicas – “Os Burros”, “Esmeralda-Sim!…” e “Pelas Crianças de Portugal”. Os últimos livros que publicou foram “Nos Bastidores da Medicina”, “Estórias deste Mundo e do Outro” e “Covid-19 A Tempestade Perfeita”.
Como defensor do património, impulsionou a criação de um “Museu de Arte e Colecionismo”, em parceria com a Câmara de Cantanhede, doando 700 mil peças que reuniu, estudou e catalogou, e que estão dispersas cerca de uma centena de temáticas: algumas são populares e outras estão ligadas à Bibliografia, ao Dinheiro, à História Postal, à Arqueologia e a diversas Artes Decorativas – como as coleções de pintura portuguesa e de artesanato.
Em 2007 adquiriu uma propriedade em Urra, Portalegre, onde desenvolveu atividades ligadas à agricultura, à pecuária e à hotelaria e onde reunia 800 peças recolhidas, desde a antiguidade até aos nossos dias.