Afinal, três dias depois, voltou o mesmo Chega de sempre - TVI

Afinal, três dias depois, voltou o mesmo Chega de sempre

V Convenção Nacional do Chega (Lusa)

A V Convenção do Chega mostrou um partido a tentar moderar o discurso, para piscar o olho a um eleitorado maior - e alcançar o grande objetivo de chegar ao Governo... até ao discurso final de André Ventura, que relembrou as bandeiras mais antigas (e tentou agradar os amigos da Europa)

Na Convenção em que se consolidou na liderança cada vez mais única do partido, André Ventura insistiu que não viabilizará "geringonças" à direita e que o foco agora é tornar o partido "estável" para "governar Portugal". Mas para isso terá de se polir (e moderar) - e foi isso o que o Chega terá tentado mostrar ao longo de três dias. Até ao discurso final do presidente, que deixou claro que, afinal, o partido é o mesmo de sempre. "Este é o momento em que os assessores vão começar a dizer para cortar", afirmou Ventura. E ele sabe bem porquê.

Ao contrário de convenções anteriores - e de notar que o Chega já teve mais congressos do que anos de vida - o encontro em Santarém surgiu mais polido do que nunca. Desde a própria organização, até à imagem mais moderna e profissional do púlpito (sem nunca abandonar os estandartes do partido e de Portugal), também as intervenções dos delegados surgiram sem grandes surpresas.

Esta é, aliás, uma questão que ficou à porta do CNEMA de Santarém: é que talvez não se tenha levantado poeira porque os delegados que pudessem contestar e agitar as águas - e provavelmente agir contra a estratégia do partido - não foram eleitos para esta convenção.

Perdeu-se na democracia interna, ganhou-se no controlo do discurso. E à falta das posições mais radicais (e momentos bizarros), houve, sim, um pouco de tentativa de stand-up comedy:

De um primeiro congresso em Évora onde se propôs retirar o útero a mulheres que abortassem, passando pela polémica tentativa de acabar com a eleição de delegados em Viseu em 2021 (marcado pela oposição interna e pelas fortes críticas à comunicação social), Santarém viu serem apresentadas - e aprovadas - 23 moções temáticas que indicavam a necessidade de repovoar o interior, erradicar a pobreza ou apoiar as estruturas locais do partido.

Duas das moções foram aprovadas com apenas uma abstenção e nenhum voto contra: a que coloca as “principais preocupações políticas” dos jovens do partido, para servirem “de base para as propostas a defender e apresentar no futuro”, e a que fala em “unir o partido no combate ao socialismo”.

Nas várias intervenções, ouviram-se declarações contra a “onda de revisionismo histórico” da “esquerda bem pensante”, em defesa das Forças Armadas ou dos professores. Mas foi sobretudo o elogio ao presidente do partido que mais se fez notar. Aliás, um militante até apelidou André do “verdadeiro antivírus” contra os interesses instalados. 

Sangue, suor e lágrimas (e amigos da Europa)

Aparentemente mais polido, o Chega continua a ser André Ventura. E André Ventura continua a procurar consolidar o partido. Houve, aliás, mudanças subtis até na forma de se dirigir aos militantes: a trilha sonora apoteótica, por exemplo, (que era uma constante a cada chavão) surgiu cada vez menos. Permaneceu, contudo, o discurso agregador de vitimização coletiva e bandeiras que sabe que vão galvanizar o público - e que não abdica, como o tema da corrupção e as críticas ao governo socialista. Mas há outro alvo: o PSD.

"Eu quero que todos compreendam que a mensagem que sai deste congresso é uma e só uma: nós queremos ser Governo em Portugal, mas não estamos dispostos a 'geringonças' de direita porque elas nunca funcionaram e connosco também não vão funcionar", salientou, defendendo que, após as próximas eleições legislativas, "a direita terá uma escolha: ou há governo com o Chega ou não há governo de todo". Ventura não quer acordos parlamentares, mas pastas serão outra conversa.

Recusando que o partido esteja “mais moderado”, André Ventura considerou que “há um grande amadurecimento político" e "um grande amadurecimento institucional, uma grande participação" no final desta Convenção. 

Mas André Ventura viria a mostrar que o Chega, afinal, não se moderou assim tanto. No último discurso, proferiu pela primeira vez na Convenção as bandeiras antigas mais radicais: com expressões como "portugueses de bem", "linhas LGBT mais qualquer coisa" e "subsidiodependentes", em vez de piscar o olho a um eleitorado maior, agradou aos amigos da Europa que estavam presentes.

Na plateia, estava a extrema-direita europeia, representada em força por vários dirigentes - que interviram com discursos acesos - entre os quais Jordan Bardella, que sucedeu a Marine Le Pen como líder do partido francês Rassemblement National. Também falou Tino Chrupalla, do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), Geert Wilders, do Partido da Liberdade (PVV), dos Países Baixos, Tom Van Grieken, do Vlaams Belang (VB), da região belga da Flandres, e Boris Kollar, do movimento eslovaco Sme Rodina (Somos Família). Também Rocio Monasterio, líder do Vox em Madrid, Espanha, Kinga Gál, vice-presidente do Fidesz, partido no poder na Hungria, e Cláudiu Tarziu, da Aliança para a União dos Romenos (AUR) marcaram presença.

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