A China está a combater o calor e a seca com uma velha técnica: “semear” nuvens - TVI

A China está a combater o calor e a seca com uma velha técnica: “semear” nuvens

  • CNN
  • Shawn Deng, Wayne Chang, Simone McCarthy e Reuters
  • 18 ago 2022, 22:00
China

Aviões chineses estão a disparar varas para o céu, para trazer mais chuva para o rio Yangtze, que já secou nalgumas zonas, enquanto algumas áreas do país enfrentam a seca e a pior onda de calor registada até agora.

Várias regiões em Yangtze lançaram programas de modificação climática, mas com nuvens tão finas, as operações nalgumas partes da bacia do rio devastadas pela seca ficaram em suspenso.

O Ministério dos Recursos Hídricos disse em comunicado, na quarta-feira, que a seca em toda a bacia hidrográfica do rio Yangtze estava "a afetar negativamente a segurança da água potável para as pessoas e animais nas zonas rurais e o crescimento das culturas".

Na quarta-feira, a província de Hubei, no centro da China, anunciou que iria “semear” nuvens, usando varas de iodeto de prata para induzir a chuva.

As varas de iodeto de prata, que normalmente são do tamanho de cigarros, são disparadas para as nuvens existentes, para ajudar a formar cristais de gelo. Os cristais ajudam então a nuvem a produzir mais chuva, aumentando o seu teor de humidade e facilitando a sua libertação.

A sementeira de nuvens tem sido praticada desde a década de 1940, e a China tem o maior programa do mundo. Usaram este método antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, para garantir o tempo seco para o evento, e a técnica também pode ser usada para induzir a queda de neve ou suavizar o granizo.

Pelo menos 4,2 milhões de pessoas de Hubei foram afetadas por uma seca severa desde junho, informou esta terça-feira o Departamento Provincial de Gestão de Emergências de Hubei. Mais de 150 mil pessoas têm dificuldades de acesso a água potável e quase 400 mil hectares de culturas foram danificadas devido às altas temperaturas e à seca.

O Yangtze é apenas um dos muitos rios e lagos do Hemisfério Norte que estão a secar e a desaparecer, com o calor implacável que se faz sentir e a baixa pluviosidade, tal como o Lago Mead nos Estados Unidos e o rio Reno na Alemanha. Estas condições climáticas extremas foram agravadas pela crise climática induzida pelo Homem, impulsionada pela queima de combustíveis fósseis.

Muitas vezes, as comunidades dependem destas massas de água para a atividade económica e os governos têm de intervir com medidas de adaptação e fundos de assistência de avultadas quantias.

A China está a mobilizar esses fundos e a desenvolver novas fontes de abastecimento para atenuar o impacto sobre as colheitas e os animais. Alguns animais foram temporariamente transferidos para outras regiões, informou o Ministério das Finanças no início desta semana, acrescentando que emitiria 300 milhões de yuan (43,74 milhões de euros) em ajuda de emergência.

Para aumentar o abastecimento, a Barragem das Três Gargantas, o maior projeto hidroelétrico da China, também aumentará as descargas de água em 500 milhões de metros cúbicos nos próximos dez dias, segundo o Ministério dos Recursos Hídricos.

O calor também obrigou as autoridades desta província a sudoeste de Sichuan - onde vivem cerca de 84 milhões de  pessoas e é um importante centro de produção - a ordenar o encerramento de todas as fábricas durante seis dias esta semana, para atenuar o problema da  falta de energia.

Onda de calor "mais longa" e "mais forte"

A China emitiu na quarta-feira o alerta vermelho de calor para pelo menos 138 cidades e municípios de todo o país, e outros 373 foram colocados em alerta laranja, segundo a Administração Meteorológica.

As crianças lutam contra o calor, num condomínio fechado da cidade de Huzhou, na província chinesa de Zhejiang, a 12 de agosto de 2022.

Até segunda-feira, a onda de calor na China tinha durado 64 dias, tornando-se a mais longa em mais de seis décadas, desde que começou a haver registos completos, em 1961, informou o Centro Nacional do Clima num comunicado. Também disseram que era a "mais forte" de que há registo e alertaram que poderia piorar nos próximos dias.

"Desta vez, a onda de calor é prolongada, abrangente e intensa", pode ler-se no comunicado. "Juntando todos os indícios, a onda de calor na China vai continuar a fazer-se sentir e a sua intensidade aumentará."

Nesta onda de calor, o maior número de municípios e cidades, desde que há registo, excederam os 40 graus Celsius. O número de estações meteorológicas que registam temperaturas de 40 ºC ou mais atingiu os 262, também o mais elevado. Oito estações atingiram os 44 ºC.

Prevê-se que continue a haver temperaturas persistentemente elevadas na Bacia de Sichuan e em grandes áreas do centro da China, até 26 de agosto.

Um "caso especial" de altas pressões do anticiclone subtropical do Pacífico Ocidental, que se estende por grande parte da Ásia, é a causa provável do calor extremo, disse Cai Wenju, investigador climático do CSIRO, o Instituto Nacional de Investigação Científica da Austrália.

Larry Register, Angela Dewan e Laura He da CNN contribuíram para este artigo.

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