China anuncia aumento de 7,2% nos gastos militares e promete lutar "resolutamente" contra a independência de Taiwan - TVI

China anuncia aumento de 7,2% nos gastos militares e promete lutar "resolutamente" contra a independência de Taiwan

  • Agência Lusa
  • CF
  • 5 mar 2023, 08:32

Investimento na Defesa preocupa Estados Unidos, que temem uma possível invasão de Taiwan. O primeiro-ministro Li Keqiang garantiu este domingo que a China vai "lutar resolutamente" contra a independência do território

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A China vai aumentar este ano as despesas militares em 7,2%, ligeiramente acima do acréscimo realizado no ano passado, anunciou este domingo o primeiro-ministro Li Keqiang, na abertura da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN).

Trata-se do oitavo ano consecutivo de aumentos percentuais de um dígito, no que é agora o segundo maior orçamento militar do mundo.

O país asiático destinou um total de 1,45 biliões de yuan (215 mil milhões de euros) para a Defesa, no ano passado – cerca de o dobro face a 2013. Os aumentos anuais consistentes ao longo de duas décadas permitiram que o Exército de Libertação Popular (ELP), que tem dois milhões de efetivos, aumentasse as suas capacidades em todas as categorias.

Além de ter o maior exército permanente do mundo, a China tem a maior marinha do mundo e recentemente lançou o seu terceiro porta-aviões. O país asiático possui uma enorme reserva de mísseis, caças, navios de guerra capazes de lançar armas nucleares, navios de superfície avançados e submarinos movidos a energia nuclear.

No relatório de trabalho do Governo, apresentado no Grande Palácio do Povo, junto à praça de Tiananmen, em Pequim, perante os cerca de três mil delegados da APN, Li Keqiang enfatizou a “liderança absoluta” do Partido sobre as “Forças Armadas do povo”.

“As Forças Armadas do povo intensificaram os esforços para aumentar a sua lealdade política, fortalecerem-se através de reformas, avanços científicos e tecnológicos, treino de pessoal e uma governação com base na lei”, disse.

Li mencionou o que designou de “grandes conquistas” na defesa nacional e no desenvolvimento militar que tornaram o ELP numa “força de combate mais modernizada e capaz”.

O primeiro-ministro chinês citou a contribuição do Exército para a defesa da fronteira, proteção dos direitos marítimos, combate ao terrorismo, manutenção da estabilidade, operações de resgate em desastres, escolta de navios comerciais e aplicação da política de ‘zero casos’ de covid-19, que incluiu o bloqueio de cidades, quarentenas e outras medidas coercivas.

“Devemos consolidar e aprimorar a integração das estratégias nacionais e as capacidades estratégicas e intensificar a capacitação em ciência, tecnologia e indústrias relacionadas com a defesa nacional”, apontou Li.

Isto inclui a promoção do “apoio mútuo entre setores civis e militares”, disse.

Tensões intensificam-se com Estados Unidos (mas Pequim garante que não vai fornecer armas à Rússia)

A China gastou 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto) nas suas Forças Armadas, em 2021, de acordo com o Banco Mundial. Em comparação, os Estados Unidos, que mantêm diferentes sistemas de alianças no exterior, gastaram 3,5%.

Embora não esteja a crescer mais a taxas percentuais anuais de dois dígitos, como no passado, os gastos da China com a Defesa continuam a ser relativamente altos, apesar do crescente nível de endividamento do Governo e de uma economia que cresceu no ano passado ao segundo menor ritmo nas últimas quatro décadas.

Pequim diz que a maior parte do aumento dos gastos é destinado a melhorar o bem-estar das tropas, mas o ELP expandiu muito a sua presença no exterior nos últimos anos.

A China já estabeleceu uma base militar em Djibuti, no Corno de África, e está a modernizar a Base Naval de Ream, no Camboja, que lhe pode dar pelo menos uma presença semipermanente no Golfo da Tailândia, de frente para o disputado mar do Sul da China.

O esforço de modernização gerou preocupações entre os Estados Unidos e aliados, que temem que a China invada Taiwan. Pequim reivindica o território, que funciona como uma entidade política soberana, como uma província sua, que deve ser reunificada à força, caso seja necessário.

Isto suscitou a realização de várias vendas de armas para a ilha, incluindo sistemas terrestres, mísseis de defesa aérea e caças F-16. A ilha alargou recentemente o serviço militar obrigatório de quatro meses para um ano e está a revitalizar as suas próprias indústrias de defesa, incluindo a construção de submarinos, pela primeira vez.

Sobre Taiwan, Li Keqiang disse que o governo seguiu a “política geral do Partido [Comunista] para a nova era” e prometeu “lutar resolutamente contra o separatismo e a interferência [estrangeira]”.

As tensões têm aumentado com os EUA também devido à militarização de ilhas no mar do Sul da China, que Pequim reivindica praticamente na sua totalidade, e, mais recentemente, o abate de um alegado balão de espionagem chinês na costa leste dos EUA.

A enorme capacidade industrial da China e os enormes gastos da Rússia em projéteis de artilharia e outros materiais na sua guerra contra a Ucrânia levantaram preocupações de que Pequim possa fornecer assistência militar a Moscovo.

Numa resposta por escrito a perguntas da agência Lusa, o Governo chinês negou esta semana que tenciona fornecer armas à Rússia.

“A China não vai realizar qualquer venda militar a partes beligerantes ou para áreas em conflito”, afirmou o ministério dos Negócios Estrangeiros do país asiático. Pequim “teve sempre uma atitude prudente e responsável” na exportação de armas e equipamento militar, acrescentou.

China promete lutar “resolutamente” contra independência de Taiwan

A China vai lutar “resolutamente” contra a “independência” de Taiwan e “em prol da reunificação da pátria”, assegurou este domingo o primeiro-ministro cessante, Li Keqiang, na abertura da sessão plenária da Assembleia Popular Nacional.

“Temos de executar a estratégia do Partido Comunista (PCC) na questão de Taiwan, ou seja, lutar resolutamente contra a 'independência' [do território] e pela reunificação da pátria”, disse Li, na apresentação do relatório de trabalho do Governo, no Grande Palácio do Povo, em Pequim.

A China considera Taiwan parte do seu território, e não uma entidade política soberana, e ameaça usar a força para assumir controlo sobre a ilha. O território é também fonte de tensões entre Pequim e Washington, o principal aliado e fornecedor de armas de Taipé.

Em agosto passado, a visita a Taipé da ex-presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos Nancy Pelosi gerou fortes protestos por parte do Governo chinês, que considerou a viagem uma provocação e lançou exercícios militares em torno da ilha, numa escala sem precedentes.

“Vamos promover o desenvolvimento pacífico das relações no Estreito [de Taiwan], visando impulsionar um processo de reunificação pacífica”, apontou Li. “Devemos promover a cooperação económica e cultural entre os dois lados e políticas destinadas a melhorar o bem-estar dos compatriotas taiwaneses”, acrescentou.

Segundo o relatório do trabalho do Governo apresentado por Li Keqiang, o Partido Comunista está numa “grande luta contra a secessão” e a “interferência” externa em Taiwan. Pequim critica frequentemente Washington por interferir nos assuntos internos ao fornecer armamento e manter contactos oficiais com Taiwan.

Li afirmou que a China vai permanecer “comprometida com uma política externa independente e com a paz”.

“Vamos continuar com a nossa estratégia de abertura para benefício mútuo e trabalhar para salvaguardar a paz mundial, contribuir para o desenvolvimento global e manter a ordem internacional”, afirmou.

O primeiro-ministro cessante não mencionou a guerra na Ucrânia, mas enfatizou que as iniciativas de Segurança e Desenvolvimento Global da China visam “promover valores compartilhados pela humanidade”.

A "Iniciativa de Segurança Global" é um projeto anunciado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em abril de 2022, que se opõe ao uso de sanções no cenário internacional ou ao que Pequim considera “unilateralismo”, “confronto entre blocos” ou “mentalidade de guerra fria”, numa crítica implícita à política externa dos Estados Unidos.

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