"Um caos total". Quarentena forçada leva trabalhadores da maior fábrica de iPhones do mundo a fugir a meio da noite - TVI

"Um caos total". Quarentena forçada leva trabalhadores da maior fábrica de iPhones do mundo a fugir a meio da noite

  • CNN Portugal
  • NM
  • 1 nov 2022, 16:30
Foxconn, a maior produtora de iPhones do mundo (Imagem Getty)

Fugitivo garante que não quer voltar para a Foxconn e que os responsáveis “não têm humanidade”. Houve quem caminhasse mais de 200 quilómetros só para chegar a casa

É a maior fábrica de iPhones do mundo e sofreu um êxodo de trabalhadores no último fim de semana. A Foxcoon, no centro da China, está a ser o epicentro de um surto de covid-19 e vários colaboradores optaram por fugir do recinto sem serem detetados a meio da noite em resposta à quarentena forçada que foi implementada.

De acordo com o Financial Times, o enorme complexo situado na cidade de Zhengzhou, onde os trabalhadores dizem que está a ser produzido o iPhone 14 da Apple, é o mais recente centro de produção a ser prejudicado pelas rígidas políticas de covid zero do presidente chinês Xi Jinping.

"Um caos total nos dormitórios"

O Financial Times entrevistou cinco funcionários que garantem que foram mantidos trancados nos dormitórios durante os últimos dias numa quarentena forçada. Para além disto, alimentos e material médico começam a escassear no interior do complexo, o que levou centenas de trabalhadores a fugir a pé, no último fim de semana.

“Foi um caos total nos dormitórios”, realça Xia, de 22 anos. A jovem funcionária descreve que o grupo de fugitivos “saltou uma cerca de plástico e de seguida uma de metal para sair do recinto”.

Em períodos em que a covid-19 não se faz sentir, milhares de trabalhadores montam iPhones nesta fábrica, que é administrada pela Foxconn, que posteriormente encaminha os aparelhos para os quatro cantos do planeta. Só em 2019, a fábrica exportou 32 mil milhões de dólares (32,4 milhões de euros) e foi a terceira maior exportadora da China, de acordo com o ministério do comércio chinês. Situada na província de Henan, há muito que a fábrica da Foxconn atrai jovens trabalhadores de toda a região e é frequente os funcionários recrutarem conhecidos.

“Nunca vou voltar para a Foxconn”

Todavia, no domingo, tudo mudou e levou mesmo as autoridades locais a esforçarem-se para organizar autocarros que levassem estes trabalhadores fugitivos para casa e para o “centro de quarentena fabril”, mas só depois de imagens de trabalhadores a vaguear pelas ruas com sacos às costas terem inundado as redes sociais chinesas. O Financial Times confirma que observou centenas de trabalhadores a pedir boleias para chegarem a casa.

“Nunca vou voltar para a Foxconn”, conta Xu, que escapou da fábrica às 2:00 de domingo. “Não têm humanidade”, o jovem trabalhador e quatro amigos caminharam mais de 200 quilómetros até às suas casas no condado de Xin’an.

As autoridades de Zhengzhou garantiram, nas redes sociais, que iriam começar a disponibilizar transportes para que os trabalhadores regressassem a casa. “A Foxconn vai assegurar um fácil e seguro regresso a casa a todos os funcionários”, pode ler-se também.

"Estou preso aqui”

Segundo a autarquia, a Foxconn prometeu ainda que iria “melhorar as condições de vida e trabalho” de todos os empregados que quisessem permanecer nas instalações.

“Uma colega minha foi colocada em quarentena. A minha irmã mais velha está trancada no dormitório”, disse Cao Zhiqiang, um funcionário da linha de montagem da fábrica, que acabou por desabafar: “a minha casa é demasiado longe para correr, portanto, estou preso aqui”.

Todavia, Cao disse que, até ao fim de semana, a linha de produção tinha continuado a fabricar iPhones e que iria voltar ao trabalho esta segunda-feira de manhã.

A Foxconn não respondeu a nenhuma das questões colocadas pelo Financial Times.

Fábrica aumenta bónus para evitar fuga de funcionários

Entretanto, a fábrica prometeu quadruplicar o bónus dos funcionários que permaneçam nas instalações, após a divulgação das notícias com os relatos dos trabalhadores. A empresa anunciou esta terça-feira, através da sua conta oficial na rede social chinesa WeChat, que pagaria um bónus diário de 400 yuans (cerca de 55 euros) por dia de trabalho - quatro vezes o valor habitual.

O pessoal também vai receber um bónus adicional caso permaneçam na fábrica por pelo menos 15 dias em novembro e um bónus de até 15.000 yuans (2.075 euros), caso permaneçam nas instalações durante todo o mês.

A Foxconn garantiu ainda estar a “cooperar com o governo para organizar pessoal e veículos” e permitir que os funcionários saiam se assim o desejarem.

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