Jovens que "querem lutar e querem morrer". Como o Batalhão de Jenin está a mudar a luta contra Israel na Cisjordânia - TVI

Jovens que "querem lutar e querem morrer". Como o Batalhão de Jenin está a mudar a luta contra Israel na Cisjordânia

Nova geração de militantes palestinianos deixou de respeitar hierarquias tradicionais e não tem medo de morrer. Israel pressiona e faz incursões quase diárias na cidade de Jenin, uma das principais fontes de violência na Cisjordânia ocupada

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O porta-voz do presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, chamou-lhe "um massacre" a acontecer perante "silêncio internacional": esta quinta-feira, dez pessoas morreram no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia, entre os quais uma mulher de 60 anos, atingida com tiros no pescoço quando espreitava à janela para perceber o que se passava. Era mais uma ação das forças israelitas em Jenin, reduto de militantes da Palestina na Cisjordânia ocupada, e que nos últimos meses tem sido alvo de sucessivos ataques de Israel.

Desde o ano passado, o mais violento desde 2006 e que terminou com 170 palestinianos mortos, Jenin e a cidade vizinha de Nablus têm sido uma das principais fontes de violência na Cisjordânia ocupada, abrigando um grande movimento de milícias ligadas a várias fações, incluindo o Hamas e a Jihad islâmica. O vice-governador de Jenin, Kamal Abu al-Rub, disse mesmo à AFP que os residentes vivem num "real estado de guerra" e que as forças israelitas estão a destruir tudo e "a disparar contra tudo que mexe". 

Atualmente, assiste-se à sequência mais mortífera no conflito israelo-palestiniano desde agosto de 2022, quando, em três dias, a violência entre o exército israelita e a Jihad islâmica em Gaza matou pelo menos 49 palestinianos, entre combatentes e civis.

Reagindo ao mais recente ataque, Saleh al-Arouri, alto responsável do Hamas - o movimento islamista palestiniano que é considerado uma organização terrorista pela União Europeia e EUA - garantiu que "a resposta da resistência" não se fará esperar. E o líder da Autoridade Palestiniana (AP) declarou que a coordenação de segurança com as autoridades de Israel "deixou de existir", à luz das repetidas agressões. 

Mas a própria Autoridade Palestiniana, legado do processo de paz de Oslo da década de 90 do século passado, está a perder influência e o controlo das cidades de Jenin e Nablus: desde o final de 2021 que as forças de segurança da AP deixaram de ser bem-vindas às duas cidades do norte da Cisjordânia ocupada e a sua liderança, dominada pela Fatah - partido do presidente Abbas - é acusada de estar à margem do que se passa nas ruas. Muitos olham para a organização como uma empresa de segurança para a ocupação israelita, uma vez que a coordenação com Israel passava pela partilha de informação sobre militantes e permitir as operações israelitas cujo objetivo fossem detenções entre os radicais.

Jovens que querem "lutar e morrer"

Nas ruas de Jenin e Nablus há uma nova liderança que emerge: segundo os meios de comunicação internacionais, a nova geração de militantes nestes redutos rejeita a Autoridade Palestiniana, que permite as detenções do Hamas e dos militantes da Jihad islâmica, e está a perder os laços com as organizações estabelecidas. 

"Isto é diferente. Estas são pessoas que querem lutar e querem morrer", disse à BBC um jornalista israelita infiltrado nas operações especiais das Forças de Defesa de Israel (IDF). 

Os novos militantes autointitulam-se de "Batalhão de Jenin" e, em Nablus, "Covil do Leão". Têm uma base importante de seguidores nas redes sociais, nomeadamente no TikTok e no Telegram, onde aparecem com armas de fabrico americano, que serão traficadas da Jordânia ou roubadas e vendidas de bases militares israelitas. Muitos são demasiado jovens para terem memória do que aconteceu em abril de 2002, no pico da segunda Intifada: Israel lançou uma incursão que ficou conhecida como a Batalha de Jenin, na qual morreram 52 civis e militantes palestinianos, bem como 23 soldados israelitas. O campo de refugiados de Jenin foi quase todo destruído e as histórias dos palestinianos que repeliram as forças inimigas fazem parte da memória coletiva local, inspirando os mais novos que hoje pegam em armas para lutar contra Israel.

As forças israelitas, do seu lado, garantem apenas que têm evitado ataques a civis. Isaac Herzog, o presidente de Israel, acusou mesmo um "esquadrão terrorista" de estar a tentar atacar o seu país e a expectativa é de que as agressões continuem de parte a parte: o exército israelita, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, tem realizado incursões quase diárias no território palestiniano.

Anthony Blinken, o secretário de Estado norte-americano, chega a Israel na próxima segunda-feira, para reiterar a solução dos dois estados que tem sido defendida pela comunidade internacional, com Jerusalém como capital partilhada. O presidente palestiniano, Mahmud Abbas, pediu mesmo aos Estados Unidos que interviessem para "travar as medidas extremistas e a agenda racista" do novo governo israelita.

Mas em Israel, onde a nova coligação de Benjamin Netanyahu está a braços com os protestos contra o governo mais à direita da história, a pressão dos EUA pode encontrar portas fechadas: o programa do novo executivo, que entrou em funções no final de dezembro de 2022, prevê a criação de mais colonatos nas terras ocupadas da Palestina e garante às forças de segurança na Cisjordânia maior margem para recurso à violência. "O governo vai esforçar-se por fortalecer as forças de segurança e apoiar a polícia no sentido de combater e derrotar o terrorismo", lia-se no documento, apresentado no final do ano passado.

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