O consumo de água aumentou cerca de 1% ao ano nos últimos 40 anos, impulsionado pelo crescimento da população e pela alteração dos padrões de consumo, de acordo com o Relatório da ONU sobre o Desenvolvimento Mundial da Água publicado terça-feira, na véspera de uma grande cimeira da ONU sobre a água em Nova Iorque.
Até 2050, o número de pessoas nas cidades que enfrentam escassez de água deverá quase duplicar, passando de 930 milhões de pessoas em 2016 para 2,4 mil milhões, antecipa o relatório. Prevê-se que a procura de água em zonas urbanas aumente em 80% até 2050.
Sem ações para resolver o problema da escassez de água, "haverá definitivamente uma crise global", disse Richard Connor, o principal autor do relatório, numa conferência de imprensa para divulgar o relatório.
“Consequências desastrosas”
O acesso à água já é um enorme problema. Dois mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 3,6 mil milhões não têm acesso a saneamento gerido com segurança, de acordo com o relatório.
Cerca de 10% da população mundial já vive em países com stress hídrico elevado ou crítico.
O crescimento urbano e industrial e a agricultura estão a agravar a escassez existente, sendo que só a agricultura utiliza até 70% do abastecimento mundial de água, disse Connor.
A escassez sazonal de água deverá aumentar em áreas onde a água é atualmente abundante, incluindo na África Central, Ásia Oriental e partes da América do Sul. Ao mesmo tempo, a escassez irá agravar-se no Médio Oriente e na região do Sahel em África, onde já há falta de água.
As secas extremas e prolongadas, tornadas mais frequentes e severas pela crise climática, estão também a exercer pressão sobre os ecossistemas, o que pode ter "consequências terríveis" para as espécies vegetais e animais, disseram os autores do relatório.
As soluções incluem uma melhor cooperação internacional para evitar conflitos sobre a água, disse Connor.
O controlo das cheias e da poluição, a partilha de dados e os esforços para reduzir os níveis de poluição que aquece o planeta deveriam "abrir a porta a uma maior colaboração e aumentar o acesso aos fundos de água", argumentou.
"Há uma necessidade urgente de estabelecer mecanismos internacionais fortes para evitar que a crise mundial da água fique fora de controlo", disse Audrey Azoulay, a directora geral da UNESCO, o organismo cultural da ONU.
"A água é o nosso futuro comum, e é essencial agir em conjunto para a partilhar equitativamente e geri-la de forma sustentável".