As colegas de trabalho que se apaixonaram quando partilharam um quarto de hotel - TVI

As colegas de trabalho que se apaixonaram quando partilharam um quarto de hotel

  • CNN
  • Francesca Street
  • 1 jan 2023, 09:00
Ida Skibenes e Hanna Aardal eram colegas de trabalho e melhores amigas. As duas amigas norueguesas foram, por acaso, destacadas juntas para um quarto de hotel num retiro de empresa no Hotel Solstrand e a relação desenvolveu-se.

Ida Skibenes e Hanna Aardal eram colegas de trabalho e melhores amigas. As duas amigas norueguesas foram, por acaso, destacadas juntas para um quarto de hotel num retiro de empresa no Hotel Solstrand e a relação desenvolveu-se

Quando Ida Skibenes parou à porta do Hotel Solstrand, tinha o estômago às voltas, entre os nervos e a excitação. O Solstrand é um dos hotéis mais bonitos da Noruega, localizado nos arredores de Bergen, emoldurado por fiordes e com mais de 125 anos de história.

"Quase parece um castelo amarelo. É muito bonito. E é um sítio muito sossegado, não há trânsito, e fica perto do mar", diz Ida à CNN Travel.

Todos os anos, a empresa onde Ida trabalha, com sede em Bergen, transferia-se em peso para a paisagem de sonho de Solstrand para alguns dias de trabalho remoto. Nesse ano, 2014, era o primeiro da Ida na empresa. Os seus colegas tinham-na encantado com histórias de Solstrand e ela estava entusiasmada. Mas a excitação dela não tinha realmente que ver com uma fuga da cidade para relaxar entre as montanhas. Tinha que ver com Hanna Aardal.

Hanna era colega de trabalho de Ida. Quando Ida começou a trabalhar na empresa, a empatia rapidamente se instalou entre ambas, mas estavam em fases diferentes nas suas vidas. Nessa altura, Ida era casada, e estava centrada na sua relação e no novo emprego. Entretanto, Hanna era mãe solteira e a filha adolescente tinha acabado de se mudar para os EUA para estudar durante um ano.

Mas à medida que os meses passavam, as suas circunstâncias mudaram.  A relação de Ida desmoronou-se e ela passou por um divórcio. Hanna ajustou-se à ausência da filha, e começou a passar mais tempo a conviver com colegas de trabalho. Com o tempo, Hanna e Ida aproximaram-se.

"As nossas energias combinavam", descreve Ida. "Era sempre mais divertido estar no trabalho quando a Hanna estava a trabalhar."

"Acho que tínhamos o mesmo tipo de humor, por isso tornámo-nos amigas rapidamente", diz Hanna.

Hanna e Ida começaram a trabalhar juntas num divertido projeto paralelo, um pequeno documentário humorístico ao estilo de "O Escritório" (The Office), mostrando as peculiaridades do local de trabalho delas. O filme iria ser exibido no retiro de Solstrand.

O histórico Hotel Solstrand, na Noruega, desempenhou um papel importante na relação de Hanna e Ida. (Solstrand/Montag)

As duas trabalharam no projeto nas horas vagas, e começaram a jantar e a beber um copo juntas regularmente. Enviavam mensagens regularmente, muitas vezes trocando mensagens de boa noite.

Refletindo sobre este período atualmente, Ida e Hanna sugerem que já estavam "a namorar sem se aperceberem".

"Estava habituada a namorar com homens, e nunca tinha tido uma relação com uma mulher", diz Hanna. "Olhando para trás, é óbvio que tínhamos sentimentos uma pela outra."

Ida não sabia se Hanna estaria aberta a namorar com uma mulher. E não sabia se os seus sentimentos eram correspondidos ou se era tudo da cabeça dela. Ainda assim, Ida sentiu que havia sinais que sugeriam que a relação era algo mais.

Umas semanas antes da viagem para Solstrand, as duas tinham ficado acordadas até tarde em casa da Hanna a conversar. Quando, às 2 da manhã, Ida sugeriu que devia para casa, Hanna pegou-lhe na mão e pediu-lhe para não ir. Pareceu um "ponto de viragem", pelo menos para Ida. Mas foi para casa. Tinham estado a beber e sentiu que aquela conversa teria de decorrer noutras circunstâncias.

Solstrand, decidiu Ida, seria a oportunidade perfeita. Especialmente quando Ida e Hanna foram escolhidas ao acaso para ficarem no mesmo quarto.

"Eu sentia algo pela Hanna, definitivamente tinha uma paixoneta por ela", diz Ida. "Mas se era tudo fruto na minha imaginação, teria de esclarecer. E íamos trabalhar juntas. Por isso pensei que, se ficámos no mesmo quarto, isso é sinal para eu tomar uma atitude."

Além disso, Solstrand era um cenário belo e romântico.

"Pelo menos se ela me rejeitasse, eu não estaria numa espelunca algures. Continuaria a estar num belíssimo hotel", brinca Ida.

Cartas na mesa

Hanna (esquerda) e Ida tornaram-se amigas próximas no que culminou no retiro da empresa no hotel Solstrand (Foto: cortesia)

Ida falou no assunto no fim do primeiro dia em Solstrand. A noite ia avançada, e as duas mulheres estavam deitadas em camas separadas.

A resposta de Hanna surpreendeu as duas.

"Eu ia começar a dizer 'Sei que nos tornámos amigas próximas e assim, gosto de ti como amiga.'  Mas depois, enquanto o dizia, apercebi-me de que “claro, é mais do que isso", recorda Hanna.

"Passei-me quando ela me disse aquilo", diz Ida. "Espera lá. Isto não está a acontecer."

Após o choque inicial, a conversa continuou.

"Conversámos, beijámo-nos. E depois, acalmámo-nos e decidimos que acabaríamos por resolver tudo", conta Ida.

No dia seguinte, Ida e Hanna estiveram ocupadas com um dia agitado de reuniões e apresentações. Elas não abordaram o que acontecera na noite anterior, mas era tradição na empresa todos apresentarem cartões de felicitações aos colegas de quarto de Solstrand no fim da viagem.

Nos cartões de Ida e de Hanna, elas descreveram os seus sentimentos crescentes por escrito. E Ida, exultante, enviou uma mensagem aos amigos chegados a dar a notícia.

"Mandei uma mensagem com três polegares para cima, 'Curtimos!'" diz Ida.

"Mas além disso, não falámos disso durante muito tempo."

Solstrand está rodeado por fiordes e montanhas norueguesas. (Solstrand/Montag)

Hanna precisava de algum tempo para aceitar os novos sentimentos.

"Já tinha tido algumas relações, mas tinha sido mãe solteira principalmente e muito autossuficiente de certa forma, e não muito boa em relações próximas. Portanto acho que foi realmente assustador e emocionante ao mesmo tempo, e confuso ".

Ida e Hanna também sabiam que não estavam apenas a pôr em risco uma amizade, mas também uma relação laboral. Para Hanna, tudo isto aumentava a sua apreensão.

"Acho que tinha medo de estragar as coisas entre nós", diz Hanna. "Como trabalhávamos juntas, se eu fizesse asneira teria consequências maiores, e eu achava que faria algures no tempo."

Ida e Hanna aproximaram-se lentamente, mas foram-se tornando ainda mais próximas. Seis meses depois da conversa em Solstrand, as duas estavam noutra viagem de trabalho, e decidiram que estavam prontas para contar aos colegas. Mais tarde, em Bergen, Hanna partilhou a notícia com a filha.

"Ela ficou muito feliz por nós", diz Hanna, recordando que a filha brincou dizendo que seria estranho ter um homem numa casa de mulheres.

"Ela assumiu-se perante nós dois anos depois, portanto é uma família muito gay", acrescenta Hanna.

Ida pediu Hanna em casamento numa visita de regresso a Solstrand. (Solstrand/Montag)

Hanna e Ida foram viver juntas em 2016, pouco depois de partilharem a notícia da relação com os entes queridos. Começaram a falar sobre casamento, e decidiram que, quando a altura certa surgisse, seria Ida a fazer o pedido de casamento.

"Adoro surpresas e a Ida odeia surpresas", explica Hanna.

Ida sabia exatamente onde queria fazer o pedido de casamento: em Solstrand. Três anos depois de terem expressado os seus sentimentos em voz alta pela primeira vez, Ida e Hanna estavam de volta ao hotel histórico no retiro anual da empresa. A empresa tinha acabado de transmitir o tradicional documentário humorístico do escritório quando Ida interrompeu.

"Ela levantou-se à frente de toda a gente e disse: 'Há outro vídeo' e deu-me uma caixa de lenços de papel porque sou uma chorona, estou sempre a chorar. E ela tinha feito um vídeo muito amoroso e romântico com música, a retratar a nossa relação, que acabava com o pedido."

 A limpar lágrimas de felicidade, Hanna disse que sim.

"Teria sido muito embaraçoso se não o tivesse feito", brinca hoje.

Hanna e Ida ficaram noivas no hotel Solstrand e casaram-se em Bergen em 2022. (Ragnhild Storsletten Åse)

"Estava muito nervosa", recorda Ida. "Talvez tenha dito a algumas pessoas antes de irmos, mas cinco minutos antes de mostrar o vídeo, apressei-me a contar a toda a gente."

Os colegas ficaram encantados, e encorajaram uma Ida em pânico para avançar sem medos.

"Tive um ataque de pânico, bebi dois copos de vinho, fumei dois cigarros, e estava pronta para avançar", conta Ida.

"Pareceu-me a altura certa para o fazer naquele hotel com aquelas pessoas, porque eles têm acompanhado toda a nossa relação. Foi emocionante e muito divertido. Especialmente a parte em que temos de comemorar com tantas pessoas que gostam de nós e querem que sejamos felizes."

Após alguns planos de casamento adiados devido à pandemia, Ida e Hanna casaram-se no verão de 2022. A aguardada cerimónia decorreu ao ar livre num parque de Bergen, perto da casa do casal.

"Foi uma celebração muito especial", diz Hanna, recordando um dia de sol e festividades.

Ida e Hanna esperam um dia celebrar 50 anos de casamento juntas. (Ida Skibenes)

Hanna e Ida já não trabalham juntas. Quando Ida deixou a empresa há alguns anos, os colegas deram-lhe um cartão-presente para um fim de semana romântico em Solstrand. O casal anseia regressar e esperam um dia celebrar 50 anos de casamento no seu hotel preferido.

Hanna e Ida descrevem os seus anos juntas como uma "viagem fascinante e divertida".

“Tem sido uma sensação de ter a nossa melhor amiga presente, desde então. O que quer que aconteça, tens a tua melhor amiga, e ela faz-te sentir que tudo vai acabar por correr bem", diz Ida, que acrescenta que tornar-se mãe adotiva também "lhe mudou a vida" e ensinou-lhe muito.

Hanna diz que também aprendeu muito com a Ida.

"A Ida é muito corajosa", diz Hanna. "Ela é muito mais sábia do que eu quando se trata de relações e emoções. E ela é muito corajosa por se atrever a falar dos problemas, quando as situações são difíceis."

"Aproximámo-nos muito depressa e temos esta confiança total uma na outra, para que possamos ser nós mesmas. Nunca estive numa relação tão próxima e mudou a minha vida de muitas maneiras. E ter uma companheira que também ama a minha filha e ser uma família, uma família maior.

* artigo originalmente publicado em agosto de 2022

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