Chuva, pontualidade e crianças aborrecidas (mas muito bem comportadas). Tudo "very british". Carlos III subiu ao trono e Camilla Parker Bowles é rainha - TVI

Chuva, pontualidade e crianças aborrecidas (mas muito bem comportadas). Tudo "very british". Carlos III subiu ao trono e Camilla Parker Bowles é rainha

Honrando a tradição britânica, o rei chegou uns minutos adiantado à Abadia de Westminster. Os tambores marcaram o compasso de um dia que fica para a história do Reino Unido: Carlos III subiu ao trono e Camilla Parker Bowles é rainha

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Nem a chuva estragou os planos da realeza. À hora marcada, ou não estivéssemos a falar da realeza britânica, a carruagem Jubileu de Diamante, saiu do Palácio de Buckingham com Carlos III e Camilla a bordo. Na Abadia de Westminster, a maioria dos cerca de 2.300 convidados já estavam sentados e a aguardar que os membros da família real que faltavam – os príncipes de Gales e os filhos, os duques de Edimburgo e os filhos, a princesa Anne e o marido, Timothy Laurence, e os duques de Gloucester – tomassem os seus lugares. 

Às 10:48, a carruagem parou em frente à Abadia de Westminster. A chegada, cinco minutos antes do previsto, obrigou a um compasso de espera para que os príncipes de Gales pudessem chegar ao local e juntarem-se ao cortejo da coroação. E, então sim, à hora certa, a Cruz de Gales, na qual foi incorporado o fragmento da cruz em que Cristo foi crucificado, relíquia oferecida ao rei pelo Papa Francisco, abriu o cortejo.

A rainha, acompanhada pelos pajens de honra e as damas e companhia – que pareciam duas cópias suas e valeram vários memes nas redes sociais -, e o rei, com os quatro pajens de honra a carregarem-lhe o manto, desfilaram pela nave da Abadia de Westminster, seguidos dos príncipes de Gales que se fizeram acompanhar pelos filhos, os príncipes Charlotte e Louis. A princesa, que normalmente é o braço direito de George, desta vez teve como missão cuidar de Louis, de apenas cinco anos, e que no Jubileu da Rainha, em julho do ano passado, foi a estrela da festa graças às muitas caretas que foi fazendo quer na varanda quer durante o concerto. E, desta vez, as caretas não foram assim tantas, mas todos os olhares voltaram a estar postos nele. Louis mostrou que estava à altura da cerimónia (da qual se ausentou por breves instantes quase no final), mas no meio... houve um bocejo que escapou.

Um bocejo real (Associated Press)

O que não escapou nem por um milímetro (perdoam-se os dois minutos de atraso no horário da coroação do rei que não contam para esta contabilização) foi o cumprimento rigoroso do guião: do reconhecimento, ao juramento, passando pela unção do rei que, à semelhança do que aconteceu na coroação da rainha Isabel II, há 70 anos, também foi resguardada quer dos olhares da congregação quer das câmaras da televisão. As semelhanças com a coroação da mãe foram muitas, mas também houve diferenças, a começar logo pela quantidade de convidados e pelo facto de Carlos III ter decidido reutilizar vestes, jóias e até cadeiras históricas numa tentativa de tornar a cerimónia mais "sustentável".

A mais cara reutilização da cerimónia foram as coroas. Só a coroa da rainha consorte tem 2.200 diamantes. Carlos III foi coroado às 12:02 e no preciso momento em que a coroa de St. Edwards lhe era colocada na cabeça trovejou em Londres. Coincidência ou premonição? É preciso esperar para ver.

"Homenagem de sangue real"

Voltando às semelhanças entre às duas coroações com 70 anos de diferença, todo o ritual que se seguiu se assemelha ao que aconteceu em 1953, incluindo o momento em que o príncipe William prestou a "homenagem de sangue real" ao pai, à semelhança do juramento que o duque de Edimburgo fez à rainha Isabel II em 1953. Depois do arcebispo da Cantuária ter prometido fidelidade a Carlos III, William ajoelhou-se perante o pai e professou as chamadas "palavras de fidelidade".

"Eu, William, príncipe de Gales, prometo a minha lealdade para convosco, e fé e verdade como vosso suserano de vida e membros. Que Deus me ajude", afirmou o também duque de Cambridge antes de se levantar, tocar na coroa e beijar o pai na face.

William beija o pai na face depois da "homenagem de sangue" (Associated Press)

A cerimónia prosseguiu, ao ritmo que se impunha, como uma cadência que não se quebra. As joias foram entregues, as vestes mudadas e, só depois, Camilla foi coroada com a coroa da rainha Mary, recebendo ainda o anel de ruby da rainha-consorte. Ao contrário do rei, Camilla não prestou juramento. 

Depois do longo reinado de Isabel II e, consequentemente, da longa espera de Carlos III, o Reino Unido tem novo monarca. "God Save the King", ouviu-se na Abadia de Westminster. Foi hora de o rei mudar outra vez de coroa. E a multidão continuou a aguardar - à chuva. 

Chuva não cancela sobrevoo nem aceno real

Nas cerimónias da realeza nada sai do sítio sem que tenha sido pensado antes. A troca de coroa e de vestes para que a procissão de regresso do rei ao Palácio de Buckingham depois de ter sido coroado foi feita no recato da capela de St. Edward, enquanto o arcebispo da Cantuária terminava a cerimónia religiosa. A música - escolhida pessoalmente pelo novo monarca - ecoou pela Abadia de Westminster enquanto os reis se preparavam. 

Às 13:00, hora certa, claro, de orbe e ceptro do soberano nas mãos, Carlos III surgiu no altar da Abadia de Westminster, pronto para sair do templo para as ruas de Londres.

Lá fora, milhares de pessoas esperavam debaixo de chuva para ver os reis passarem. A carruagem de Estado dourada - a mesma que Isabel II usou e cuja experiência descreveu, em 2018, como "horrível" e "não muito confortável" - aguardava para fazer os dois quilómetros entre a Abadia e o Palácio. E ao longo de cerca de meia hora, como manda a tradição e o guião, Londres voltou a parar para ver os reis passarem, debaixo de chuva, aplausos e vivas ao rei. Atrás dos reis, a princesa Anne liderou as tropas e a seguir, também em carruagens, os restantes membros trabalhadores da família real: os príncipes de Gales com os filhos, os príncipes George, Charlotte e Louis, os duques de Edimburgo com os filhos, Lady Louis e o conde de Wessex, os duques de Gloucester.

Já o príncipe Harry, que chegou à coroação acompanhado das primas, as princesas Eugenie, Beatrice e Zara, mas sem a mulher Meghan Markle, assistiu apenas à cerimónia na Abadia de Westminster e saiu do local direto para o aeroporto de Heathrow para regressar à Califórnia de forma a ainda conseguir chegar a tempo do aniversário do filho mais velho, o príncipe Archie, que faz quatro anos este sábado.

Príncipe Harry chega à cerimónia (Associated Press)

E enquanto Harry seguia para o aeroporto, os novos reis recebiam uma saudação militar nos jardins do Palácio de Buckingham, numa homenagem que antecedeu o momento que fechou o dia: o aceno na varanda. Com os céus de Londres carregados de nuvens e a chuva que não deu tréguas, Carlos e Camilla saíram para a varanda ladeados pela família real, pelos pajens de honra e damas de companhia da rainha. O aceno durou mais de nove minutos e, ao contrário do que chegou a ser temido, uma alegada alteração ao guião por causa da chuva, contou com o sobrevoo da Força Aérea.

Carlos, o rei de Inglaterra, acenou aos súbditos e, no momento de sair da varanda parou, olhou para trás, como quem não acredita que, ao fim de 70 anos de espera, era por ele que gritavam os vivas. 

"God save the King". Sim, Carlos III, chegou a tua vez.

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