Março volta a não ser um bom mês. Prestação do crédito à habitação aumenta e BCE já garantiu que vai voltar a subir as taxas de juro – veja as simulações - TVI

Março volta a não ser um bom mês. Prestação do crédito à habitação aumenta e BCE já garantiu que vai voltar a subir as taxas de juro – veja as simulações

Habitação (Manuel de Almeida/Lusa)

Banco Central Europeu (BCE) vai voltar a subir taxas de juro em março. E esta ainda não deverá ser a última subida. Impacto no crédito à habitação já se faz sentir. Consulte as simulações

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A subida das taxas de juro continua sem dar tréguas e, em março, quem tem crédito à habitação vai sentir um novo aumento na prestação a pagar ao banco. As más notícias não ficam, no entanto, por aqui. O Banco Central Europeu (BCE) já garantiu que, na sua política de combate à inflação, irá voltar a subir as taxas de juro e que na reunião do próximo dia 16 a subida será de meio ponto percentual. Depois disso, tudo aponta para que se registem novas subidas.

Tendo em conta as pressões inflacionistas, tencionamos aumentar as taxas de juro em mais 50 pontos base na nossa próxima reunião em março”, anunciou a presidente do BCE, Christine Lagarde, quando há duas semanas se dirigia aos deputados no Parlamento Europeu.

E se Lagarde não deixou dúvidas sobre o que acontecerá na próxima reunião do BCE, há quem já aponte para novas subidas das taxas de juro depois disso. É o caso de Joachim Nagel, o presidente do Bundesbank, o banco central alemão. Na reunião das 20 maiores economias mundiais que se realizou no passado fim de semana, na Índia, este responsável lembrou que a taxa de inflação deverá permanecer elevada para além de março e que por isso não excluía a hipótese de serem necessários “aumentos significativos das taxas de juro” para lá da reunião do BCE do próximo dia 16.

Perante as declarações dos vários responsáveis do BCE, os analistas vão fazendo as suas previsões. De um conjunto de 56 que participaram num inquérito da agência Reuters, 26 acreditam que depois da subida de taxas de março seguir-se-á, pelo menos, mais uma subida de um quarto de ponto percentual no segundo trimestre. A verificar-se este resultado, o BCE terminaria o ciclo de subida de juros com a taxa de depósitos nos 3,25%.

Mas esta não é uma opinião consensual, havendo quem ‘aposte’ que depois da subida de meio ponto percentual de março irá seguir-se outra de mais meio ponto percentual.

Nota:

O BCE tem três taxas de juro de referência:

- A taxa das operações principais de refinanciamento. A taxa à qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está atualmente nos 3%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho deste ano;

- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está atualmente em 2,5%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho deste ano era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;

- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro a que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 3,25%.

Determinante para o que o BCE irá fazer são os dados da inflação na zona euro que serão divulgados na próxima quinta-feira, referentes a fevereiro. Os últimos dados conhecidos, de janeiro, mostram que a taxa de inflação está a desacelerar e caiu para 8,5% em janeiro face aos 9,2% de dezembro do ano passado, ainda assim, valores muito acima da meta de 2% que o BCE espera alcançar.

Prestações da casa podem subir mais de 300 euros

Perante a expetativa de contínua subida das taxas de juro por parte do BCE, as taxas Euribor, que servem de indexante à esmagadora maioria de contratos de crédito à habitação em Portugal, também vão aumentando. O mês de fevereiro não foi exceção, e a média mensal da Euribor 12 meses ultrapassou os 3,5%, a Euribor 6 meses ficou acima de 3,1% e a Euribor 3 meses ultrapassou os 2,6%.

O resultado desta subida faz-se sentir nos contratos cuja revisão ocorre no próximo mês de março e a subida da prestação mensal pode mesmo, no caso mais extremo, ultrapassar os 300 euros por mês. Esta situação ocorre nos contratos indexados à Euribor 12 meses (a maioria dos utilizados em Portugal) e, se tivermos em conta um empréstimo de 150 mil euros, a 30 anos, um indexante de 1%.

Quanto já aumentou e quanto vai subir em março a pretação da casa 

Empréstimo a 30 anos com spread de 1%

                             EURIBOR A 3 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 74,45  
Junho de 2022 76,05 1,60
Setembro de 2022 85,03 8,98
Dezembro de 2022 103,06 18,03
Março de 2023 114,15 11,09
Aumento anual   39,7
  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 148,89  
Junho de 2022 152,11 3,22
Setembro de 2022 170,05 17,94
Dezembro de 2022 206,11 36,06
Março de 2023 228,31 22,20
Aumento anual   79,4
  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 223,34  
Junho de 2022 228,16 4,82
Setembro de 2022 255,08 26,92
Dezembro de 2022 309,17 54,09
Março de 2023 342,46 33,29
Aumento anual   119,1
  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 297,79  
Junho de 2022 304,22 6,43
Setembro de 2022 340,10 35,88
Dezembro de 2022 412,22 72,12
Março de 2023 456,61 44,39
Aumento anual   158,8
  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 372,24  
Junho de 2022 380,27 8,03
Setembro de 2022 425,13 44,86
Dezembro de 2022 515,28 90,15
Março de 2023 570,77 55,49
Aumento anual   198,5
  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 446,68  
Junho de 2022 456,33 9,65
Setembro de 2022 510,16 53,83
Dezembro de 2022 618,34 108,18
Março de 2023 684,92 66,58
Aumento anual   238,2

 

                             EURIBOR A 6 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 75,06  
Setembro de 2022 90,38 15,32
Março de 2023 121,19 30,81
Aumento num ano   46,1
  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 150,12  
Setembro de 2022 180,76 30,64
Março de 2023 242,38 61,62
Aumento num ano   92,3
  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 225,18  
Setembro de 2022 271,14 45,96
Março de 2023 363,57 92,43
Aumento num ano   138,4
  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 300,24  
Setembro de 2022 361,52 61,28
Março de 2023 484,77 123,25
Aumento num ano   184,5
  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 375,3  
Setembro de 2022 451,9 76,6
Março de 2023 605,96 154,06
Aumento num ano   230,7
  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 450,37  
Setembro de 2022 542,28 91,91
Março de 2023 727,15 184,87
Aumento num ano   276,8

 

                             EURIBOR A 12 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 76,62  
Março de 2023 127,03  
Aumento num ano   50,4
  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 153,24  
Março de 2023 254,06  
Aumento num ano   100,8
  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 229,86  
Março de 2023 381,08  
Aumento num ano   151,2
  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 306,48  
Março de 2023 508,11  
Aumento num ano   201,6
  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 383,1  
Março de 2023 635,14  
Aumento num ano   252,0
  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Março de 2022 459,73  
Março de 2023 762,17  
Aumento num ano   302,4

Como se caracterizam os empréstimos à habitação existentes em Portugal

  • 90% estão a taxa variável;
  • destes, 43% estão indexados à Euribor 12 meses, 32% à Euribor 6 meses, 22% à Euribor 3 meses e os restantes 2% a outros indexantes;
  • a prestação média era de 339 euros no final de dezembro do ano passado, um valor que compara com uma prestação média de 278 euros em dezembro de 2021;
  • metade dos contratos de crédito à habitação em vigor têm uma prestação mensal inferior a 283 euros;
  • 10% dos contratos tem uma prestação mensal inferior a 120 euros;
  • 10% dos contratos tem uma prestação mensal superior a 560 euros;
  • 25% dos contratos tem uma prestação mensal inferior a 200 euros;
  • 25% dos contratos tem uma prestação mensal superior a 397 euros;
  • em janeiro, a taxa de juro média era de 2,217% e o capital médio em dívida era de 62.357 euros.
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