O conflito entre dois condutores em Algés terminou em agressões e deixou uma criança de sete anos exposta a um cenário de violência. A psicóloga Melanie Tavares sublinha a necessidade de proteger os mais novos de experiências traumáticas que podem alterar o seu desenvolvimento emocional e rotinas, como o sono e a alimentação.
Segundo esta profissional, ainda que muitos acreditem que a idade possa ser um fator de proteção, a verdade é que "situações de stress emocional elevado” como esta podem causar impacto imediato na criança. Logo esta "deve mesmo ter apoio psicológico".
Melanie Tavares sublinha que a experiência pode comprometer rotinas, particularmente em idades onde já existe uma certa consciência do que se passa ao redor, como é o caso.
A psicóloga frisa também que o pai tem um papel essencial de proteção e, neste caso, falhou em garantir a segurança do filho. "Independentemente da culpa ou da conduta inadequada, o maior erro deste progenitor foi não proteger a criança”, afirma, defendendo que não se pode "desresponsabilizar este pai".
"Os pais não têm quaisquer direitos perante os seus filhos, só têm deveres", reforça, acrescentando que, entre esses deveres, o de proteção é o mais importante. "Esta criança teve sobretudo muito medo", diz Melanie Tavares.
No decorrer da agressão, a criança
esteve "vulnerável" a um crime de exposição a situações de perigo. A psicóloga ressalta que este tipo de situação não deve ser normalizado e sugere que o incidente seja um alerta para que outros pais avaliem o impacto que atos de agressividade podem ter nos filhos.O Ministério Público pode atuar perante a divulgação das imagens: "À partida, esta criança vai ter um processo de promoção e proteção e vai avaliar-se a capacidade da parentalidade deste pai. Nesse contexto, o que vai ser sugerido é que este pai tenha algum acompanhamento. Estas situações não podem passar impunes."
"Estamos numa sociedade onde as pessoas estão muito menos tolerantes e têm dificuldades em gerir a raiva e controlar os impulsos", aponta Melanie Tavares, alertando que, sem o apoio necessário, a criança pode desenvolver um comportamento onde a agressividade é vista como algo normal e/ou aceitável.
"Estamos a criar crianças cada vez mais intolerantes à frustração, quando somos demasiado imediatos a suprimir as suas necessidades, que não são as básicas - como alimentação, conforto, segurança", diz ainda a psicóloga, alertando para as consequências que o comportamento dos pais têm nos filhos.
Melanie Tavares lembra que muitos dos homicídios acontecem por "falta de controlo de impulsos, por falta de gestão da raiva e por intolerância à frustração".