A socióloga Ana Patrícia Hilário afirmou esta quarta-feira que a informação difusa ou negativa sobre a vacinação contra a covid-19 pode levar os pais a adiar ou recusar a vacinação dos filhos.
Ana Patrícia Hilário é uma das coordenadoras nacionais do projeto europeu Vax.Trust que visa compreender a “hesitação vacinal”, seja adiamento ou recusa da vacinação, sobre as vacinas que constam, por exemplo, no Programa Nacional de Vacinação.
Questionada pela Lusa sobre que impacto pode ter nos pais informação contraditória ou mesmo posições como a assumida numa carta aberta subscrita por cerca de 90 médicos a pedir a suspensão da imunização das crianças saudáveis dos 5 aos 11 anos até que mais evidência científica demonstre "a necessidade, o benefício e a segurança desta vacinação”, a investigadora admitiu que pode ter “um impacto negativo”.
Ressalvando que relativamente à vacinação contra a covid-19 ainda não existem estudos científicos suficientes que permitam validar esta situação por ser muito recente, Ana Patrícia Hilário disse que do conhecimento que têm, no âmbito do estudo, “os pais que têm mais contacto com informação difusa ou informação negativa tendencialmente podem adiar mais ou recusar mais a vacinação dos seus filhos”.
A ideia transmitida inicialmente de que “a covid-19 não era tão grave nas crianças e nos jovens como nos adultos” pode também estar associada à hesitação vacinal.
“Foi uma mensagem que foi muito passada no início e ao longo da pandemia e ficou muito enraizada na população. Portanto, quando vimos que as taxas de vacinação infantil não são tão elevadas como se esperaria pode estar muito associada a esta ideia”, explicou a investigadora auxiliar do Instituto de Ciências Sociais (ICS).
Por outro lado, disse, esse adiamento pode também estar “muito associado” à preocupação que os pais têm sobre os efeitos adversos das vacinas.
“Têm vindo a existir algumas informações contraditórias sobre a questão dos efeitos adversos, não só para as crianças, mas também para os adultos e os pais podem estar a aguardar por mais informação” para decidir vacinar os filhos, salientou.
De facto, esta “informação difusa” poderá ter impacto sobre os pais, disse, acreditando que, na sua maioria, “não estão a recusar vacinar os filhos, estão a adiar e a salvaguardar-se. No fundo, precisam de ter mais informação”.
“É claro que esta carta [subscrita pelos médicos], por exemplo, ou outras informações fazem com que os pais fiquem mais alerta, no sentido de cautelosos, e a espera para os pais é algo fundamental”, vincou.
Também o facto de já se falar do aliviar das restrições para combater a pandemia pode pesar na decisão dos pais, que se podem questionar “se ainda vale a pena, nesta altura, vacinar ou não”.
Ana Patrícia Hilário salientou que Portugal tem das melhores taxas de cobertura vacinal infantil na Europa, superior a 90% para praticamente todas as vacinas, o que confere uma elevada imunidade de grupo para as vacinas que constam no Programa Nacional de Vacinação, o que “é um dado muito positivo”.
Dados divulgados na terça-feira pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças revelam que mais de metade das crianças dos 10 aos 17 anos na União Europeia ainda não têm vacinação completa contra a covid-19.
Segundo os últimos dados da Direção-Geral da Saúde, 80.073 crianças entre os 5 e os 11 anos já têm a vacinação primária completa e 327.707 já receberam a primeira dose.