Podem estar em garagens ou caves. Há "muitos" desaparecidos e mais de 150 mortos em Espanha, onde a guerra política já começou - TVI

Podem estar em garagens ou caves. Há "muitos" desaparecidos e mais de 150 mortos em Espanha, onde a guerra política já começou

Autoridades avisam que a depressão DANA ainda não deixou totalmente o território. Por isso mesmo deixam alertas e pedem todos os cuidados à população

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A ministra da Defesa de Espanha anunciou que “há muitas pessoas” desaparecidas depois da passagem da depressão DANA na costa mediterrânica do país, sendo que os efeitos podem ainda não ter terminado, nomeadamente em regiões como a Andaluzia. Entretanto as autoridades anunciaram que foram encontrados nove corpos na zona de La Torre, em plena cidade de Valência, elevando o total de vítimas mortais para 155.

Apesar do caos que se vive em Valência e nos arredores, é no salvamento de pessoas que possam estar em perigo que as autoridades se concentram. “É um momento muito duro e muito difícil”, assumiu Margarita Robles, que destacou 1.205 efetivos da Unidade Militar de Emergências e das operações especiais do exército para os locais mais afetados.

Grande parte dos trabalhos vão concentrar-se nos subúrbios de Valência, em localidades como Paiporta, que conta quase metade dos mortos (são 45 num total que já supera os 100 em todo o país). Teme-se que nestes locais possam estar pessoas em “garagens ou caves por terem tentado ir buscar os seus carros”.

A ausência de contacto com estas pessoas, espera a ministra, pode dever-se à ausência de comunicações na zona, onde milhares de pessoas continuam sem telemóvel, telefone fixo ou até eletricidade.

Apesar de tudo, a boa notícia é que mais de 100 pessoas já foram resgatadas desde terça-feira. “Há 51 equipas cinotécnicas para trabalhos de remoção de escombros e para procurar pessoas vivas”, indicou Margarita Robles, que ordenou a disponibilização de mais de 300 veículos, 15 helicópteros e 18 drones.

“Se em qualquer localidade fazem falta os serviços especiais, que nos digam”, reiterou a ministra da Defesa, que se comprometeu a trabalhar até que tudo esteja resolvido.

À margem da tragédia humana, e sendo difícil ter uma dimensão exata dos estragos, sabe-se que a deslocação é praticamente impossível em várias zonas. Mais de 120 estradas continuam encerradas desde Málaga a Valência e o governo espanhol já anunciou que a linha de alta velocidade entre Madrid e Valência vai continuar encerrada nas próximas duas a três semanas

Ainda que já se façam contas a como se vai recuperar de tudo isto - o governo já disponibilizou 250 milhões de euros imediatos -, a Agência Estatal de Meteorologia (Aemet) lançou uma mensagem “muito clara”: “A DANA continua em Espanha. Continuam a produzir-se tempestades muito intensas, ontem na Andaluzia, hoje em Castellón. Vamos seguir assim grande parte da semana”.

Com efeito, Castellón, que também fica na Comunidade Valenciana, tem um aviso vermelho para esta quinta-feira, encontrando-se grande parte da região em aviso laranja, incluindo a capital Valência.

A preocupação das autoridades é dupla: não só a situação ainda não está controlada sobre o que pode acontecer, como a deslocação de quase todos os meios para auxiliar os locais onde a depressão já passou deixa outras zonas com menos capacidade de resposta.

“Não confiem. Não tenham a falsa sensação de segurança nas zonas do litoral onde não chove”, frisou a Aemet, numa mensagem clara de alerta para o que ainda pode aí vir.

Uma guerra política

Todos estes avisos da Aemet surgem debaixo de uma guerra política, que se abriu assim que se começou a perceber a dimensão daquela que já é chamada de tempestade do século no país vizinho. Por todo o lado ecoa a pergunta “os serviços falharam?”

Vários relatos de Valência indicaram que os avisos da Proteção Civil chegaram apenas alguns minutos antes dos primeiros grandes efeitos.

Sem prejuízo disso, o Ministério do Interior já atirou as responsabilidades para a gestão regional, afirmando que é a este nível que se ativam e gerem os planos territoriais de proteção civil em casos de emergência.

Em declarações esta quinta-feira, Fernando Grande-Marlaska foi claro: “É responsabilidade exclusiva das autoridades autónomas, que são as competentes na matéria segundo o disposto na legislação em vigor”.

Uma afirmação que surgiu em forma de nota de imprensa para esclarecer “determinadas informações erradas difundidas na quarta-feira”. O ministro do Interior continuou, para frisar que cabe às regiões autónomas, no caso a Comunidade Valenciana ou a Andaluzia, avaliarem e responderem a riscos de catástrofes naturais que possam afetar a população, bens, infraestruturas, património cultural ou similares.

“Em função dessa análise, as autoridades autónomas da Proteção Civil ativam os alertas correspondentes, que podem implicar a ativação dos diferentes planos em função do risco: incêndios florestais, movimentos sísmicos, inundações, fenómenos meteorológicos, etc”, assinalou o comunicado.

“No caso da DANA que afetou a Comunidade Valenciana, o envio do alerta maciço à população era responsabilidade da Generalitat [que governa a região], como fizeram os governos das comunidades autónomas de Madrid e Andaluzia em emergências passadas de caraterísticas similares”, reiterou.

Independentemente desta nota, o presidente da Generalitat valenciana já veio dar uma nota sobre o assunto, ainda que não entrando em confronto direto com o governo.

“Haverá tempo para isso. Agora quero renunciar à má política. Princípios impedem-me de entrar por essa via agora”, disse Carlos Mazón, autarca eleito pelo PP, partido da oposição no governo espanhol, liderado pelos socialistas do PSOE.

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