Luís Filipe Vieira é inocente até prova em contrário.
Vou começar assim e é assim que acabarei, mas há algumas coisas importantes para dizer pelo meio.
A primeira é esta. O presidente do Benfica foi detido e passa a noite na prisão.
As suspeitas são sobre «negócios e financiamentos em montante total superior a 100 milhões de euros, que poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas das sociedades».
Esclareceu o Ministério Público que em causa estão «factos suscetíveis de integrarem a prática, entre outros, de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento».
São mais suspeitas a recair sobre outras acerca do presidente do Benfica. Na Luz, sempre se quis separar Vieira, o empresário, de Vieira, o presidente. As declarações do presidente do Novo Banco, neste terceiro parágrafo, são esclarecedoras sobre isso.
É preciso dizê-lo, também que, algumas das suspeitas foram atiradas para canto. Que é como quem diz, os processos foram arquivados.
Ao longo dos anos, desde que chegou a presidente do clube, Luís Filipe Vieira enveredou por duas narrativas facilmente reconhecíveis: a do FC Porto e a de Vale e Azevedo.
Na primeira, apontou o dedo ao clube portuense por causa do Apito Dourado. O Benfica dizia que o rival não era propriamente honesto, que condicionava árbitros. Para quem não percebeu ainda, o Benfica disse que o FC Porto era corrupto.
A segunda também é conhecida. Ela surge sempre que Luís Filipe Vieira tem de falar da gestão do Benfica e enfatizada sempre que há eleições por perto.
De acordo com a TVI, este último caso que levou o presidente do Benfica a passar esta noite na prisão, prende-se com um alegado esquema que «serviria para benefício de Vieira e do empresário José António dos Santos, em prejuízo do Benfica».
Por outras palavras, Vieira ter-se-á aproveitado financeiramente do Benfica. Algo pelo qual Vale e Azevedo foi condenado.
Nem o Benfica foi acusado de corrupção desportiva, nem Vieira foi condenado por ter tirado benefício da posição que ocupa na Luz. Mas para além dos processos judiciais em si é todo o legado de Vieira que está em causa, porque, convenhamos, os processos são muitos, as explicações poucas, e a melhor defesa, enquanto não há casos em tribunais, é o mero apelo à idoneidade de Vieira: e isso joga na opinião pública, logo nos benfiquistas, cuja crença se dilui à medida do volume de processos.
Ouvi na TV quem é afeto ao presidente do Benfica lembrar que ele é o mais titulado do clube. Mas Vieira pode terminar como alguém que cometeu os únicos pecados que o mundo encarnado não perdoa e que estão presentes naquelas duas narrativas: transformar o clube naquilo de que acusou o FC Porto, ou pelo menos deixá-lo com essa marca, tirar proveito financeiro próprio em prejuízo do Benfica.
Os comunicados do Benfica sobre os processos em que Vieira esteve envolvido, e outros quando a sua liderança é posta em causa, seguem uma mesma linha. Por vezes confusa, em que a defesa do líder parece tão ou mais importante do que a defesa da instituição.
Mas à luz deste último caso e respetiva resposta em comunicado, ainda não percebi isto: como vai uma direção «defender os interesses do clube» quando quem lhe preside é suspeito de lesar esse mesmo clube?
Luís Filipe Vieira é inocente até prova em contrário.