Pré-diabetes: quanto mais novo tiver, maior é o risco de demência - TVI

Pré-diabetes: quanto mais novo tiver, maior é o risco de demência

  • CNN
  • Sandee LaMotte
  • 3 jun 2023, 16:00
Pré-diabetes: Quanto mais novo tiver, maior é o risco de demência. Foto: Marilyn Nieves/Getty Images

Segundo um novo estudo, as pessoas que têm pré-diabetes quando são mais novas correm um maior risco de vir a sofrer de demência mais tarde

A pré-diabetes existe quando os níveis de açúcar no sangue são mais elevados do que o ideal, mas ainda não suficientemente elevados para que o doente seja medicamente diagnosticado com diabetes. Infelizmente, milhões de americanos com menos de 60 anos têm pré-diabetes – e muitos nem sequer sabem disso. 

"A pré-diabetes está associada ao risco de demência, mas este risco é explicado pelo desenvolvimento da diabetes", afirmam os autores Elizabeth Selvin, professora de epidemiologia, e Jiaqi Hu, estudante de doutoramento, num comunicado de imprensa. Ambos trabalham na Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, em Baltimore. 

O estudo, publicado este mês na revista Diabetologia, analisou os dados do estudo O Risco de Aterosclerose nas Comunidades. O estudo envolveu pessoas com idades compreendidas entre os 45 e os 64 anos em quatro regiões dos EUA: Forsyth County, na Carolina do Norte; Jackson, no Mississippi; os subúrbios de Minneapolis; e Washington County, em Maryland. 

Os participantes no estudo que desenvolveram diabetes tipo 2 antes dos 60 anos tinham um risco três vezes maior de ter demência numa fase posterior da vida, em comparação com os que não tinham diabetes de tipo 2 antes dos 60 anos, segundo o estudo. Se a pré-diabetes evoluísse para diabetes de tipo 2 entre os 60 e os 69 anos, o risco diminuía, mas apenas em alguns pontos percentuais. 

"Todos nós temos picos transitórios de glucose no sangue. Sobe, depois desce", diz Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar da National Jewish Health, em Denver. Ele não esteve envolvido no estudo.  

"Mas se olharmos para os «anos de glicose» para determinar quão alta é a nossa glicose e por quanto tempo, então começamos a ver danos cumulativos", diz Freeman. "E quanto mais cedo se é exposto, maior é o nível de danos cumulativos." 

Nesse sentido, o estudo descobriu que se a diabetes tipo 2 não fosse diagnosticada até a pessoa ter 70 anos, o risco de demência caía para 23%. E se uma pessoa desenvolvesse diabetes de tipo 2 nos seus 80 ou 90 anos, o risco não era maior do que o das pessoas sem diabetes. 

"Houve uma forte associação da pré-diabetes com a demência, mas esta associação só se verificou entre as pessoas que desenvolveram diabetes", disse Selvin, num email, à CNN. "Esta descoberta sugere que a prevenção da progressão da pré-diabetes para a diabetes pode ajudar a prevenir a demência em idades mais avançadas." 

O investigador da doença de Alzheimer, Richard Isaacson, neurologista do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida, diz que os resultados não são chocantes. 

"Há mais de uma década que grito isto aos quatro ventos", escreve Isaacson, que não esteve envolvido no estudo, num email. "Se este estudo fizer com que as pessoas tomem medidas quando é dado um diagnóstico de «diabetes limítrofe» ou pré-diabetes, isso irá certamente melhorar os resultados da saúde do cérebro". 

O que é a pré-diabetes 

Mais de 1 em cada 3 adultos americanos tem pré-diabetes, e 80% deles nem sequer o sabem, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA. Quase um terço dessas pessoas tem entre 18 e 44 anos – bastante jovens para estarem a desenvolver uma doença que os coloca em risco extremo de virem a ter diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares significativos e demência vascular à medida que envelhecem. 

Pior ainda, cerca de 1 em cada 5 adolescentes com idades entre os 12 e os 18 anos e 1 em cada 4 jovens adultos com idades entre os 19 e os 34 anos vivem com pré-diabetes, segundo o CDC. 

O CDC estima que cerca de 5,8 milhões de pessoas nos Estados Unidos têm Alzheimer e outras demências relacionadas. E, de acordo com pesquisas citadas num relatório de 2019 da Associação Alzheimer, o risco ao longo da vida para a forma mais comum de demência é de cerca de 1 em 10 (10%) para homens aos 45 anos e 1 em 5 (20%) para mulheres.  

Uma meta-análise de 2013 concluiu que a diabetes tipo 2 está associada a um aumento de 60% do risco de demência por todas as causas. Além disso, as pessoas com demência que têm diabetes tipo 2 têm um risco acrescido de morte prematura. 

Embora a ligação exata entre a diabetes e a demência não seja conhecida, existem várias vias possíveis, de acordo com a investigação. 

"A diabetes aumenta o risco de doença cardíaca e de acidente vascular cerebral, que afetam o coração e os vasos sanguíneos. Os vasos sanguíneos danificados no cérebro podem contribuir para o declínio cognitivo", de acordo com a Associação Alzheimer. 

Além disso, o açúcar elevado no sangue causa inflamação, que pode danificar as células cerebrais, segundo a associação. Mesmo nas fases iniciais da diabetes tipo 2 as pessoas mostram sinais de disfunção no cérebro. 

A investigação demonstrou que a diabetes tipo 2 aumenta drasticamente os níveis de proteína beta-amilóide no cérebro, um sinal característico da doença de Alzheimer, refere a associação. 

Este estudo não é o primeiro a encontrar uma relação entre o início precoce da diabetes e a demência. Um estudo realizado em 2021 no Reino Unido concluiu que ter diabetes há mais de 10 anos antes aumentava o risco de demência em mais de 18%. 

Fatores de risco da pré-diabetes 

A pré-diabetes é conhecida como um predador silencioso, desenvolvendo-se e progredindo sem quaisquer sintomas óbvios. No entanto, existem fatores de risco. 

O risco de pré-diabetes é maior se tiver excesso de peso, tiver mais de 44 anos, praticar exercício físico menos de três vezes por semana, tiver um progenitor ou irmão com diabetes tipo 2, tiver tido diabetes durante a gravidez ou tiver dado à luz uma criança com mais de 4 quilos, de acordo com o CDC. 

Alguns grupos estão também em maior risco, incluindo pessoas de raça negra, hispânica ou latina, índios americanos, nativos do Alasca, habitantes das ilhas do Pacífico ou americanos asiáticos. Pode avaliar o seu risco pessoal fazendo um teste fornecido pelo Programa Nacional de Prevenção da Diabetes. 

A task force dos Serviços de Prevenção dos EUA recomenda que todos os adultos com idades entre os 35 e os 70 anos, considerados clinicamente com excesso de peso ou obesos, sejam submetidos a um rastreio de pré-diabetes ou diabetes. Se os níveis de açúcar no sangue forem preocupantes, a redução de peso, a prática de exercício físico, uma dieta saudável e o evitar de alimentos processados e ultraprocessados podem reduzir o risco.

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