Mais de quatro em cada cinco (82%) jovens e crianças em Portugal escolhe guardar parte do dinheiro que recebe, embora apenas 35% invistam num produto financeiro quando poupam algum dinheiro, refere o relatório “O investimento visto pelos mais novos”, realizado pela associação de defesa do consumidor Deco.
Num universo de 1.233 crianças e jovens inquiridos, do 1.º ciclo ao ensino secundário de 64 escolas de todo o país, cerca de 34% afirmam receber semanada ou mesada, enquanto cerca de 42% indicam que só quando precisam de dinheiro é que pedem a um familiar, o que, segundo a associação, demonstra que “os hábitos de gestão dos próprios recursos entre os mais novos não é um hábito que esteja enraizado na nossa sociedade“.
Carla Dourado, técnica do gabinete de proteção financeira da Deco e uma das responsáveis pela realização do relatório, diz ao ECO que estes números revelam que as crianças e os jovens “têm consciência de que é necessário guardar dinheiro e controlar um bocadinho para situações de imprevisto”. Porém, ressalva, “não sabem guardar de forma a rentabilizar e não sabem procurar essa informação“.
É isso que mostram os dados acerca dos sítios onde estas crianças e jovens procuram informação sobre investimentos: 63% elege a internet como fonte fidedigna de conhecimento para procurar produtos de investimento. “Sem conhecimentos básicos adquiridos, a informação disponibilizada neste meio pode ser uma fonte de contrainformação, pois dificilmente os jovens conseguem distinguir o que é informação fidedigna”, assinala o relatório da Deco.
“Num mundo em que a informação é tão generalizada, de tão fácil acesso, os jovens têm muita dificuldade em aceder a informação fidedigna, acreditam em qualquer tipo de publicação e de negócio e não tentam perceber as fontes e a verdade por trás daquele investimento”, nota Carla Dourado.
Ainda assim, quando questionados onde investiriam o seu dinheiro, 36% optam pelo depósito a prazo, escolhendo, a seguir, as ações (29%), a opção que, pelas fontes que consultam, lhes parece ser mais rentável e segura — o que revela “o desconhecimento relativo às implicações do investimento em produto de risco”.
No que diz respeito aos riscos dos investimentos, mais de metade dos jovens (51%) valorizam a segurança do dinheiro na hora de escolher um produto de investimento. Segundo a técnica do gabinete de proteção financeira da Deco, trata-se de “uma questão cultural”, já que, “tradicionalmente, os depósitos a prazo são o produto que a maioria dos adultos elege como produto de poupança”.
Em segundo lugar nas preocupações dos mais novos surge a rentabilidade a médio/longo prazo (36%), enquanto apenas 12% estão preocupados com questões de sustentabilidade na hora de investir.
A maioria (67%) dos inquiridos vê o investimento em ativos virtuais, como criptomoedas, como um investimento de risco. “Não sei se é por crescerem num meio em que os adultos à sua volta valorizam o facto de não perderem aquilo que pelo menos guardam e investem, mas são um bocadinho mais desconfiados [em relação a] investimentos financeiros meio exóticos”, assinala Carla Dourado. Ainda assim, 17% não consideram que existe risco nestes produtos.
O relatório foi elaborado com base num inquérito feito numa semana em março, durante a qual a Deco participou na “Global Money Week”, uma campanha anual de informação global cujo objetivo é sensibilizar para as boas práticas de gestão do dinheiro pessoal e a importância de criar hábitos de poupança entre os jovens.