A dor de cabeça é a dor que sente em qualquer parte da cabeça. Pode doer-lhe porque está doente, porque não dormiu bem, por estar há demasiadas horas a olhar para ecrãs ou porque, simplesmente, caiu.
O termo médico da dor de cabeça é cefaleia e pode afetar especificamente o couro cabeludo, face ou pescoço. Existem centenas de tipos de dor de cabeça e são mais comuns em pessoas com idade igual ou inferior a 50 anos. A Organização Mundial da Saúde considera-a como a queixa neurológica que mais afeta a população, em particular as mulheres.
A CNN Portugal falou com Isabel Pavão Martins, especialista em dores de cabeça, que nos alerta para a distinção de alguns termos. “Há alguma confusão que surge relativamente aos conceitos. Qualquer dor de cabeça pode chamar-se de cefaleia e há muitos tipos de cefaleias, uma delas a enxaqueca”, afirma.
Como distinguir uma enxaqueca de uma dor de cabeça normal
O termo não é desconhecido, provavelmente já disse que teve uma enxaqueca, mas vale a pena aprender sobre esta doença que tantos afeta e muitos não sabem que dela sofrem. “A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça, ou seja, um tipo de cefaleia que tem características especiais e que a diferenciam da dor de cabeça normal”, explica Isabel Pavão.
De acordo com a médica, a enxaqueca afeta maioritariamente o sexo feminino e cerca de 14% da população mundial: “São estas características que lhe conferem a designação clínica”. “Muitas vezes ocorre por episódios, ou seja, dá-se a dor e depois passa, mas esses episódios podem ir até às 72 horas”, completa.
Isabel Pavão, também professora de medicina na Universidade de Lisboa, descreve este tipo de dor de cabeça através de alguns sintomas específicos. As náuseas e os vómitos são os principais, mas da lista também fazem parte os estímulos sensoriais. “A luz pode tornar-se agressiva para a pessoa com enxaqueca, assim como o barulho e os movimentos. Subir umas simples escadas pode tornar-se completamente difícil para alguém que sofre de enxaquecas”, justifica a professora.
A crise de enxaqueca é unilateral, ou por palavras mais simples, “só dá dor num lado da cabeça, é muito intensa e tem características pulsáteis”, argumenta a especialista. Revela que os seus doentes lhe dizem que sentem o coração a bater dentro da cabeça, ao lhes responde como sendo “o latejar das artérias”. “Tudo isto acontece na enxaqueca, são estes pormenores que a distinguem da dor de cabeça comum, que passa após uma boa noite de sono”, esclarece.
Filhos de pessoas com enxaquecas tendem a sofrer deste problema?
A enxaqueca é variável de pessoa para pessoa e a mesma pessoa pode ter crises diferentes, “exatamente por ser uma doença de forte componente genética associada, muitas vezes familiar, sobretudo materna”, diz a especialista. “Há pessoas que só têm quatro ou cinco enxaquecas na vida e há pessoas que as têm com muita frequência”, explica alertando para que este último seja o principal motivo que deve levar a pessoa a dirigir-se a um médico.
A médica explica que a genética é o principal determinante, mas o gene pode ser passado por alguém em que as crises não são recorrentes. Isabel Pavão explica que, “se a pessoa não tiver crises de enxaquecas com frequência, ou se a crise for curta, nem se vai aperceber que tem enxaqueca e o diagnóstico pode passar despercebido”. As crises podem ser raras, com frequência ou muito frequentes. Também podem ser curtas, em que duram apenas umas horas e passam com medicação, ou, pelo contrário, longas e a toma de medicação não faz qualquer diferença.
“O diagnóstico é essencialmente clínico e é feito pelos sintomas da pessoa, pela recorrência das crises e pelas suas características”, afirma a professora. Acontece muitas vezes ser necessário recorrer a exames complementares, como TAC, ressonância magnética ou análises ao sangue, mas a especialista explica que “são realizados sobretudo para excluir outras patologias”.
A fome ou falta de sono são gatilhos?
As pessoas que sofrem de dores de cabeça, em especial de enxaquecas, sofrem bastante de estigmas. Se perceber que alguém próximo a si se queixa com frequência de dores de cabeça, aconselhe-o a ir ao médico e não lhe diga a habitual frase do “estás sempre a queixar-te da cabeça”. Isabel Pavão alerta para a desvalorização em torno da doença e explica que “a dor de cabeça pode tornar-se bastante incapacitante”.
O estilo de vida que a pessoa leva influencia em praticamente todos os aspetos e quando falamos de dores de cabeça o fator vida saudável é igualmente importante. Isabel Pavão explica que “o cérebro da pessoa com enxaqueca é um cérebro que gosta de alguma regularidade”. Deve ser evitado estar muitas horas sem comer, estar muitas horas sem dormir ou dormir demais e as bebidas alcoólicas devem ser ingeridas com moderação.
A enxaqueca é desencadeada por estímulos e o calor e os fatores hormonais podem ser alguns deles. “Quando a mulher pausa a toma do contracetivo, pode ter enxaquecas”, afirma a especialista que diz que “quando falamos em enxaquecas e em estímulos, não podemos generalizar. Cada um tem de encontrar o seu padrão.”
E as outras dores de cabeça? O que as origina?
As dores de cabeça normais, aquelas que já todos tivemos, também podem dar-se a partir de estímulos, que poderão ser os mesmos que resultam em enxaquecas, mas Isabel Pavão distingue que “a pessoa que tem dor de cabeça normal não apresenta os sintomas que desencadeiam a enxaqueca, como é o caso das náuseas”.
“O frio pode dar dor de cabeça, nomeadamente quando comemos gelados”, explica, continuando que “a dor de cabeça por altitude também pode acontecer e podemos pensar no caso dos montanhistas. Eles sobem para sítios onde há pouco oxigénio e isso origina dor de cabeça”. A especialista ressalva que “não há especificamente uma dor de cabeça para cada estímulo, mas antes vários estímulos que desencadeiam a dor de cabeça”.
O conceito de sinusite também não é estranho e a professora confirma que é, também ela, um tipo de dor de cabeça. “A dor costuma vir acompanhada de entupimento das narinas ou secreção amarelada. Se for tratada de forma adequada, com medicação e inalações, a dor desaparece”, esclarece a especialista.
“Existem várias causas possíveis de dor de cabeça e depois existem pessoas com enxaquecas que são sensíveis aos estímulos do dia a dia. O importante é não confundir”, finaliza Isabel Pavão.