Ricardo Oliveira quis jogar pelo seguro. Este açoriano é também britânico desde o último trimestre do ano passado. É um dos 3.000 portugueses que, desde o referendo ao Brexit, em 2016, trataram da residência permanente e, entretanto, adquiriram a nacionalidade. Não foi um processo fácil e o Consulado português só desajudou.
“Foram foram imensos papéis, demorou imenso tempo, foram meses a arranjar os requisitos. Penso que devem ter sido uns 30 centímetros de papéis para mandar, centenas de páginas”. Isso para ter a residência permanente. Com ela, o processo da nacionalidade acabou por ser “um pouco mais fácil”, mas caro.
"Parte do princípio que temos residência, mas é preciso fazer teste de conhecimento do país, um de conhecimentos de inglês e é pagar por isso também, para ter um diploma. Só o processo da cidadania, por si só, ficou em 1.300 libras por pessoa, fora todos os gastos até então”.
Multiplique isso por dois – Ricardo é casado com uma cidadã igualmente europeia, da Letónia. Mas o pior, em todo o processo, nem foi o dinheiro. Foi a burocracia, foi a falta de apoio que sentiu no Consulado português, quando reparou que tinha de renovar o cartão de cidadão, documento que também lhe era exigido para ter residência permanente.
“Foi simplesmente impossível de arranjar disponibilidade. É impossível,o consulado não consegue atender a imensa população que vive cá, não tem meios para isso. É uma vergonha para o país”.
Não teve outro remédio que não pagar do seu próprio bolso, “ir de propósito a Portugal renovar o cartão de cidadão”.
Há queixas dos longos tempos de espera – e o próprio Governo já as reconheceu – prometendo no plano de contingência para o Brexit reforçar os meios consulares, abrindo, inclusive, uma linha Brexit para atendimento e esclarecimento de dúvidas à distância (veja mais à frente neste dossier).
Ricardo e a mulher têm a vida feita em Londres, ele trabalha em desenvolvimento de aplicações tecnológicas, e pretende ficar, com ou sem Brexit. Sente que tem mais hipóteses de “sucesso” lá, do que em Portugal.
"Optámos por obter a cidadania mesmo por não confiarmos nem neste governo nem em vindouros, que podem vir a mudar os direitos". Já no final da conversa, confessou que essa foi a principal razão, aludindo ao escândalo Windrush, ocorrido em 2018: imigrantes que foram detidos e deportadas injustamente do Reino Unido pelo ministério do Interior.