Omar tentou durante um ano e meio ir para Portugal. Pouco sabia sobre o país, mas um grupo de voluntários deu-lhe a conhecer Portugal, além de o ter ajudado nos primeiros dias, depois de chegar à ilha de Lesbos, na Grécia, vindo da Turquia.
Neste ano e meio, Omar tentou fugir várias vezes. Esteve detido no campo de refugiados de Moria e, durante todo este tempo, vários portugueses escreveram a todas as entidades possíveis para tentar trazer este refugiado iraquiano.
Tentaram tudo, conseguiram arranjar casa, trabalho e uma bolsa para pagar as propinas da universidade - Omar quer terminar a licenciatura em Engenharia que teve de suspender em Mossul. Não recebeu qualquer resposta do governo português nem de qualquer outra entidade.
Com o passar do tempo, começou a ser tratado como um caso de debilidade psicológica grave, mas nem isso fez, na prática, acelerar o processo de asilo. Acabou por contactar um traficante, pagou cerca de três mil euros e, com um passaporte português falso e um novo nome - Frederico - conseguiu fugir da Grécia e chegar à Suíça. Agora, é lá que quer tentar uma segunda vida.
- Portanto, com este passaporte, é português?
- Sim.
- E qual é o seu nome?
- Fred. Tornei-me português com o dinheiro, não com o governo.
- Onde nasceu?
- Em... Campa... Campo Grande.
- Comprou um passaporte português?
- Sim. Havia um traficante que me disse que podia contactá-lo. Por isso, ele fê-lo e foi bom. Mudaram a fotografia, colocaram a minha fotografia. Foi assim, é original.
- Depois, com o passaporte, fugiu da Grécia?
- Sim, num ferry.
- Para?
- Para Itália.
- E depois?
- Depois para a Suíça.
- E quanto pagou?
- Com tudo, incluindo as viagens, custou-me cerca de 3 mil euros.
- Teve medo?
- Tive medo de... nada. Porque já não há nada a perder, nada a perder. Decidi fazer um passaporte português porque todas as pessoas, quando fiz voluntariado, me diziam: pareces português ou algo parecido. Mudei a língua no telefone, o nome no Facebook, pus uma fotografia no meu telefone com os meus amigos portugueses, mudei todas essas coisas, por isso, não havia forma de me apanharem. Só me poderiam apanhar com a língua. De outra forma, não poderiam. Pedi para ir para Portugal, na última entrevista consigo, mas não tive qualquer resposta.
- E tentou muito...
- Tentei muito, sim. Com ajuda de outras pessoas, os meus amigos em Portugal, mas não encontrei forma de ir.
- Nenhuma resposta?
- Nenhuma resposta.
- O que pensa sobre isso?
- Não sei, mas esperei cerca de um ano e meio apenas para ter uma resposta. As pessoas que me eram próximas sabiam que eu estava à espera apenas da resposta do governo português. Gostava de ir legamente, mas não houve qualquer hipótese.
Tenho amigos lá, eles dizem-me: o teu trabalho está pronto, a tua casa está pronta, ensinamos-te a língua. Estava tudo pronto, até a minha universidade. Todos os meus amigos portugueses, que estavam comigo, foram bons comigo e isso fez-me amar esse país e tentar muitas vezes ir e ficar lá. Se eu fosse, não estava a pedir nada ao governo, apenas permissão para ir.
2016:
Em Portugal? Tenho tudo, sim. Tenho universidade à minha espera, tenho muitos amigos à minha espera, tenho uma casa, tenho trabalho. Só falta Portugal aceitar-me, só isso. O meu sonho? Agora? Portugal.
- O que é que tem a dizer ao governo português por não tê-lo recebido?
- Não sei o que dizer, não quero mudar a lei, mas a lei tem de de estar ao lado das pessoas e ajudá-las. Nós não somos o terror, não somos o Estado Islâmico, somos apenas refugiados, temos guerra nos nossos países, por isso, apenas precisamos de viver. Estamos a tentar viver como as outras pessoas e não viver os bombardeamentos, pessoas a morrer e outros problemas no nosso país.