9 de novembro | Pré-anunciada que estava a 'morte' do Executivo de Passos Coelho, nem vivalma do líder da nova alternativa: António Costa entrou mudo e saiu calado do primeiro dia de debate do programa de Governo. O ainda primeiro-ministro, pelo contrário, não deu sinais de esmorecer.
"Venha ao debate, venha ao jogo democrático", desafiou o PSD. António Costa estava a guardar-se para o dia decisivo: o dia seguinte, quando seriam votadas as moções de rejeição autónomas do PS, BE, PCP e PEV (que acabaram por decidir não apresentar um único documento, embora estejam unidos num acordo político para governar).
Quem acabou por representar o Partido Socialista foi o seu presidente. Carlos César assegurou que o PS não procurou ser Governo a qualquer custo e que foi a direita que se "radicalizou".
" Só a direita é que se dá mal com a democracia e não aceita a maioria".
Passos Coelho, por sua vez, apesar de "não esconder a apreensão" no arranque desta legislatura com a mudança que se avizinha, tirou partido, várias vezes, do facto de ainda não serem conhecidos os termos exatos do acordo político à esquerda, para com isso incomodar e/ou ver se algum dos deputados levantava mais o véu.
Quando o PS tentou explicar a "larga distância" da coligação, Passos disse que era "quase penoso" ver as justificações dos socialistas para não se terem entendido com a coligação. E que até parecia que o PS tinha sido "bafejado pelo mérito" nas eleições, que nem por "poucochinho" conseguiu ganhar.
Ao Partido Comunista também desferiu ataques: lembrando as palavras de Jerónimo de Sousa antes das eleições sobre o PS ser "farinha do mesmo saco" da direita, Passos Coelho ironizou que agora que o PCP tirou os socialistas desse saco, fica a "aguardar outras conclusões". Uma, pelo menos, já tem, com a bolsa a afundar e os juros a disparar:
"Já estamos a pagar um preço pelo que eventualmente possa suceder no encerramento deste debate"
O BE também não escapou. Catarina Martins até conseguiu que o primeiro-ministro risse às gargalhadas durante a sua intervenção. Ele respondeu-lhe com boa disposição, mas a falar de coisas sérias: "A generalidade dos portugueses, creio eu, não percebeu bem quem catequizou quem. Quem é que saltou o muro, se deixou de existir, se passou a imaginário e quais são as posições relativas de cada um", afirmou, sugerindo que foi o PS que "saltou o muro" a favor do Bloco.
Para a direita, de resto, há uma nova troika em Portugal: a "troika de esquerda", com Catarina Martins como "quiçá a líder". E não António Costa. No dia seguinte, o próprio teria a oportunidade de expressar a sua força e fazer cair o Governo.