Foi há um ano que tudo mudou.
À conta de um vírus que atravessou fronteiras, separou famílias, entrou sem permissão nas nossas casas e mudou muito do que tínhamos por garantido.
Esta série de reportagens fala de muitos portugueses, cada um, à sua maneira, foi "Deixado para Trás".
Na primeira reportagem de "Deixados para Trás", entramos no Hospital de S. João, no Porto, onde deram entrada alguns dos primeiros casos da covid-19 em Portugal. É também aqui que vamos conhecer os protagonistas de outros episódios.
"Deus só dá grandes batalhas a grandes guerreiros. E ela está ali a lutar com toda a força para voltar para nós."
Sara não perde a oportunidade de visitar a sogra, internada desde outubro. A pandemia mudou-lhes a vida.
No segundo episódio, as histórias dos que o desemprego e a recessão deixou para trás.
"Temos que pensar como vamos pagar as contas, manter o negócio."
Inês Areal é proprietária de uma loja e conta as dificuldades que tem atualmente para manter o investimento.
As histórias dos idosos mais afetados pela pandemia.
"Eu, presentemente, sou uma pessoa infeliz. Infeliz. A solidão é uma doença e até mata. Ando uns dias pior, outros dias melhor. Mas tenho uma tristeza muito grande."
Judite Lisboa vive na mais profunda solidão, no centro da cidade de Leiria.
"Os idosos são a maioria. Não têm transporte, a família mora longe e não consegue dar apoio suficiente."
Rosa e Paulo Jorge percorrem todos os dias os montes mais isolados do Cercal do Alentejo e garantem que a solidão tem muitas caras.
Histórias difíceis de quem perdeu quase tudo
“Custa muito. Quem tiver dois filhos ao encargo de um pai só, não tiver a mãe para ajudar, custa um bocadinho.”
Filipe Oliveira está desempregado e tem de procurar ajuda para poder sustentar os dois filhos.
Como as escolas, os alunos e os professores responderam aos desafios da pandemia
"A escola é um desafio. Mas este ano o desafio foi ainda maior".
Alexandra Moutinho, coordenadora da Escola Básica de Balselhas, fala de como as escolas tiveram de adaptar-se ao ensino à distância.
“Foi assustador, ao início, porque estava diferente. Privaram-nos de algo. Não podemos andar em espaços diferentes, temos aquele espaço, a bolha, e não o podemos furar.”
Os alunos contam como enfrentaram o novo mundo, em que não podem brincar à vontade com os amigos e em que veem os professores pelo computador.
"Eu pus o conta-quilómetros a zero e pelo menos até aos 100 está garantido, depois logo se verá".
O professor Sérgio foi o primeiro infetado a ser entubado. Em torno dele, a comunidade educativa do Agrupamento de Escolas de Campo, em Valongo, uniu-se numa gigantesca corrente de afetos.
No sexto episódio, o impacto da pandemia no arquipélago dos Açores.
Em Rabo de Peixe, S. Miguel, a história de uma das mais longas cercas sanitárias do país.
No outro extremo do arquipélago, na Ilha do Corvo, o isolamento que é há muito tempo um modo de vida e que, para o bem e o para o mal, os protegeu da pandemia.
O Corvo é também a primeira região da Europa a alcançar a imunidade de grupo, praticamente toda a população, de cerca de 400 habitantes, já levou a segunda dose da vacina contra a Covid.
"Eu tive covid-19 e o mais difícil para mim, para ser sincero, é o que acontece durante: como é que vamos alimentar os nossos filhos e as nossas famílias? Fui impedido de trabalhar, mas quanto tempo depois eu recebi? Às vezes o covid não é só 10 dias, mas recuperar este dias ficando em casa e sem pescar não é fácil..."
Heitor Penacho, pescador de Rabo de Peixe, esteve com covid-19 e conta como foi recuperar - não da doença, mas da pobreza.
"Se tirarmos as máscaras da cara, o Corvo teve uma vida quase normal, a não ser as festas que não se fizeram. Tivemos um caso, assintomático."
António Salgado, único médico e delegado de Saúde da ilha do Corvo, é de Guimarães, mas escolheu esta ilha para se tornar melhor.
Como é nascer e morrer numa pandemia
"Nós estivemos três meses a ensaiar, estreámos e acabou."
Filipe Gaspar é ator de teatro e conta como a peça para a qual todos ensairam e se dedicaram teve de parar por causa da pandemia, deixando todos com dificuldades.
O impacto da pandemia na Madeira, uma ilha mais vazia do que o habitual
No nono episódio, o retrato de uma economia confinada.
O efeito de dominó que uma recessão põe em marcha, armazéns parados, hotéis sem clientes, regiões industriais e turísticas em suspenso.
A crise de um setor contada a partir de uma simples toalha: o hotel que deixou de a comprar, o armazém que deixou de a vender e feirante que fez das dificuldades de uns é de outros oportunidade de negócio.
"Eu não tirava folgas. Eu adorava isto. Se andares por dentro de Alfama, hoje em dia, não vês ninguém. Vês a beleza das ruas, que são muito bonitas."
Carlos Bonito era motorista de tuk tuk, mas, sem turistas, ficou sem emprego.
No último episódio, as histórias de quem transformou as dificuldades em oportunidades, sacrifício em superação.
Crises que cruzam gerações na mesma família, negócios que se reinventam, segundas oportunidades inesperadas.
O Filipe, ator desempregado, que visita a mãe obrigada a emigrar para França na última grande crise.
A Fernanda que se julgava, em definitivo, deixada para trás e que tem uma nova oportunidade.
A Sara e a sogra, Livramento, num reencontro muito aguardado.
