Os drones kamikaze da Rússia são a última ameaça à Ucrânia. O que sabemos sobre eles - TVI

Os drones kamikaze da Rússia são a última ameaça à Ucrânia. O que sabemos sobre eles

  • CNN
  • Ivana Kottasová
  • 16 out 2022, 15:00
Ataque em Kiev (AP)

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A Ucrânia pediu aos aliados para fornecerem mais sistemas de defesa antiaérea e munições depois de a Rússia ter aumentado a utilização de drones kamikaze no seu ataque brutal contra o país.

Kiev disse que Moscovo usou drones kamikaze fornecidos pelo Irão em ataques contra Kiev, Vinnytsia, Odessa, Zaporizhzhia e outras cidades ucranianas nas últimas semanas, e apelou aos países ocidentais para fornecerem mais ajuda perante este novo desafio.

Os drones têm tido um papel significativo no conflito desde que a Rússia lançou a sua invasão em larga escala em fevereiro passado, mas a sua utilização aumentou desde o verão, quando Moscovo adquiriu os novos drones ao Irão.

Também os ucranianos têm usado drones kamikaze contra alvos russos e pediram aos aliados para lhes fornecerem mais destas armas letais.

Eis o que sabemos acerca destes drones.

O que são drones kamikaze?

Os drones kamikaze ou drones suicida são um tipo de sistema bélico aéreo. São conhecidos como munição de espera porque conseguem aguardar durante algum tempo numa zona identificada como alvo potencial e só atacam quando é identificado um ativo inimigo.

São pequenos, portáteis e podem ser lançados facilmente, mas a sua principal vantagem é que são difíceis de detetar e podem ser disparados à distância.

O nome kamikaze é uma referência ao facto de os drones serem descartáveis. São concebidos para atacar para lá das linhas do inimigo e serem destruídos no ataque, ao contrário dos drones militares tradicionais que são maiores e mais rápidos e voltam à origem depois de largarem mísseis.

Que drones está a Rússia a usar na Ucrânia?

As forças armadas ucranianas e os serviços secretos americanos dizem que a Rússia está a usar drones de ataque feitos no Irão. Representantes dos EUA disseram em julho à CNN que o Irão tinha no mês anterior começado a apresentar os drones da série Shahed à Rússia no aeródromo de Kashan, a sul de Teerão. Os drones são capazes de transportar mísseis de precisão e têm uma carga útil aproximada de 50 quilos.

Em agosto, representantes dos EUA disseram que a Rússia tinha comprado estes drones e estava a treinar as suas tropas para os usarem. Segundo o presidente Volodymyr Zelensky da Ucrânia, a Rússia encomendou 2400 drones Shahed-136 ao Irão.

A Ucrânia afirma que as suas tropas abateram um desses drones pela primeira vez no mês passado perto da cidade de Kupyansk, em Kharkiv. Desde então, houve registo de mais ataques. As forças armadas de Kiev disseram ter abatido 17 mísseis Shahed-136 num único dia. De acordo com fotos divulgadas pelas autoridades ucranianas, a Rússia rebatizou os Shahed e usa-os com o nome “Geran”.

Os representantes americanos dizem que “já há indícios” de os drones iranianos “terem sofrido inúmeras falhas” no campo de batalha.

A vice-subsecretária da Defesa para a política, Sasha Baker, disse aos jornalistas no final do mês passado que “a ideia de os drones representarem um salto tecnológico é algo que, sinceramente, os dados não estão a mostrar”.

Moscovo tem também os seus próprios drone kamikaze, feitos pela fabricante russa de armas Kalashnikov Concern. A Ucrânia afirma que abateu na quarta-feira dois destes drones ZALA Lancet.

Partes daquilo que as autoridades ucranianas dizem ser um drone iraniano Shahed-136 foram encontradas em Kharkiv, na Ucrânia, a 6 de outubro de 2022
Um polícia ucraniano inspeciona uma peça de um drone abatido em Kharkiv, a 6 de outubro de 2022

Como pode a Ucrânia defender-se destes drones?

Desde o início da guerra em fevereiro que a Ucrânia pede aos seus aliados para fornecerem sistemas de defesa antiaérea, mas a necessidade tornou-se mais urgente desde que a Rússia começou a usar drones de fabrico iraniano.

Os sistemas de defesa antiaérea foram uma das três principais prioridades na lista de armas solicitadas pela Ucrânia durante uma reunião do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia em Bruxelas na quarta-feira, segundo um documento fornecido aos ministros da defesa que participaram no encontro.

O general Mark Milley, diretor do Estado-Maior Conjunto dos EUA, disse aos jornalistas após a reunião que os EUA e os aliados tinham de fornecer sistemas de defesa antiaérea à Ucrânia para ajudar o país a defender o seu espaço aéreo contra os ataques das tropas russas.

“Muitos países têm Patriot, muitos países têm outros sistemas, há uma série de sistemas israelitas que são muito capazes, os alemães também têm sistemas como já referimos, portanto muitos países que estiveram hoje aqui têm uma variedade de sistemas”, indicou Milley.

“A tarefa será juntá-los, enviá-los e treiná-los, porque todos esses sistemas são diferentes. É preciso garantir que podem ser ligados com um sistema de comando, controlo e comunicação e verificar se têm radares capazes de falar entre si para poderem identificar alvos nos seus voos de aproximação.”

A defesa antiaérea de que a Ucrânia precisa para combater os drones kamikaze é diferente dos sistemas usados contra mísseis de cruzeiro e armas semelhantes. O sistema de defesa Patriot – que significa “sistema de radar de rastreamento para interceção de alvos” – foi concebido para combater e destruir mísseis balísticos de curto alcance, tal como aeronaves avançadas e mísseis de cruzeiro, e pode ser usado contra drones.

As autoridades ucranianas dizem que as defesas aéreas do país já estavam a derrubar o “grosso” dos drones Shahed. O general Valerii Zaluzhnyi, comandante militar ucraniano, publicou na terça-feira no Twitter um agradecimento à Polónia por serem seus “irmãos de armas” ao treinarem um batalhão de defesa aérea que ele disse ter destruído 9 de 11 drones Shahed. Ele disse que a Polónia deu “sistemas” à Ucrânia para ajudar a destruir os drones.

No mês passado, houve registo de que o governo polaco tinha comprado equipamento israelita avançado (Israel tem uma política de não vender “tecnologia avançada de defesa” a Kiev) que foi depois transferido para a Ucrânia.

Na quinta-feira, Zelensky fez um novo pedido de capacidades de defesa antiaérea, tendo dito que Kiev tem apenas cerca de 10% daquilo que precisa para combater os ataques de Moscovo.

A Ucrânia também tem drones kamikaze?

As forças armadas ucranianas têm usado drones kamikaze RAM II, que foram desenvolvidos por um consórcio de empresas ucranianas e comprados com dinheiro angariado em crowdfunding por ucranianos comuns. Estas munições de espera de precisão podem transportar ogivas com 3 quilos e têm um alcance de voo até 30 quilómetros, segundo os seus fabricantes.

Mas Kiev tem também contado com os aliados para fornecerem drones. Os EUA já enviaram vários tipos de sistemas de armas aéreas para a Ucrânia. Entre eles contam-se os drones Switchblade – pequenos drones kamikaze portáteis que podem levar uma ogiva e explodir com o impacto. O Switchblade 300 e o Switchblade 600 de maior dimensão são produzidos pela empresa americana de defesa AeroVironment.

O Switchblade 300 de menor dimensão pode atingir um alvo a 9,6 km, segundo as especificações fornecidas pela empresa, enquanto o Switchblade 600 de maior dimensão pode atacar a mais de 32 km. Ambos os sistemas podem ser preparados e lançados em minutos.

Em maio, os EUA enviaram às forças armadas militares os drones “phoenix ghost”, que se julga serem semelhantes aos Switchblade, apesar de pouco se saber sobre as suas capacidades.

O Reino Unido também forneceu munições de espera à Ucrânia, incluindo 850 micro-drones Black Hornet que são lançados à mão.

Adicionalmente, a Ucrânia tem usado os drones Nayraktar TB2 de fabrico turco. Estes drones tornaram-se um símbolo da resistência ucraniana. Porém, são maiores e foram concebidos para voltar à origem após largarem bombas ou mísseis guiados por laser.

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