Exclusivo. Irão está a modificar drones para causar o máximo de danos às infraestruturas ucranianas - TVI

Exclusivo. Irão está a modificar drones para causar o máximo de danos às infraestruturas ucranianas

  • CNN
  • Natasha Bertrand
  • 10 fev 2023, 07:00
Drone sobrevoa Kiev durante um ataque russo  17 de outubro de 2022. Créditos: Sergei Supinsky/AFP/Getty Images

Pela primeira vez, um Shahed-131 que caiu em Odessa foi visto à lupa e as descobertas foram surpreendentes

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O Irão parece estar a modificar os drones de ataque que está a fornecer à Rússia para que as ogivas que transportam possam infligir danos máximos em infraestruturas ucranianas, de acordo com um novo relatório de investigação obtido exclusivamente pela CNN.

O Irão deu à Rússia centenas de drones para utilizar na guerra na Ucrânia, muitos dos quais visaram a rede elétrica e as instalações energéticas com efeitos devastadores. Os ataques com drones, bem como com mísseis russos, deixaram civis ucranianos em todo o país sem aquecimento, eletricidade ou água corrente durante os meses gelados de inverno.

Uma ogiva não detonada de um drone iraniano Shahed-131 encontrado na região de Odessa, no sul da Ucrânia, em outubro passado, foi examinada no mês passado pela organização britânica Conflict Armament Research [que rastreia a origem das armas em zonas de conflito], com sede no Reino Unido, juntamente com os militares ucranianos. A CAR forneceu as suas conclusões em primeira mão à CNN.

A composição da ogiva ajuda a explicar como o ataque da Rússia às infraestruturas energéticas ucranianas ao longo dos últimos meses se revelou tão eficaz.

Matriz de fragmentação na secção dianteira da ogiva. Créditos: Conflict Armament Research

Os analistas do CAR acreditam que as ogivas, que medem pouco menos de meio metro de comprimento, foram modificadas apressadamente, com camadas mal ajustadas de dezenas de pequenos fragmentos de metal que, com o impacto, se espalharam por um grande raio. Além dos fragmentos, existem também 18 "cargas" mais pequenas em torno da circunferência da ogiva que, quando derretidas pela explosão, podem perfurar armaduras e criar uma espécie de efeito explosivo de "360 graus".

A acumulação desses elementos basicamente maximiza a capacidade da ogiva de destruir alvos como centrais elétricas, redes de distribuição, linhas de transmissão e grandes transformadores de alta potência. Também tornam os esforços de reparação substancialmente mais difíceis.

"É como se olhassem para a ogiva acabada e dissessem: 'Como podemos tornar isto ainda mais destrutivo?'", disse Damien Spleeters, um dos investigadores que examinaram a ogiva.

Ogiva multiuso de um drone iraniano Shahed-131. Créditos: Conflict Armament Research

A certa altura, em outubro, a elétrica estatal da Ucrânia, Ukrenergo, disse que cerca de 40% do fornecimento elétrico normal estava desligado como resultado dos ataques russos. E os danos estão a acontecer muito mais rapidamente do que a Ucrânia pode repará-los - Sergey Kovalenko, CEO do fornecedor de energia YASNO, disse à CNN em dezembro que "os ucranianos terão muito provavelmente de viver com apagões até, pelo menos, ao final de março".

As ogivas que visam atingir os recursos no campo de batalha, tais como tanques ou máquinas de artilharia, podem ser concebidas de forma diferente, explicou Spleeters, com uma carga frontal que é utilizada para alvos mais concentrados. A ogiva examinada pelo CAR, porém, tem um efeito de carga de forma radial, o que pode resultar numa área maior de impacto.

Como a CNN relatou anteriormente, descobriu-se que os drones de fabrico iraniano que estão a ser utilizados na Ucrânia contêm uma quantidade significativa de componentes americanos e ocidentais, levando a administração Biden a investigar como a tecnologia americana está a acabar nas armas.

Spleeters disse à CNN que a análise da ogiva Shahed-131 - cujos componentes nunca tinham sido divulgados até agora - ajudou os analistas a entender melhor como o Irão tem fabricado os seus drones.

"Havia muita especulação de que talvez estes explosivos fossem muito rudimentares, baratos e simples", acrescentou. "Mas olhando para a ogiva, é evidente que se pensou muito em garantir que ela pudesse infligir o máximo de dano possível às infraestruturas num grande raio."

No mês passado, o Institute for the Study of War [um think tank americano sobre questões de defesa e relações internacionais] descobriu que as forças russas se tornaram cada vez mais dependentes dos drones na sua campanha contra as infraestruturas críticas ucranianas - de tal modo que o seu arsenal de drones já está a esgotar-se, apenas alguns meses depois de o Irão ter começado a enviá-los.

A Rússia e o Irão concordaram em montar uma instalação de fabrico de drones em solo russo, o que, segundo as autoridades ocidentais, permitirá a Moscovo reabastecer-se mais rapidamente.

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