O elogio a Passos, o medo do Governo mais à esquerda desde o PREC e ainda o símbolo institucional que “mais parece um logótipo de uma empresa de distribuição de comida”. Durão Barroso entrou em jogo na campanha da Aliança Democrática para alertar para “um risco real do voto de protesto não ter qualquer tradução no Parlamento”.
O antigo presidente da Comissão Europeia focou os primeiros momentos da sua mensagem a lembrar o período da troika, abordando a má memória que, em especial os pensionistas e reformados têm desse tempo - como tem sido evidente durante a campanha. “Nós não temos de pedir desculpa por esse período, temos de ter orgulho desse período pelo que fizemos com sentimento patriótico por Portugal”.
“Eu era o presidente da Comissão Europeia quando o Governo, depois de se negar a ver a realidade, pediu que os países mais ricos emprestassem dinheiro porque não tinha sequer suficiente para a administração pública funcionar”, disse, sublinhando que, em 2011, “na tesouraria não havia mais de 300 milhões de euros para o país funcionar, estava em bancarrota”, afirmou esta noite num comício em Santa Maria da Feira.
Em Portugal, sublinhou também, elogiando novamente a governação de Passos Coelho, “houve coragem de enfrentar um problema que não foi criado pelo PSD, mas foi o PSD com o CDS que conseguiram resolver”.
Já virado para as futuras eleições, Barroso concentrou o restante bloco do seu discurso a tentar atrair os indecisos que, segundo demonstram as últimas sondagens, é muito maior do que nas anteriores legislativas. E para os convencer trouxe consigo dois argumentos.
“Por um voto se ganha, por um voto se perde”, sublinhou, realçando que “é essencial que hoje em dia possamos unir todos os descontentes com a atual governação”. E anuindo ao perigo da dispersão de votos no partido de André Ventura, disse que “não chega um voto de protesto”. “Quanto mais dispersos os votos, mais desperdiçados serão, há um risco real de protestar e depois isso não ter qualquer tradução no Parlamento”, acrescentou.
O segundo argumento foi para a possibilidade de o PS, se vencer as eleições, ser forçado a negociar com o Bloco de Esquerda e com o PCP numa posição muito menos vantajosa do que aquela que detinha durante a arquitetura da geringonça. “Em 2024, se porventura tivéssemos um Governo do PS, que já mostrou que não tem muito jeito para a economia, seria dependente pelo menos do Bloco e do PCP com muito maior força negocial. Se por fatalidade em Portugal isso acontecesse seria o Governo mais à esquerda desde o Período Revolucionário”.
Destacando ainda a relação negativa desses dois partidos com a NATO, disse que “não se brinca com questões de segurança nacional e de defesa nacional”.
O logo do Governo e os "meninos da cidade"
O antigo primeiro-ministro garantiu que entrou para a campanha por sentir que, nestas eleições, “está em causa o futuro do país”, alertando para o facto de Portugal ser “hoje um dos países com a taxa de natalidade mais baixa”. “Não é porque os portugueses não queiram ter filhos ou porque não gostem de crianças”, salientou, indicando que o problema é essencialmente económico, mas que também “o PS tem medo da palavra família, como se fosse uma vergonha usar a palavra família”.
No seu discurso, Durão Barroso recuperou - e foi inédito durante a campanha - a história da alteração do logótipo institucional do Executivo que substituiu o brasão de armas por figuras geométricas verdes, amarelas e vermelhas. E foi aí que surgiram alguns dos ataques mais vociferos ao Governo de Costa. “O brasão de armas existe pelo menos desde o século XII e o Governo resolveu substituir isso por algo que vagamente sugere a bandeira nacional, é um logótipo que mais parece o de uma empresa de distribuição de comida”. “Se não se identificam com o nosso brasão de armas, não são verdadeiramente portugueses”, reiterou.
Depois, foi ainda mais longe. “Os símbolos têm importância, é uma questão de até que ponto amamos o nosso país”, disse, antes de anunciar ao comício que Montenegro irá alterar esta medida e “voltar a pôr lá o escudo, as quinas e o símbolo de Portugal”.
Durão Barroso pediu também contenção na luta contra as alterações climáticas no dia em que Montenegro sublinhou a existência de “fanatismo ambiental” que tem colocado em causa projetos de investimento no país. “É um problema que temos de resolver conjuntamente em todo o mundo, mas temos de o fazer com sentido social”, criticando a proposta de aumento do IUC - “não se pode lutar com aumento de impostos”.
E salientou que são os agricultores que estarão na linha da frente desse combate. “Não vão ser meninos da cidade que nunca viram uma vaca ou um bezerro que vão dizer aos agricultores como agir.”