O tempo é de crise mas ainda assim os portugueses sentem que vale a pena investirem numa bela jóia, sobretudo no Verão. As peças em ouro são as mais procuradas, especialmente no Norte do país.
Ao todo, o sector da ourivesaria, ligado à relojoaria de qualidade, vendeu quase 500 milhões de euros, em 2007. Desde então, o sector sentiu uma quebra nas vendas que deverá rondar os 20%, o que significa que as vendas andam pelos 400 milhões de euros por ano, afirmou o presidente da Associação Portuguesa de Gemologia, José Baptista, à Agência Financeira.
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O responsável garante a pés juntos que esta «brecha não está a pôr empregados na rua» e sublinha que «as lojas até têm aderido bem a peças e modelos novos».
«A crise afecta algumas casas de moda, algumas marcas, mas não de forma tão dramática como as pessoas dizem», frisa à AF.
«Somos o único país que abre a porta ao lixo»
Depois de dois dedos de conversa, José Baptista, confessa que o único problema do sector passa pela importação. «Fomos assaltados por uma onda de importação. De tal forma, que chegam a vender peças a profissionais portugueses que não são originais. São imitações. São peças que se vendem bem mas que não são reais», denuncia à AF.
«Somos o único país que abre a porta ao lixo. Os portugueses estão cheios de lixo em casa. Tem peças importadas que não valem nada», atira.
Sector pode gerar 10 vezes mais emprego
Por isso, defende, a mudança só se pode fazer num sentido. «Portugal deve começar a exportar e deixar de importar peças sem qualidade. É essencial produzirmos. Se o fizéssemos o sector poderia gerar 10 vezes mais emprego».
Para já, a Associação prepara-se para criar 6 mil novos empregos no sector, através dos cursos de iniciação à gemologia, que arrancam a 20 de Junho.
«Estamos aqui para formar e criar emprego. Sentimos que as cerca de 5 mil ourivesarias de Norte a Sul do país estão a precisar de técnicos com formação neste campo. Precisamos de sangue novo», frisa, depois de destacar que quem tiver uma equipa mais actualizada, «está melhor».
A meta passa por ensinar o sector a «abraçar» o futuro e a fazer esquecer a crise. «Temos de ser capazes de criar e fazer avanços, porque estamos a ficar dependentes de países que, a este nível, surgiram depois de nós e que nos estão a ultrapassar», como a Itália, a Espanha, a Alemanha e os Estados Unidos.
Estamos a ser «muito maltratados» pelo Governo
Para sairmos da crise, diz, é essencial deixarmos de «falar dela».
«A palavra crise é muito grave, mas também temos de ter em atenção que há uma enorme percentagem de activos (90%), em Portugal, que estão a trabalhar e o país funciona. O que temos de fazer é tentar resolver os problemas dos outros 10%» e, para tal, «não podemos deixar que caia a Nossa Senhora», refere José Baptista, que defende que o Estado deve intervir sempre que há problemas.
«Os nossos melhores ourives querem um emprego e não têm. Equacionam sair de Portugal em busca de oportunidades. Alguém tem de fazer alguma coisa e esse alguém é o Governo», realça.
O responsável diz ainda «o sector está a ser muito maltratado pelo Governo», que permite que qualquer pessoa possa ir à casa da moeda registar-se e começar a vender ouro, sem qualquer tipo de formação. Uma atitude que, na opinião de José Baptista, contribui para «a destruição da ourivesaria portuguesa».
Portugueses compram jóias no valor de 400 milhões num ano
- Carla Pinto Silva
- 12 jun 2009, 08:30
Quebra nas vendas deverá rondar os 20%
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