Há quase um ano que o dólar não cai assim. O índice que mede o desempenho do dólar, face às principais moedas mundiais, está a desvalorizar há alguns dias, para negociar no valor mais baixo desde 2016. Uma descida que, para já, os analistas atribuem mais a indicadores macroeconómicos dos que a qualquer evidência de mais uma aposta falhada da administração Trump, deste a vez na área da saúde.
Entre o fecho de 8 de novembro, quando Donald Trump ganhou as eleições, e a atual cotação, o Dóllar Index reflete uma depreciação de aproximadamente 3,3% e a cotação EUR/USD [euro/ dólar] de 4,6%.
Dollar Index |
EUR/USD |
|
% Var. |
-3,28% |
-4,59% |
Actual |
94,648 |
1,1557 |
08/11/2016 |
97,861 |
1,1026 |
O movimento de depreciação do USD saiu reforçado com os dados da inflação da passada semana (CPI que saiu aos +1,6% ficando abaixo dos esperados 1,7% e do anterior 1,9%), a não evidenciarem aceleração”, diz o responsável de online banking do Banco Carregosa, João Queiroz.
Acrescentando que “os dados menos benignos das vendas a retalho (percentagens de contração) e a queda dos preços da energia têm estado a reforçar este cenário com a probabilidade mais significativa (quando são valores superiores a 70%) de subida da taxa de juro pela FED [Reserva Federal dos Estados Unidos] a deslocarem-se de dezembro próximo para Março de 2018”.
Posição partilhada por José Lagarto, gestor de ativos da Orey iTrade; “Os discursos de Janet Yellen, na semana passada, perante o Senado, vieram aumentar a incerteza dos investidores relativamente ao ritmo de subida da taxa de juro nos EUA. Os números da inflação conhecidos na passada sexta-feira, abaixo do esperado, vieram a aumentar ainda mais essas incertezas. Esta situação levou a uma queda nas yields das treasuries [juros da dívida] norte-americanas, pressionando desta forma o dólar americano”.
A nota verde também se sente das consequências da administração Trump e reflete a incapacidade do atual presidente norte-americano para implementar as medidas que pretende e prometeu durante a campanha eleitoral.
No mercado de ações há setores a sentirem mais este desnorte que outros.
Num contexto de baixas taxas de juro, ausência de pressões inflacionistas e baixos rendimentos, uma depreciação do dólar dos EUA não deveria afetar significativamente os principais setores. Mesmo assim os setores com piores desempenhos são os de “Crude & Gás” ( -34,5% face ao mesmo período de 2016), e “Retalho & Distribuição” (-24% em relação ao homólogo)”, diz João Queiroz.
O fim de qualquer sistema de saúde
No que toca às ações na área da saúde: "Para já, traduz mais a incerteza na aprovação do próximo Trump Care, que na sessão ontem parece ter tido um revés quanto à sua aprovação, pelo que, para já, o anterior programa parece manter-se e o setor de Healthcare evidencia um desempenho acumulado neste ano de +40%", acrescenta ainda responsável de online banking do Banco Carregosa, .
Donald Trump deverá ter nova derrota política. Tudo indica que o Congresso não vai aprovar o Plano de Saúde de substituição do Obamacare.
Nas últimas horas, quatros senadores republicanos manifestaram a oposição à proposta de Trump para revogar o programa de saúde do ex-presidente democrata.
Ou seja, a promessa eleitoral de revogar e substituir o Obamacare está mais longe de se concretizar.
Através do Twitter, Trump dá-se já como derrotado, dizendo: "os republicanos devem simplesmente revogar o Obamacare e trabalhar a partir do zero num novo plano de saúde. Os democratas vão juntar-se."
Republicans should just REPEAL failing ObamaCare now & work on a new Healthcare Plan that will start from a clean slate. Dems will join in!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 18 de julho de 2017
No meio das críticas e das medidas que não são postas em prática pela administração Trump, os analistas preferem esperar para ver e não se comprometem com números.
"Uma extrema depreciação do USD, que conduzisse aos 1.2500 ou 1.3000, é um cenário que aparenta ser algo distante, e refletir-se-ia numa desvalorização dos investimentos efetuados pelo resto do mundo na economia dos EUA. Tal poderia corresponder então a um processo de redução de exposição a ativos daquele país, através de uma venda mais acelerada. Com as consequências que daí decorreriam para a perceção de risco daquela economia", arrisca ainda João Queiroz.