Galp quer "desmistificar a narrativa do Governo": não subsidia combustíveis, só "deixa de ganhar" tanto dinheiro - TVI

Galp quer "desmistificar a narrativa do Governo": não subsidia combustíveis, só "deixa de ganhar" tanto dinheiro

Presidentes executivos da Galp e da EDP participaram num painel dedicado às energias renováveis na CNN Portugal Summit. Dizem que as empresas estão a fazer a transição energética e estão a analisar a possibilidade de concorrer ao leilão para eólicas offshore. Filipe Silva, da Galp, quer negociar com Governo o mercado regulado e aponta o dedo à "narrativa" do Executivo

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Foi com uma pergunta que Anselmo Crespo começou o painel dedicado às energias renováveis da CNN Portugal Summit sobre a transição energética. "Sente-se um alvo?", quis saber o jornalista, dirigindo-se a Miguel Stilwell de Andrade, presidente executivo da EDP. A questão vinha na sequência do ataque com tinta verde ao ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, convidado do painel anterior, e o CEO da EDP foi rápido na resposta. "Nao me sinto de todo um alvo", afirmou, pedindo que o debate sobre ambiente seja feito "de forma construtiva", num comentário às ações dos ativistas.

"Estamos dispostos a ajudar a descarbonizar, estamos do lado certo, do caminho certo que é preciso fazer", disse ainda, sublinhando que o tema da descarbonização é muito importante para a EDP, que se propõe a descarbonizar a sua cadeia de valor até 2040. 

Já Filipe Silva, CEO da Galp, admitiu que "há muita frustação", sobretudo entre as gerações mais novas, com o aumento da temperatura do planeta. "Recordo que 83% da energia primária do mundo é fóssil, o problema que temos entre mãos é muito grande e demora tempo. E as alternativas são ainda mais caras", observou. "Quando vejo estes jovens a fazerem o que fizeram, gostava de perguntar: 'diz-me, em que te posso ajudar, a minha geração herdou este problema, diz-me, como saímos disto?'", acrescentou o presidente executivo da Galp.

Filipe Silva revelou ainda que, do investimento de 650 milhões de euros da Galp na refinaria de Sines, menos de 4% tem suporte direto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). "São os acionistas da Galp a fazer a sua própria transição energética, porque sabemos que é o caminho e a coisa certa para fazer", sublinhou.

Desmistificar a "narrativa do governo" sobre os subsídios aos combustíveis

O CEO da Galp foi ainda questionado sobre a mais a recente descida no Imposto sobre os Produtos Petrolíferos, anunciada na segunda-feira pelo Ministério das Finanças, perante as subidas no preço dos combustíveis. E optou por sublinhar que "é importante desmistificar a narrativa do Governo": quando o Executivo ganha e depois diz que subsidia, apontou, não é bem assim. "Deixa de ganhar, ou não ganha tanto. Não ganha ainda mais", apontou Filipe Silva, comentando a descida do imposto. "Neutraliza esse encaixe extra, porque não há subsídio nenhum. Não há produto mais taxado em Portugal do que os combustíveis", declarou. 

O presidente executivo da Galp defendeu também que "o que pode ser eletrificado tem de ser eletrificado o mais rápido possível". E admitiu que a empresa não está contente com o acesso ao mercado regulado de gás natural, que o Governo permitiu para aliviar as famílias de tarifas mais altas. "É uma questão que vamos ter de resolver com o Estado português. Não estamos contentes”, frisou, apontando ainda a "concorrência super agressiva" que existe no mercado dos combustíveis.

Miguel Stilwell de Andrade e Filipe Silva revelaram ainda que as empresas que lideram estão a analisar a possibilidade de concorrer ao leilão para as eólicas no mar - eólicas offshore - que o Governo pretende lançar ainda em 2023.

Stilwell de Andrade disse que a decisão vai depender de uma série de condições, que ainda não são conhecidas uma vez que o caderno de encargos não é público. Mas alertou para o custo da tecnologia flutuante, que está num estado embrionário. Filipe Silva , por seu lado, defendeu que é importante saber quem vai pagar o custo daquela tecnologia. "Se é para carregar ainda mais o défice tarifário de Portugal, isso não é bom para o contribuinte", defendeu. 

Questionados também sobre o que podemos esperar do próximo inverno, em termos energéticos, ambos os CEO admitiram que a situação é melhor em 2023 do que era no ano passado. "Estamos bem preparados", disse o CEO da EDP. O CEO da Galp corroborou e acrescentou que as reservas de gás da Europa estão preenchidas e "mesmo assumindo que o gás russo deixa de abastecer totalmente a Europa, porque ainda não houve um corte total, se o inverno não for muito frio, pode ser que corra tudo bem". "Se tivermos um inverno frio, o preço do gás pode subir e tem consequências no preço da eletricidade, que serão mais elevados", resumiu. 

Painel sobre inovação e negócios mais sustentáveis na CNN Summit dedicada à transição energética (Foto: Rodrigo Cabrita)

Depois do painel com os presidentes executivos da EDP e da Galp, seguiu-se a sessão da CNN Summit dedicada à inovação e negócios mais sustentáveis, com Sílvia Machado, diretora executiva para a sustentabilidade da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, o professor catedrático João Peças Lopes, da Universidade do Porto, e Patrícia Fortes, investigadora da Universidade Nova, com moderação da jornalista Rita Rodrigues. 

O encerramento da CNN Portugal Summit "A nova energia é verde" ficou a cargo de Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais. 

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