Saúde, Habitação e salários. Mariana Mortágua e Luís Montenegro discordaram nos três temas que estiveram em debate no frente a frente desta terça-feira, na TVI. Enquanto Montenegro acusa a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) de ser “obcecada com o Estado”, Mariana Mortágua critica o programa (ou, no caso, a falta dele) da Aliança Democrática (AD), descrevendo-o mesmo como “uma cópia do programa extremista da IL e até do Chega”.
“É um programa que quer uma saúde mais cara e pior para as pessoas”, critica Mariana Mortágua, apontando como exemplo o cheque-cirurgia proposto pela AD que, lembra, já existe “há dez anos” e “não resolveu nenhum problema na saúde”. Pelo contrário, diz, “as filas de espera só aumentaram”, inclusive no privado. “Se todos os doentes fossem enviados para o privado, privado não teria resposta, e o que ia acontecer eram filas de espera no privado. A não ser que o privado fosse contratar médicos ao SNS”, argumenta.
Em resposta, Luís Montenegro lamenta que Mariana Mortágua “tenha tão pouca esperança no SNS”. “Eu confio muito no SNS e acho que vale a pena salvá-lo daquilo que foi uma caminhada de designação que tem o seu cunho e a sua contribuição”, diz, apontando o dedo à coordenadora do Bloco, lembrando a geringonça entre o PS, o BE e o PCP.
Mais do que problemas estruturais, Montenegro diz que o SNS atravessa agora “uma situação de urgência”, para a qual garante ter respostas, desde logo aprovando um programa de emergência logo nos primeiros 60 dias de governo. Neste período, concretiza, a AD compromete-se a atribuir um médico de família a todos os portugueses, “em complementaridade” com o privado e social. Já em relação ao cheque-cirurgias, Montenegro diz que esse voucher “será endossado ao doente no próprio dia” em que ultrapassar o tempo máximo de filas de espera, que ambiciona pôr fim em 2024 ou 2025.
Mariana Mortágua contra-ataca, afirmando que as pessoas “não confiam” nos vales de cirurgias e lembra as conclusões do Tribunal de Contas para justificar os riscos das PPP. “O PSD quer entregar a saúde a quem quer burlar a saúde”, acusa.
Perante a insistência da coordenadora do Bloco no tema da saúde, Montenegro diz que Mortágua parece estar a posicionar-se já como “candidata a ministra de Saúde de Pedro Nuno Santos” e acusa-a de viver “obcecada com o Estado”. O líder dos sociais-democratas sublinha que os hospitais, uma vez em regime de PPP, apresentaram melhores resultados. “O Bloco fala de um país que não existe”, critica.
Veja quem ganhou o debate aqui
A reunião entre PSD e Putin e a "nova Venezuela" de Mortágua
Também na habitação não houve consenso entre os dois candidatos. O Bloco de Esquerda volta a defender tetos máximos nas rendas e critica as taxas de juro, enquanto a AD defende uma atuação sobre a oferta e sobre a procura. “Menos burocracia, regras mais ágeis e menos fiscalidade”, enumera Montenegro.
Para Mariana Mortágua, as propostas da AD para a habitação mais não são do que “uma política de especulação e selva no arrendamento” e critica ainda o facto de a coligação não apresentar qualquer proposta para o crédito à habitação. A coordenadora do Bloco acusa depois o PSD de ter ido à Rússia para “negociar com a oligarquia de Putin” para vender vistos Gold, sublinhando que é por essa razão que os custos do imobiliário estão tão elevados.
Em resposta, Montenegro diz que o que o Bloco de Esquerda ambiciona é transformar Portugal numa “nova Venezuela ou Cuba”. Já para Mariana Mortágua, “não há nada mais extremista ou radical do que uma renda de 1.500 euros por um T1”.
Ainda sobre o tema da habitação, Montenegro argumenta que “não há investimento possível na baixa de Lisboa para fazer construções a custo controlado”, sublinhando que a requalificação desse edificado comporta um custo que “não é comportável” para os investidores.
O "engodo" da AD nos salários e a "folga à classe média" nos impostos
Da habitação, o debate prossegue para o tema dos salários. Mariana Mortágua critica a proposta da AD sobre o pagamento de um 15.º mês de salário isento de impostos para os trabalhadores que cumprirem os objetivos de produtividade, descrevendo-o mesmo como “um engodo”. “Se é preciso subir os salários, porque não sobem? Porque é que se engana as pessoas?”, questiona a coordenadora bloquista, acusando a AD de só ter uma “única forma” de gerir a economia: “dar dinheiro público a grandes empresas.”
O líder do PSD, por sua vez, critica a carga fiscal, argumentando que “os impostos elevados comprimem a capacidade do país de criar riqueza e pagar melhores salários”. “Temos de dar folga à classe média” com uma baixa do IRS, defende Montenegro