O debate Luís Montenegro-Paulo Raimundo começou com cenários de governabilidade. “Serei primeiro-ministro se for escolhido pelos portugueses e ganhar as eleições”, afirmou o presidente do PSD. Para lembrar que “não seria a primeira vez que o PSD se poria a governar o país nestas circunstâncias”. Sobre a viabilização de um governo minoritário do PS manteve o tabu.
Outra coisa é certa: Montenegro não contará com o apoio do PCP. “É uma evidência, seria uma hipocrisia dizer que a CDU apoiaria um governo da AD”, garantiu Raimundo. Mas e o PS teria direito a esse apoio? Para o comunista, tudo depende do “conteúdo” das políticas que estiverem em cima da mesa depois de 10 de março.
Pensões em destaque
O PCP propõe um aumento de 7,5% nas pensões este ano, com um mínimo de 70 euros. A isso junta aumentos permanentes durante a legislatura, no mínimo acima da inflação”. Paulo Raimundo veio com as contas feitas para 2024: a medida custa 1.600 milhões de euros, “curiosamente o mesmo valor que o Orçamento do Estado decidiu atribuir em benefícios fiscais aos grupos económicos".
Mas o PSD desconfiou, quis as contas para quatro anos. Para Montenegro, a proposta comunista não tem qualquer "exequibilidade", lembrando que “um aumento agora tem uma vigência permanente".
Se o PSD se quer “reconciliar com os pensionistas”, Raimundo lembrou que os partidos de direita foram os "recordistas dos cortes de pensões". E que o PSD não acompanhou a proposta que o PCP levou ao Parlamento, para dar um “sinal”.
"O corte que houve e que salvaguardou todas as pensões mais baixas foi inscrito no memorando de entendimento negociado pelo PS", reagiu Montenegro. Aos pensionistas, disse que podem “confiar”: com um "um aumento das pensões no mínimo equivalente à inflação". Nas pensões mais baixas, garantiu, o aumento irá superar esse limiar legal. Junta-se ainda o complemento solidário para idosos, permitindo um rendimento mínimo de 820 euros no final da legislatura.
O PCP não acredita que este quadro seja para cumprir: “estamos numa chuva de promessas”
Maneiras diferentes de subir salários
O PCP propõe um aumento de 15% nos salários, no mínimo de 150 euros, no público e no privado. A medida, confirmou Raimundo, teria um custo na ordem dos 15 mil milhões de euros. Mas para os comunistas a origem do dinheiro é simples: passariam "do capital para o trabalho". "É muito dinheiro, de facto. É para fazer agora, porque agora é que é preciso. Não vale a pena virem com o choradinho que não há dinheiro, que isso não cola."
Mas Montenegro, que quer o salário médio de 1.750 euros no final da legislatura, argumentou que há outra forma para subir os salários: “desbloquear os constrangimentos" que têm impedido um maior crescimento da economia, nomeadamente a "política fiscal".
Colagens PS-PSD
Ao longo do debate, Paulo Raimundo procurou colar o PSD ao PS. “O PS, para mal dos nossos pecados, roubou as bandeiras fundamentais do PSD”, atirou o comunista.
E Montenegro reparou bem nesta estratégia: "Paulo Raimundo quer juntar o PS e o PSD mas não lhe admito isso. Se há coisa que vamos fazer é o contrário do que fez o PS, mas o mesmo já não é válido para si."