Há quase 40 anos que o caso de Emanuela Orlandi intriga e embaraça o Vaticano. A jovem tinha 15 anos quando desapareceu, depois de sair de casa para uma aula de flauta. Nunca mais foi vista e, apesar das muitas pistas falsas e das inúmeras teorias, nunca se conseguiu uma explicação concreta para o que lhe aconteceu.
Agora, poucos meses depois da estreia na Netflix de “A Rapariga Desaparecida do Vaticano” e após muita insistência da família, o Vaticano resolveu reabrir a investigação. O promotor de justiça do Vaticano, Alessandro Diddi, anunciou a reabertura do caso, após vários pedidos do irmão mais velho de Emanuela, Pietro, que tem feito uma campanha junto da sociedade e dos poderes político e judicial para descobrir a verdade.
A notícia foi avançada por três agências noticiosas italianas – LaPresse, ANSA e Adnkronos, embora a advogada da família, Laura Sgrò , assegure que nada lhe foi comunicado oficialmente.
“Só soubemos da investigação pela imprensa. Há um ano, escrevemos ao Papa com a intenção de falar com o promotor da justiça. É claro que estamos felizes por eles estarem a fazer uma investigação, mas esperamos que isso realmente forneça respostas concretas”, disse a jurista, citada pelo jornal britânico The Guardian.
De acordo com a agência Adnkronos, “todos os arquivos, documentos, relatórios, informações e testemunhos” relacionados ao caso vão ser reexaminados para esclarecer vários pormenores. “Não vai ser deixada pedra sobre pedra”, asseguram as autoridades do Vaticano.
Ainda de acordo com a imprensa italiana, a investigação vai agora centrar-se também no caso de Mirella Gregori, que também tinha 15 anos quando desapareceu, em Roma, semanas antes de Emanuela. Mirella saiu de casa, contando à mãe que tinha um encontro e já não voltou. Há muito que se acredita que pode haver uma ligação entre os dois casos.
O caso
Emanuela Orlandi vivia com a família na cidade do Vaticano, em Roma. Era filha de um proeminente funcionário do Vaticano (o pai trabalhava mesmo na casa do Papa) e desapareceu misteriosamente a 22 de junho de 1983. Até hoje, não se sabe se está viva ou morta. Emanuela, então com 15 anos, saiu de casa para as aulas de música. Era suposto apanhar um autocarro, fora dos muros da cidade do Vaticano, até à Basílica Sant'Apollinare. Ninguém sabe se o chegou a fazer. Nunca mais se soube nada dela.
A família, sobretudo o irmão, Pietro Orlandi, nunca deixou esquecer o caso. Tem feito pressão junto das autoridades judiciais e políticas para o caso continuar a ser investigado. Pediu mesmo ao Vaticano que crie uma comissão de inquérito para investigar o caso.
Em 2019, recebeu uma pista que o levou até um pequeno cemitério, dentro da cidade do Vaticano, a poucos metros da casa dos pais. Em março de 2019, a família recebeu uma misteriosa e anónima pista. Uma mensagem acompanhada da fotografia da escultura de um anjo e que dizia “olhem para onde aponta o anjo”.
Pietro conseguiu que fossem abertas as sepulturas para onde apontava o anjo da fotografia. Não conseguiu nenhuma resposta.
As várias teorias
Muitas têm sido as teorias avançadas para explicar o desaparecimento de Emanuela Orlandi. Algumas foram relatadas no documentário da Netflix. Uma dessas hipóteses foi levantada no documentário por uma amiga de infância de Emanuela Orlandi. Em entrevista para a série do canal de streaming, a amiga de Emanuela assegura que a adolescente foi abusada por “alguém próximo ao Papa”, que, na altura, era João Paulo II.
Outra teoria revelada no documentário adiantava que Emanuela tinha sido levada para Londres, onde viveu num albergue de uma instituição Católica, a expensas do Vaticano. De acordo com esta teoria, foi lá que acabou por morrer e os seus restos mortais foram depois levados para o Vaticano, onde foram enterrados.
Outra das teorias aponta para o rapto de Emanuela por parte de um grupo que tinha como intenção chantagear o Vaticano, com vista à libertação de Mehmet Ali Ağca, que tinha sido preso dois anos antes, acusado de uma tentativa de assassinato do Papa João Paulo II.
Há ainda uma linha de pensamento que aponta para o sequestro de Emanuela por parte de um cabecilha de um grupo da máfia italiana, Banda della Magliana. O intuito seria recuperar dinheiro por alguns grupos mafiosos, após o colapso do Banco Ambrosiano, ligado ao Vaticano. O alegado sequestrador, Enrico De Pedis, falecido em 1990, terá ordenado a morte da jovem, depois de receber as indicações do então presidente do Banco do Vaticano, Paul Marcinkus. Foi pelo menos isso que indicou a viúva do mafioso. Em 2012, foram encontradas ossadas junto à tumba de De Pedis, na Basílica de Sant'Apolinare, mas análises de ADN descartaram que pertencessem a Emanuela.
Recentemente, foi divulgado o testemunho, datado de 2008, de outro antigo chefe da Máfia. Salvatore Sarnataro acusava o próprio filho, Marco, de ter sequestrado Orlando a mando de De Pedis, para a entregar a outro chefe de outro clã da máfia. Marco teria recebido como forma de pagamento uma moto Suzuki 1100.