O lançamento do ChatGPT a 30 de novembro de 2022 levou a discussão em redor do impacto da inteligência artificial nas economias e nas sociedades para outro nível. Desde então muito se tem especulado sobre a quantidade de empregos que irão desaparecer e também aqueles que serão criados nos próximos anos.
No ano passado, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) fez um inquérito junto de mais de duas mil empresas e 5.300 trabalhadores dos setores da indústria transformadora e da área financeira de sete países da OCDE, e concluiu que os trabalhadores dizem que a inteligência artificial pode melhorar o trabalho, mas receiam que possa ameaçar os seus empregos e salários.
No relatório “OCDE Emprego Outlook 2023” publicado esta terça-feira, a OCDE revela que três em cinco trabalhadores mostram-se preocupados em perder o seu trabalho para a inteligência artificial nos próximos dez anos; e que dois em cinco trabalhadores expressa preocupações de que os seus salários possam baixar nos próximos dez anos, como resultado da robotização da economia.
“Tendo em conta o efeito da inteligência artificial, as profissões com maior risco de automatização representam cerca de 27% do emprego”, escreve Stefano Scarpetta, diretor do departamento do emprego, trabalho e assuntos sociais da OCDE.
O Luxemburgo, o Reino Unido e a Suécia apresentam as percentagens mais baixas de emprego nas profissões com maior risco de automatização, enquanto a Hungria, a Eslováquia e a República Checa apresentam as percentagens mais elevadas. Portugal, segundo cálculos da OCDE, tem cerca de 30% dos seus postos de trabalho “ameaçados” pela inteligência artificial.
Impacto da inteligência artificial
Com cerca de 30% dos postos de trabalho em risco de serem substituídos pela automatização, Portugal é um dos oito países da OCDE com maior percentagem dos empregos ameaçados pela inteligência artificial.
Apesar de todas estas preocupações, o relatório da OCDE destaca que quase dois terços (cerca de 63%) dos trabalhadores revela que a inteligência artificial trouxe um impacto positivo na qualidade dos seus empregos. Todavia, segundo a avaliação da OCDE, “o impacto da inteligência artificial nos níveis de emprego ser limitado até à data e que, atualmente, não está associada a quaisquer alterações importantes nos salários, positivas ou negativas”.
Como ponto de preocupação da adoção de cada vez mais algoritmos na gestão da vida das pessoas e das empresas, o estudo da OCDE refere que o uso da inteligência artificial está a gerar uma intensificação do trabalho nas organizações e a agravar uma série de problemas sociais e de saúde.
“A monitorização constante e generalizada, e as avaliações de desempenho baseadas em dados possibilitadas pela inteligência artificial podem criar um ambiente de elevado stress com impactos negativos na saúde mental, uma vez que os trabalhadores podem sentir-se constantemente escrutinados e sob pressão para realizar o seu trabalho”, lê-se no relatório da OCDE.
Além disso, a OCDE salienta também que a utilização da inteligência artificial “acarreta sérios desafios éticos em matéria de proteção de dados e privacidade, transparência e explicabilidade, preconceitos e discriminação, tomada automática de decisões e responsabilização”.
O relatório destaca muitos exemplos reais de ferramentas de inteligência artificial que incorporaram preconceitos humanos contra mulheres, pessoas com deficiência e minorias étnicas ou raciais. “No nosso inquérito, muitos trabalhadores manifestaram a sua preocupação com a possibilidade de a inteligência artificial recolher dados sobre eles enquanto indivíduos ou sobre a forma como fazem o seu trabalho”, refere Stefano Scarpetta.