Um aluno do Ensino Secundário Profissional tem maior facilidade em entrar no mercado de trabalho do que dos alunos dos Cursos Científico-Humanísticos. Esta é um das conclusões do estudo do EDULOG, uma iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo. Áreas metropolitanas de Lisboa e Porto concentram 40% do total de cursos profissionais existentes.
Atualmente, 45% de estudantes estão no Ensino e Formação Profissional, ocupando Portugal a posição 19.ª do ranking europeu de países com mais alunos a frequentar esta tipo de ensino, segundo o estudo. O país europeu que ocupa o lugar cimeiro do ranking é a República Checa com 73%.
“Deve ser feito um esforço por parte de todos os agentes para se evidenciar as mais-valias desta formação e o horizonte efetivo de empregabilidade que ela proporciona”, referiu David Justino, membro do Conselho Consultivo do EDULOG.
A maioria dos estudantes que frequentaram Cursos Científico-humanísticos, cerca de 32%, provêm de famílias onde o ensino superior é o nível de escolaridade dominante. Já no caso dos alunos dos cursos profissionais, apenas 9% fazem parte de famílias com o ensino superior como o nível de escolaridade dominante, estando a maioria inseridos em níveis de escolaridades inferiores.
“Estes números demonstram uma tendência dos estudantes de famílias com formação mais baixa optarem pelos Cursos Profissionalmente Qualificantes do que os estudantes de famílias com mais formação académica, que se evidenciam mais nos Cursos Científico-humanísticos”, lê-se no estudo “Como valorizar o Ensino Secundário Profissional? Dilemas, Desafios e Oportunidades”.
Entre 2018 e 2021, mais de metade da oferta de cursos profissionais em Portugal pertenciam a três áreas de estudo: Serviços; Engenharia, Indústrias Transformadoras e Construção; e Saúde e Proteção Social. Os cursos nas áreas das Ciências Informáticas, da Hotelaria e da Restauração representam um terço do total da oferta formativa profissional. Cerca de 81,5% dos cursos são destinados ao setor terciário, 16,6% ao setor secundário e apenas 1,9% ao setor primário.
Mas qual é o perfil dos alunos que frequentam o ensino profissional em Portugal? O estudo do EDULOG identificou três: estudantes com historial de baixo desempenho académico — perfil dominante; alunos com um histórico de bom desempenho escolar e motivados pelo “ensino aplicado, a aprendizagem de uma profissão e a perspetiva de empregabilidade”; e os que não pretendem ou ponderam entrar no mercado de trabalho, mas orientados para a prosseguir estudos no ensino superior.
O estudo concluiu ainda que há uma maior propensão para prosseguir estudos, seja de forma exclusiva ou a trabalhar em simultâneo, nos alunos que terminam o curso com uma média mais elevada.
“Outro dado relevante é o facto de os alunos do Ensino Profissional de zonas com maior densidade populacional terem mais probabilidade de serem bem-sucedidos, tanto nos seus percursos profissionais como académicos, uma vez que as características das regiões têm interferência no seu percurso”, refere o estudo.
Recomendações: valorizar ensino profissional
Porém, o EDULOG alertou que o Ensino Secundário Profissional precisa de políticas que fomentem a sua valorização e que uma das questões fundamentais que têm de ser debatida é o próprio conceito de sucesso do Ensino Secundário Profissional. “É necessário que exista este debate para desmistificar, encontrar consensos, delinear estratégias e envolver os intervenientes num novo paradigma do Ensino Secundário Profissional”, refere.
“É importante que o número de estudantes do Ensino Secundário Profissional que não tenham dificuldades de desempenho e que se sintam motivados para entrar no mercado de trabalho possa crescer e, para que isso aconteça, é preciso redefinir a estratégia deste tipo de ensino e dar a conhecer a sua ligação ao mercado empresarial, por forma a que haja um maior contacto entre estudantes e empregadores”, lê-se no estudo.
Outra das recomendações do EDULOG é o reconhecimento do valor do ensino Secundário Profissional dentro das escolas. Para tal, considera ser necessário que os professores partilhem os “mecanismos de avaliação do seu sucesso” e do que se faz neste tipo de ensino, fomentando a participação dos intervenientes, tanto diplomados como empregadores.
Dar prioridade à empregabilidade e à valorização profissional na oferta formativa deste tipo de ensino, criar condições que facilitem a experiência profissional e criar mais iniciativas de preparação para a procura de emprego por parte dos finalistas do Ensino Secundário Profissional são outras das recomendações.