Os cursos Medicina só vão ter mias 13 vagas este ano do que no ano passado. De acordo com os números da Direção-Geral do Ensino Superior conhecidos este domingo, há um total de 1554 vagas nas 10 instituições públicas que têm o curso de Medicina. São mais 13 vagas do que no concurso nacional de acesso de 2023.
A Universidade de Coimbra e a da Beira Interior, com mais oito e mais cinco vagas respetivamente, são as únicas duas instituições que aumentaram o número vagas. Todas as outras mantêm o mesmo número do ano passado e a Universidade do Algarve voltou a não abrir qualquer vaga para o curso de Medicina.
A Saúde tem sido um dos setores com maior contestação nos últimos meses, com urgências fechadas ou a rebentar pelas costuras, por falta de médicos no Sistema Nacional de Saúde.
Em 2023, antes do meio do ano, os médicos começaram a fazer greve às horas extraordinárias e a recusarem fazer mais do que as 150 a que estão obrigados por lei. Sobretudo em especialidades como Ginecologia e Obstetrícia e Medicina Interna, havia médicos que, quando começaram os protestos que duraram até ao fim do ano, já tinha cumprido mais de 600 horas extraordinárias.
Mas os médicos dizem que o problema da falta de médicos no SNS “não está à entrada nas universidades”, mas sim à saída. “O foco tem de ser colocado no SNS para o tornar mais atrativo, mais competitivo e mais capaz de fixar os profissionais. Mesmo que aumentássemos exponencialmente as vagas no Ensino Superior, ia haver falta de médicos no SNS. Todos os anos, centenas de vagas na especialidade não são ocupadas todos os anos. Todos os anos, ficam por preencher centenas de vagas no SNS, mas não por falta de profissionais em Portugal”, diz Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos.
O responsável diz ainda que o aumento do número de vagas está em linha com o recomendado pelo grupo de trabalho do anterior Ministério do Ensino Superior e do Ministério da Saúde, que “apontava para um aumento entre 1 a 2% dos estudantes no Ensino, para fazer face no futuro”. “É um número muito residual e este aumento está até nessa ordem”, diz Carlos Cortes.
Também Joana Bordalo e Sá, da Federação Nacional dos Médicos diz que “não há necessidade de formar mais médicos em Portugal”. A dirigente sindical lembra que existem “cerca de 60 mil médicos” no país. “Mas, desses, apenas cerca de metade estão no SNS. E, desses, 10 mil são internos ou em formação. Portanto, na prática, só temos 21 mil médicos especialistas no SNS”, contabiliza.
Joana Bordalo e Sá remata dizendo que “temos de atrair profissionais para o SNS, nomeadamente com melhores salários e condições de trabalho”.
Nuno Rodrigues, dirigente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), alinha pelo mesmo diapasão e lembra que "as faculdades de medicina têm de garantir a qualidade da formação dos seus alunos". "Tem sido difícil arranjar condições físicas e docentes necessários para a formação de qualidade em Medicina. É um curso que difere dos outros porque deve ter uma componente eminentemente prática", sublinha.
O responsável do SIM acrescenta ainda que a falta de médicos no SNS tem também implicação na formação de novos profissionais: "A incapacidade de retenção de médicos especialistas no SNS, onde 99% dos médicos são formados e que inclui os principais hospitais universitários, tem impactado também a formação de mais médicos".