Nas sociedades, em geral, o erro é frequentemente estigmatizado, sendo percebido como um desvio indesejável da trajetória idealizada para o sucesso. No entanto, essa visão parece-me muito limitada e negativa, para além de obscurecer o imenso potencial de aprendizagem que reside nos erros. Com certeza que todos nós já lemos ou aprendemos que houve grandes invenções descobertas por acaso.
Nesse sentido, a tolerância e o estímulo do erro são cruciais para o desenvolvimento individual e coletivo, impulsionando a criatividade, a inovação e o aperfeiçoamento contínuo em diversas áreas da vida.
Não podemos, em contexto escolar, usar esta ferramenta pedagógica se fora dela a mesma tolerância é vista precisamente de forma oposta. Grandes pensadores e educadores ao longo da história reconheceram o valor do erro como ferramenta pedagógica. Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica, famosamente disse: "Eu não falhei, apenas descobri 10.000 maneiras que não funcionam." Essa mentalidade resiliente e persistente, que olha para o erro como um passo necessário para o sucesso, é fundamental para a inovação e o progresso de todas as organizações e consequentemente para a própria sociedade. Só erra quem faz, só erra quem tenta fazer e esse ato, por si só, já devia ser valorizado. Caso contrário o melhor é não fazer nada por medo de errar!
O psicólogo Jean Piaget, pioneiro no estudo do desenvolvimento cognitivo infantil, observou que as crianças aprendem através da interação com o mundo, experimentando, errando e ajustando as suas hipóteses. Essa abordagem construtivista coloca o erro no centro do processo de aprendizagem, como um elemento essencial para o desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia e da metacognição.
Na neurociência, pesquisas recentes têm demonstrado que o cérebro aprende com os erros através do processo de "reconsolidação da memória". Quando cometemos um erro, o cérebro reativa a memória do evento, permitindo que as novas informações sejam incorporadas e a memória seja atualizada. Esse processo de aprendizagem a partir do erro é essencial para a adaptação e a neuroplasticidade. Se as crianças não falham, não aprendem. Se, nós, não permitimos que elas falhem, não estamos a permitir que elas aprendem.
A tolerância ao erro deve fazer parte do dia a dia das organizações escolares, por forma a poder-se criar um ambiente de aprendizagem positivo. Um ambiente onde todos podemos falhar, onde todos podemos aprender uns com os outros, onde o erro é parte constituinte. Só assim, quando o erro é visto como uma oportunidade de crescimento, é que as pessoas se sentem mais à vontade para explorar novas ideias, experimentar diferentes abordagens e arriscar-se na procura de outras soluções. Quantas formas há para se chegar ao resultado de uma situação problemática?
Um exemplo notável da importância da tolerância ao erro é a cultura de start-ups que existe em Silicon Valley, região da Califórnia, nos Estados Unidos da América, fértil em inovações tecnológicas e científicas. Aí o fracasso é visto como uma experiência de aprendizagem valiosa e os empreendedores são encorajados a "falhar rápido e a aprender rápido".
Essa mentalidade de experimentação e aprendizagem contínua, em organizações não educativas, tem sido fundamental para o sucesso de empresas como Google, Facebook e Amazon.
Existem diversas estratégias que podem ser utilizadas para incentivar o erro como ferramenta pedagógica em diferentes contextos. Na educação, área onde desenvolvo atividade, a pedagogia do erro, que valoriza o erro como oportunidade de aprendizagem, pode ser implementada através de atividades que incentivam a experimentação, a reflexão e a colaboração entre os alunos. A avaliação formativa, que se concentra no feedback e no progresso individual, direto e imediato sem ter de recorrer a grelhas e cruzinhas, pode ser utilizada para ajudar os alunos a aprender com os seus erros e a desenvolver as suas habilidades.
Nas organizações, nomeadamente a escola, pode-se promover uma cultura de experimentação e aprendizagem, incentivando os funcionários a compartilhar as suas ideias e a aprender com os seus erros. Criar uma cultura de “todos colaboram”, todos interagem, todos ajudam na tomada de decisões, todos podem errar e todos os que se predispõem a errar, aprendem!
O erro é uma parte inevitável da vida e, quando abordado de forma construtiva, pode ser um poderoso catalisador de aprendizagem e crescimento, seja individual, seja organizacional. Ao “abraçarmos” o erro como uma oportunidade de aprendizagem, somos mesmo capazes de aprender.