«Europa é uma manta de retalhos e está à deriva» - TVI

«Europa é uma manta de retalhos e está à deriva»

Esta é Boca

«Temo o pior para o meu país», diz ex-grão-mestre do GOL, Eugénio de Oliveira

A Europa «é uma manta de retalhos» e «está à deriva» e Portugal vive uma situação «de ruína» pela qual são responsáveis todos os que governaram, considera o antigo grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) Eugénio de Oliveira.

«Isto está em roda livre, como o senhor sabe todos os governos são co-responsáveis, não há nenhum que possa agora sacudir a água do capote, porque todos eles é que pediram todos estes dinheiros emprestados, até certo ponto à revelia do povo», afirma em entrevista à Lusa o coronel Eugénio de Oliveira, um dos principais protagonistas do fracassado golpe de Beja de há cinquenta anos.

O também resistente antifascista assinala que «em várias intervenções» quando era grão-mestre do GOL, entre 1996 e 2002, disse «que o país caminhava para o abismo».

«Era só pedir dinheiro emprestado, pedir dinheiro emprestado, e depois pagavam com o quê? Esta perversão toda levou a este estado de coisas. Deixaram o país de uma forma completamente arruinada, não sei qual vai ser a saída, não sou bruxo, mas prevejo dias muito maus», diz.

Para o antigo líder do GOL-Maçonaria Portuguesa, também a Europa actual «está falida» em termos de liderança e de soluções e vive «uma democracia de faz de conta», dominada pelo «capitalismo selvagem».

«Gostaria que o nosso país e a Europa, e o mundo em geral, tivessem um outro caminho, mas não está nas minhas mãos, não posso fazer nada (...) Eu não sou optimista, nem sou pessimista, o optimismo é uma doença, o pessimismo é a mesma coisa, eu tento ser realista, mas o que é que vejo? O povo não está motivado, as pessoas estão desinteressadas, isto é muito mau», reforça o militar.

No plano interno, Eugénio de Oliveira critica uma «sociedade civil que funciona mal» e os membros dos sucessivos governos por «inconsciência» e «ânsia de poder», considerando ainda que o executivo liderado Pedro Passos Coelho tem de ser menos «correia de transmissão da ¿troika¿» e reconhecer que «não há nenhum país no mundo que cresça se não houver investimento, se não produzir».

«O poder deve discutir e dialogar mais, vamos encontrar um caminho, todos nós, direita e esquerda, isso para mim não tem importância de maior, eu gosto de homens de carácter, que tenham ideais, ninguém pode viver sem ideais», defende.

Fundador da Casa de Goa, Eugénio de Oliveira diz ainda que os sacrifícios «têm de ser explicados ao povo» e critica que «nem se saiba qual é o montante da dívida» portuguesa.

«Quando não há diálogo, há violência. Temo o pior para o meu país», afirma.

»Eu acho que houve uma inconsciência muito grande, não quero dizer que houve um propósito, mas sei lá, houve de tudo um pouco à mistura, se calhar. Às vezes penso, esta gente encaminhou o país de tal maneira, tendo esbanjado dinheiro de uma forma completamente desregulada, teriam tido algum objectivo? Para levar o país a uma ditadura? Às vezes formulo esta pergunta a mim mesmo», confessa Eugénio de Oliveira.
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