«FARC actuam de forma tão criminosa como Bush» - TVI

«FARC actuam de forma tão criminosa como Bush»

«José Saramago. A consistência dos sonhos»

José Saramago critica guerrilha numa entrevista a um diário colombiano

O escritor José Saramago comparou os métodos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) aos usados pelos exércitos medievais, sustentando que ninguém que se considere humano aprova o sequestro para alcançar objectivos políticos, diz a Lusa.

Numa entrevista publicada este domingo no diário colombiano «El Espectador», o Prémio Nobel da Literatura fala sobre a sua visão do conflito colombiano e aproveita para enviar uma mensagem de apoio aos reféns em poder das FARC, que classifica de terroristas.

«Não podemos libertá-los, podemos enviar-lhes a nossa solidariedade e a nossa impotência. Mas, quem sabe, muitas impotências juntas talvez façam uma potência: é bom que nos manifestemos todos. Para consolar, para pressionar, para nos salvarmos da humilhação de haver gente sequestrada», afirmou.

Para Saramago, as FARC «não nos oferecem mais do que o poder tem feito sempre, ao longo da história, que é exercer a força contra os mais fracos», e comparou a guerrilha aos exércitos medievais, que faziam uma «política de terra queimada».

Questionou-se, se algum dia os rebeldes chegassem ao poder, «manteriam o sequestro e a morte como linha de actuação? Para isso é necessária uma revolução? Não actuam de forma tão criminosa como George W. Bush?». «Que diferença existe entre os sequestros de Guantánamo, as guerras preventivas no Iraque, as torturas nas prisões secretas e aquilo que [as FARC] fazem?», continuou.

«A minha existência de homem e de escritor está justificada neste momento»

Apontou que espera poder abraçar o ex-deputado colombiano Sigifredo López, libertado a 5 de Fevereiro pelas FARC, ao fim de um sequestro de quase sete anos, na sequência do trabalho de uma comissão humanitária liderada por Pieded Córdoba, dirigente do movimento social e humanitário Colombianos por la Paz.

Saramago disse que chorou quando, ao ver a conferência de imprensa realizada após a libertação, Sigifredo López fez uma alusão a personagens de uma obra sua, recentemente transposta para o cinema.

«Choro com facilidade, e não por culpa da idade. Mas, desta vez, vi-me obrigado a romper em soluços quando Sigifredo [López], para exprimir a sua infinita gratidão a Piedad [Córdoba], a comparou à mulher do médico de Ensaio sobre a Cegueira. Toda a minha existência de homem e de escritor está justificada nesse momento», confessou.
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