Há matemática na beleza de um rosto? Uma fórmula ajuda a explicar o que os nossos olhos consideram bonito - TVI

Há matemática na beleza de um rosto? Uma fórmula ajuda a explicar o que os nossos olhos consideram bonito

Amber Heard (Evelyn Hockstein/Pool via AP)

Dos girassóis ao "Homem de Vitrúvio" de Leonardo Da Vinci, tendemos a achar mais bonito tudo o que é simétrico e tem uma determinada proporção. Essa fórmula também pode ser usada para analisar os rostos humanos. Mas os especialistas alertam: não devemos levar demasiado a sério esses ideais de uma "beleza geométrica"

Amber Heard, Bella Hadid, Beyoncé, Ariana Grande. São mulheres muito diferentes - loiras e morenas, com a pele mais ou menos clara, com olhos castanhos ou azuis. No entanto, todas elas são unanimemente consideradas muito bonitas. Isso não acontece por acaso, dizem os especialistas. Acontece por causa da "proporção áurea", uma definição matemática que estabelece as proporções ideais para que os rostos humanos "sejam reconhecidos como bonitos", explica à CNN Portugal a médica Ana Silva Guerra, especialista em cirurgia estética e reconstrutiva. "Não gosto dizer que são rostos mais bonitos, porque o ideal de beleza é subjetivo. Mas são rostos que, pelas suas proporções, são entendidos pelos nossos olhos como mais bonitos porque o nosso olhar está formatado para apreender melhor os rostos simétricos e harmoniosos."

A proporção áurea (também conhecida como razão áurea, Phi ou número de Fibonacci) é o algoritmo de simetria matemática que fundamenta a nossa percepção da atratividade. Alguns cientistas acreditam que consideramos os corpos proporcionais mais saudáveis. Da mesma forma, se um rosto é proporcional e simétrico, é mais provável que o achemos bonito. Tendemos a considerar um rosto  como esteticamente mais atraente quando apresenta a proporção áurea porque o olho humano pode processá-lo mais rapidamente e isso faz com que o nosso cérebro se sinta “satisfeito”.

Da matemática à arte e à beleza do corpo humano

Os estudos sobre a razão áurea têm a sua origem na matemática e na geometria, desde o tempo de Euclides (300 anos a.C.). Em 1509, o matemático italiano Luca Pacioli escreveu "De Divina Proportione", livro no qual aborda a razão áurea e cujas cerca de 60 ilustrações foram feitas por Leonardo Di Vinci, incluindo o famoso "Homem de Vitrúvio". 

A teoria que Pacioli apresenta em "De Divina Proportione" baseia-se no conhecimento de Fibonacci que, por volta de 1200, tinha apresentando uma sequência onde cada número é igual à soma dos dois anteriores. A proporção áurea é uma constante real algébrica irracional que obtemos quando dividimos uma linha em dois pedaços (a e b), de forma que o resultado da divisão de a por b seja igual ao resultado da divisão da linha inteira (a+b) pela parte maior (a), o que, arredondado às três casas decimais, é 1,618. Este é o "número de ouro" ou proporção áurea, designada como proporção divina por Pacioli.

O que Leonardo Da Vinci faz é aplicar esta fórmula ao corpo humano. Para tal, estudou a obra "De Architectura", de Vitrúvio, escrita entre 30 e 20 a.C.. Marcus Vitruvios Pollio era um soldado, arquiteto e engenheiro romano. A sua obra, uma das mais importantes sobre construção e arquitetura, mostra como as construções humanas são uma imitação simbólica da ordem na natureza. 

A razão áurea ocorre na natureza, nos padrões que às vezes vemos em girassóis, pinhas, conchas e outras plantas (como o ananás) e animais (como o caracol). É essa harmonia da natureza que é tantas vezesm reproduzida pela arte - sobretudo pela arquitetura e pelo design. Esta origem na natureza poderia explicar porque é que tudo o que for projetado de acordo com a razão áurea parece tão perfeito ao olhar humano: aparentemente, as coisas que têm uma relação inconscientemente reconhecível são mais fáceis de processar por parte do cérebro.

É nessa teoria que Leonardo da Vinci baseia o seu desenho do "Homo ad circulum" ou do Homem de Vitrúvio. Da Vinci percebeu que quanto mais um corpo, um rosto ou objeto se aproxima da razão áurea, maior o nível de beleza. Acredita-se, inclusivamente, que Leonardo tenha usado a proporção áurea ao pintar a Mona Lisa.

"Homem de Vitrúvio"

Como se cálcula a proporção áurea de um rosto?

Para calcular a proporção áurea num rosto, primeiro, mede-se o comprimento e a largura do rosto. Depois, divide-se o comprimento pela largura. O resultado ideal é aproximadamente 1,62. Quanto mais perto estiver desse número mais perfeito será considerado o rosto.

Mas não só. A distância entre o queixo e a base do nariz deve ser igual (ou o mais próximo possível) à distância entre a base do nariz e a parte inferior da testa.  A proporção também pode ser aplicada noutras zonas do rosto, como o tamanho da testa, das orelhas e dos olhos, ou a distância das sobrancelhas. No total, os médicos costumam avaliar 12 pontos no rosto e determinar o quanto se aproximam do valor "ideal".

Em 2016, um cirurgião norte-americano analisou as fotografias de algumas celebridades e chegou à conclusão que a modelo Bella Hadid tinha um rosto extremamente próximo da "proporção áurea", com um grau de perfeição de 94,35% , enquanto a cantora Beyoncé alcançava 92,44% de perfeição. A atriz Amber Heard conseguia 91,85 e a cantora Ariana Grande 91,81.

Outro fator a considerar quando se tem de calcular a proporção áurea é que certas medidas faciais, como a distância entre a boca e o nariz e a largura da boca e do nariz, tendem a aumentar com a idade. Além disso, com a idade também o rosto tende a perder volume e a pele perde elasticidade, muitas vezes ficando flácida. Isso significa que com o tempo, mesmo rostos que antes eram considerados simétricos tendem a desviar-se da proporção áurea.

A beleza não é uma fórmula matemática

"O conceito de proporção áurea é conhecido por todos os cirurgiões plásticos, é estudado na universidade e é importante porque temos de saber as proporções do rosto humano, não porque são as ideais mas porque a grande maioria das pessoas aproxima-se desses valores, é um facto", explica Ana Silva Guerra. No entanto, esta especialista avisa que este suposto ideal não é para ser levado muito a sério.

"O conceito de beleza foi variando ao longo da história", recorda. "O ideal de beleza depende da cultura, da idade, da necessidade de inclusão, de muitas coisas diferentes. A beleza é individual. As pessoas têm características diferentes, que são suas, e todas elas podem ser vistas como belas."

"Não podemos simplesmente definir a beleza de um rosto usando uma fórmula matemática. O que sabemos é que o nosso olhar está formatado para apreender melhor os rostos que tenham mais harmonia, mais simetria, uma determinada proporção", diz a cirurgiã. "Só isso."

No entanto, é esse ideal que fundamenta técnicas como a harmonização facial, que está atualmente muito na moda.

Um rosto assimétrico e com anomalias faciais é mais facilmente considerado desequilibrado esteticamente e, logo, mais feio. Mas Ana Silva Guerra é muito crítica em relação a um "ideal" matemático: "Claro que se uma pessoa tiver uma deformação muito acentuada ou um desequilíbrio que se torne desconfortável, nós estamos aqui para ajudar. Seja com cirurgia ou com outra técnica não invasiva. Mas tentamos sempre perceber se aquela pessoa que vem ter connosco tem as expetativas adequadas, se quer enaltecer as suas características ou se procura algo que é irreal." 

A médica admite que há muitos homens e mulheres que procuram os seus serviços - "mais mulheres porque historicamente as mulheres têm sido mais pressionadas para corresponder a um determinado ideal de beleza" - que chegam à sua clínica com a ambição de ficarem parecidos com uma determinada figura pública ou, até, a quererem alterar o rosto para que fique mais parecido com um determinado filtro de Instragram. "Isto é irreal, nesses casos temos que ter muito cuidado, porque estas idealizações têm impacto na auto-estima da pessoa."

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