Heróis a meio caminho - TVI

Heróis a meio caminho

Figuras da primeira fase do Euro-2000 Terminou a primeira fase do Euro-2000. Foram 24 jogos de emoções, para gastar um lugar-comum que, desta vez, faz sentido. Houve poucos jogos que dessem vontade de mudar de canal e muitos que mantiveram toda a gente presa até ao fim. Houve muitos protagonistas, estrelas ascendentes e decadentes. Aqui ficam alguns.

Milosevic

(Jugoslávia) 

Veio de Espanha, do Saragoça, com fama de goleador. Marcou 21 golos na Liga espanhola de 1999/00 e 17 na época anterior. Confirmou esse dom no Euro-2000, onde é já o melhor marcador, com quatro golos.  

Savo Milosevic tem a atracção pela baliza que caracteriza os grandes goleadores, mas na selecção da Jugoslávia tem também uma grande ajuda. Se Milosevic é uma das figuras incontornáveis da primeira volta do Europeu, Ljubinko Drulovic não o é menos.  

Os golos de Milosevic tiveram quase sempre origem nos pés de Drulovic, o homem das assistências milimétricas. Na Jugoslávia, para Milosevic, tal como no F.C. Porto, para Jardel. 

Figo

(Portugal) 

Os jogos de Portugal tiveram muitos protagonistas. Rui Costa foi o maestro e autor de duas assistências no jogo com a Inglaterra, Fernando Couto foi o melhor em campo com a Roménia, no jogo em que Costinha marcou o golo salvador, Sérgio Conceição saudou os campeões europeus alemães com um «hat-trick». Mas Figo foi fundamental nos momentos-chave.  

Foi dele o golo que abriu a reviravolta frente à Inglaterra no primeiro jogo, foi dele o passe para o golo de Costinha que garantiu a vitória no último minuto com a Roménia.  

Não era preciso muito mais para consagrar Figo. Mas o número 7 português quer confirmar na selecção tudo o que já mostrou no palco europeu com a camisola do Barcelona. 

É essa força de vontade de Figo, aliada à de todos os seus companheiros, cansados de serem um eterna geração de ouro adiada, que está a fazer a diferença neste Europeu.  

Zahovic

(Eslovénia) 

Na qualificação para o Euro-2000 marcou dez dos quinze golos da equipa. Na fase final, foram dele três dos quatro tentos apontados pela selecção que foi uma das semi-surpresas do Euro-2000.  

O site inglês Football365 considerou-o «bom de mais para a sua equipa». E se a Eslovénia deixa uma boa impressão na despedida do Europeu, deve-o em grande parte ao jogador que já esteve em Portugal, no V. Guimarães e no F.C. Porto, e que agora procura resolver um diferendo com o seu clube actual, o Olympiakos. 

Depois deste passeio pela grande montra do futebol, a cotação de Zahovic subiu em flecha. A Fiorentina tem-no debaixo de olho, para colmatar a provável saída de Rui Costa. 

Henry

(França) 

Apareceu no Euro-2000 bem mais maduro do que no Mundial de França. Já marcou dois golos por uma equipa que, mesmo na caminhada para a conquista do título mundial, mostrou sempre problemas na frente de ataque. 

O holandês Bergkamp vaticinou-lhe um grande Europeu: «Não ficarei surpreendido se ele for o melhor marcador.» Henry está a corresponder às expectativas do seu companheiro no Arsenal. 

Também está bem acompanhado. Zidane parece estar a querer confirmar que é homem para grandes palcos. O número 10 da França, autor da assistência para o primeiro golo de Henry, fez maravilhas no primeiro jogo da equipa no Europeu e manteve-se em alta na partida seguinte. Descansou, tal como Henry, no último encontro da primeira fase, mas esta dupla mostrou que está em forma, para tentar garantir a conquista de novo título para os campeões do mundo. 

Sukur

(Turquia) 

A surpresa que foi a carreira da Turquia passa por uma equipa sólida, fria e calculista. Mas também ajuda, e muito, ter alguém lá na frente capaz de arrastar e enganar os defesas adversários como Hakan Sukur o faz.  

O avançado que é idolatrado na Turquia e esta época ajudou o Galatasaray a conquistar a Taça UEFA marcou dois dos três golos da sua selecção neste Europeu. Sukur já está de malas aviadas para Itália. No Inter tentará o sucesso que não conseguiu numa primeira experiência italiana, com o Torino, em 95/96. 

Agora, com 28 anos, Sukur está mais maduro. Portugal terá oportunidade de o constatar já no próximo sábado, quando defrontar a Turquia nos quartos-de-final. 

Toldo

(Itália) 

Ganhou a titularidade na baliza da Itália por causa do infortúnio de Buffon, que se lesionou em vésperas do Europeu. Mas a «squadra azzurra» pode agradecer-lhe o registo 100 por cento vitorioso com que termina a primeira fase do Euro-2000. 

No segundo jogo, frente à Bélgica, o guarda-redes da Fiorentina foi fundamental para segurar a vitória de uma Itália igual a si mesma, calculista e pouco afoita. Toldo segurou o ímpeto belga até a Itália garantir que estava tudo sob controlo. 

Sérgio Conceição

(Portugal) 

Só precisou de um jogo para entrar no do Euro-2000. Na primeira vez que foi titular, Sérgio Conceição marcou três golos. À Alemanha, que precisava de pontuar para seguir em frente no Euro-2000. Fica agora, nos livros da história, ao lado de nomes como Michel Platini e Van Basten.  

Este é o único «hat-trick» do Euro-2000 e apenas o quinto na história da prova. Primeiro foram os alemães Dieter Muller (1976) e Klaus Allofs (1980), depois Platini, por duas vezes, no Europeu de 1984. Em 1988, Van Basten também marcou três vezes na vitória da Holanda sobre a Inglaterra (3-1). Embora este não seja um «hat-trick» clássico, porque nesses os golos têm que ser consecutivos, sem que o adversário ou outro companheiro de equipa marque qualquer golo. Neste caso, os ingleses «estragaram» a festa ao holandês. 

Sérgio está a viver um ano em cheio, depois da conquista do título italiano com a Lazio. Mas o seu feitio intempestivo não se conforma com a condição de suplente. Foi assim na Lazio, é assim na selecção nacional. Agora, deu mais argumentos para dificultar as escolhas a Humberto Coelho. A ver. 

Matthäus

(Alemanha) 

Vinte anos ao serviço da selecção, 150 jogos com a camisola da equipa nacional. Lothar Matthäus é o recordista absoluto de internacionalizações. Campeão do mundo em 1990, campeão europeu em 1980, fica para sempre na história do futebol mundial.  

Mas este Europeu deixa no ar a ideia de que Matthäus é capaz de ter esticado demasiado a corda. Aos 39 anos foi o símbolo de uma selecção alemã gasta, que arrasta há muito o mesmo jogo e a mesma incapacidade de se renovar. Acabou o Europeu em guerra aberta com os companheiros de equipa, que reprovam, veladamente, o seu ascendente na selecção. Devia ter-se despedido melhor. 

Schmeichel

(Dinamarca) 

Não é o principal responsável, mas fica como um símbolo do descalabro nórdico no Euro-2000. A sua Dinamarca, campeã europeia em 1992, despediu-se com três derrotas, oito golos sofridos e zero marcados. Ao todo, as três equipas que vieram do frio (Suécia, Noruega e Dinamarca) marcaram três golos no Euro-2000. Um enorme estoiro.  

Schmeichel, um dos últimos sobreviventes da selecção que conquistou o título há oito anos, não é de se ficar. E já disse que, se o chamarem, está pronto a disputar a qualificação do Mundial e lutar por um lugar no Japão e na Coreia do Sul, em 2002. Mas isso é lá mais para a frente. Por agora, o guarda-redes do Sporting deve estar desejoso de reencontrar a sua defesa...

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