Um dos erros de Roberto Martínez "é catastrófico", ainda assim "ele deve ficar". Mas não esperem "grandes coisas" - TVI

Um dos erros de Roberto Martínez "é catastrófico", ainda assim "ele deve ficar". Mas não esperem "grandes coisas"

Portugal-Eslovénia (AP)

A seleção precisa "de estabilidade" e Roberto Martínez também tem as suas virtudes. A questão é: essas virtudes vão levar-nos onde? A lugares pequenos, dizem à CNN

Relacionados

1. Deve ficar - mas sem margem de erro

O comentado da CNN Nuno Farinha é extremamente claro quando questionado sobre a continuidade de Roberto Martínez: "Se aprendeu com os erros, que são muitos, ele deve continuar na Cidade do Futebol, mas é bom ter consciência de que ficou sem margem de erro". Nuno Farinha entende que o selecionador nacional, perante o que a equipa rendeu no Euro 2024, só tem um fator em seu abono: "O facto de ter sido eliminado por uma das seleções mais fortes no mundo - e eliminado só nos penáltis".

Nuno Farinha sublinha que o nível exibicional "foi pobre", os resultados "foram modestos" e a gestão de egos "foi catastrófica", lembra. Ainda assim, e além de Roberto Martínez "ter falhado o objetivo mínimo, que era a chegada à meia-final, deve continuar" porque há ainda outro revés nesta retórica: "O salário desta equipa técnica é demasiado 'pesado' para que se prescinda do selecionador ainda a dois anos do final do contrato".

Para Nuno Farinha, a capacidade de liderança é o maior problema de Roberto Martínez e isso foi o pior que trouxe para seleção de Portugal. Para justificar a crítica, o comentador lembra os "últimos penosos meses de Martínez à frente da seleção da Bélgica, no Mundial do Catar, em 2022, e agora a incapacidade para tocar nas 'vacas sagradas' da nossa seleção neste europeu da Alemanha". Tudo isto "confirma a dificuldade de Martínez em afirmar-se perante estatutos mais elevados" - "e faltou também uma estrutura de apoio mais competente".

Mas nem tudo foi mau - Nuno Farinha considera que Roberto Martínez tem duas mais-valias: "É um selecionador capaz de se adaptar a diferentes contextos e está bem identificado com as novas tendências do futebol".

                                                             equipa
2. Deve ficar - mas desta vez com a             acima de tudo

Diogo Luís também não tem dúvida: "Acho que deve ficar". O comentador da CNN Portugal defende que manter Martínez é apostar na "estabilidade - e isso é fundamental para o sucesso". "Não podemos andar constantemente a mudar em função dos resultados", sustenta, mas pede uma mudança de mentalidades: "Colocar o sucesso desportivo à frente de quaisquer outros interesses".

Este, aliás, tem sido o grande erro da carreira de Martínez e o que de pior traz à seleção. Diogo Luís lembra que "se continuar a seguir o mesmo caminho, a seleção perde independência com Martínez" e que a prestação nacional no Euro 2024 espelha isso mesmo: "Os nomes ou estatutos nunca se devem sobrepor ao coletivo" e Roberto Martínez cometeu "este erro na Bélgica e agora em Portugal". O comentador também defende que o selecionador "tem de melhorar a leitura de jogo e não se pode deixar condicionar por estatutos dentro do relvado".

De bom, Diogo Luís considera que Martínez tem "compromisso e uma ideia de jogo interessante, embora seja fundamental equilibrar a flexibilidade tática com o conforto dos jogadores em campo". Explicando que, no seu entendimento, o selecionador "analisa bem os opositores, mas também é importante reforçar a nossa forma de jogar e sem se estar constantemente a mudar em função do adversário - não deixando de reconhecer e estudar os pontos fortes dos deles".

Na análise logo após a eliminação de Portugal, Diogo Luís desmistificou ainda as duas facetas de Martínez: quando tudo correu bem - fase de qualificação -, em que "a comunicação foi fantástica, muito clara e em que falava de tudo"; e quando "as coisas começaram a correr menos bem" - fase do Euro 2024 -, em que "ficou muito incomodado com algumas questões".

O comentador considera que o primeiro alerta "foi a questão das bolas paradas", depois foram as críticas às substituições e ao timing das mesmas, quando "começou à roda e parecia que estava numa rotunda: ‘ah, temos muito bons jogadores, o Nélson Semedo entrou para dar frescura à  equipa’, quando o Nélson Semedo entrou aos 117 minutos contra a Eslovénia". A exceção foi mesmo o jogo com França, em que, para Diogo Luís, a exibição "já mudou um pouco, mas mudou um pouco até certo ponto e o certo ponto chama-se Cristiano Ronaldo".

"A verdade é que sabemos que temos no banco de suplentes jogadores que tinham essa capacidade e nunca foram utilizados porque o selecionador não o quis e porque o selecionador nunca lhes deu essa opção", conclui Diogo Luís.

3. "Não prevejo grandes coisas"

Na ressaca da derrota contra França, a comentadora da CNN Portugal Sofia Oliveira destacou que é certo que a "imagem do selecionador nacional sai claramente desgastada deste Campeonato da Europa". Sofia Oliveira critica mais do que tudo a estratégia comunicacional de Martínez, que "preferiu passar constantemente alguns atestados de ignorância a todos nós em vez de identificar os problemas que estavam visíveis aos olhos de quase todos".

"Não sou particularmente fã deste tipo de discurso. Acho que é um discurso que não acrescenta nada ao futebol, que não acrescenta nada à imagem de Roberto Martínez e que até a desgasta, um bocadinho como Roger Schmidt - que passava os jogos todos a dizer que o Benfica tinha jogado muito bem, que tinha corrido tudo muito bem, quando se percebia que efetivamente havia problemas".

Para Sofia Oliveira, é certo que "Roberto Martínez sai muito beliscado deste campeonato da Europa" e que isso não aconteceu exclusivamente pela qualidades futebolística ou tática da seleção, mas "também por ter posto os pés pelas mãos, por ter tido um discurso pouco coerente". Perante esta explanação, Sofia Oliveira garante ter uma certeza: "Não prevejo grandes coisas com o Roberto Martínez".

4. desilusão ENORME

Maniche, antigo jogador da seleção nacional e comentador da CNN Portugal, deixou elogios à exibição de Portugal no jogo contra França, mas realçou que é preciso olhar para o quadro geral da prestação nacional. "E, aí sim, temos de ser humildes para assumir que não atingimos os objetivos."

O ex-internacional considera que não se pode "esquecer uma seleção que ficou aquém daquilo que era desejável pelas exibições que não foram bem conseguidas". Para Maniche, a dinâmica não foi a desejável, verificou-se uma clara falta de eficácia e foi notória a instabilidade na estrutura jogo após jogo - e "essas são ilações que devemos tirar".

"Ele tinha a responsabilidade de treinar uma grande seleção. Foram criados objetivos - ditos por ele e pelos seus jogadores - que era chegar no mínimo à meia-final e tentar ganhar. Era o mínimo e isso não foi atingido. Ficámos muito aquém."

Em tom de conclusão, Maniche disse esperar algum tipo de consequências: “A desilusão é enorme perante as expectativas criadas e as ilações têm de ser feitas no seu global”.

5. Breve contexto - contém várias desilusões

Depois de Portugal ter sido eliminado nos quartos de final no Euro 2008, com uma derrota por 2-3 frente à Alemanha, Scolari deixou o comando técnico da seleção. Carlos Queiroz teve o mesmo destino na ressaca do Mundial de 2010, após Portugal ter caído nos oitavos depois de perder 1-0 com a Espanha - que acabaria por se sagrar campeã. O carrasco de Paulo Bento foi o Mundial de 2014, em que a seleção não passou a fase de grupos e em que levou quatro da Alemanha (que venceu esse campeonato do mundo) e empatou a dois com os Estados Unidos. E, mais recentemente, foi Fernando Santos a abandonar o cargo depois de ser eliminado por Marrocos (1-0) nos quartos de final do Mundial de 2022, no Catar.

O sucessor foi Roberto Martínez, que no mesmo Mundial era selecionador belga e não conseguiu levar a Bélgica além da fase de grupos, depois de perder por 1-0 com Marrocos e empatar a zero com a Croácia. A seleção belga foi uma das grandes desilusões dessa edição do campeonato do mundo. Agora chegou o Euro 2024 e Portugal caiu nos quartos de final frente à França, depois de uma competição em que esteve seis horas sem marcar.

Continue a ler esta notícia

Relacionados