Para a revista Time, foi a personalidade do ano em 2023. Para o comediante Jo Koy, sob fogo cibernético pelas piadas de mau gosto na apresentação dos Globos de Ouro há alguns dias, é uma punchline. Para Margaritis Schinas, vice-presidente da Comissão Europeia, é a melhor arma do bloco para atrair os eleitores mais novos às urnas em junho.
Sim, falamos de Taylor Swift, a cantora norte-americana que Schinas gostaria de ter como chamariz para as eleições ao Parlamento Europeu (PE), nas quais mais de 400 milhões de eleitores são chamados a participar. Muitos vão às urnas pela primeira vez – incluindo jovens de 16 e 17 anos, uma faixa etária predominante entre os mais de 272 milhões de seguidores de Swift (ou ‘swifties’), que vão poder votar em quatro dos 27 Estados-membros da UE (Bélgica, Alemanha, Malta e Áustria).
“Ninguém consegue mobilizar melhor os jovens do que outros jovens. São os jovens que podem mobilizar os jovens a participar, mais do que os comissários europeus, é assim que funciona”, disse o vice-presidente de Von der Leyen esta quarta-feira. “Só para vos dar um exemplo: em setembro, a Taylor Swift usou as redes sociais para pedir aos jovens norte-americanos que se registassem para votar [nas presidenciais de novembro]. No dia a seguir à publicação, 35 mil jovens americanos tinham-se inscrito.”
Foi uma subida de 23% em relação ao número de jovens eleitores que se registaram nos EUA em 2022 – e um evento nada estranho para quem acompanha o fenómeno Taylor Swift, uma artista de 33 anos que se lançou no YouTube aos 16, com vídeos caseiros a cantar músicas que escreveu e compôs para guitarra, cujas digressões nos EUA e no resto do mundo movem milhões (de dólares e de pessoas) e que tem hoje uma fortuna avaliada em mil milhões de euros.
O estatuto de multimilionária alcançou-o em outubro, com a Eras Tour, uma digressão que lhe valeu a distinção da Time (a primeira para uma personalidade do mundo da música) e que Swift traz este ano à Europa (Schinas fez o trabalho de casa). O concerto de arranque acontece em Paris a 9 de maio, Dia da Europa, como o próprio comissário europeu fez questão de lembrar aos jornalistas em Bruxelas. “Taylor Swift vai estar na Europa em maio, então espero muito que faça o mesmo com os jovens europeus, e espero mesmo que alguém da equipa dela veja esta conferência de imprensa e lhe faça chegar o nosso pedido.”
Por quem os jovens votam
A 24 e 25 de maio, quando os ‘swifties’ portugueses rumarem em bando até ao Estádio da Luz para verem a sua musa ao vivo, ouvirão também apelos ao voto dali a duas semanas, em eleições onde os jovens serão, nas palavras de Schinas, “cruciais”? Não é certo.
Certo é que a participação eleitoral nas europeias tem sido historicamente baixa e que foi graças aos jovens que, nas últimas eleições para o PE, essa taxa se situou acima dos 50% pela primeira vez desde 1994. Mas tem sido também graças aos jovens que a extrema-direita tem somado e seguido nalguns países europeus, numa altura em que as sondagens antecipam que o Identidade & Democracia, a família da extrema-direita europeia, vai tornar-se a terceira força política no PE.
Se toda a gente que votou nas legislativas holandesas há poucos meses tivesse menos de 35 anos, a vitória de Geert Wilders e do seu Partido pela Liberdade teria sido ainda maior, referia o Guardian em dezembro. A vitória inesperada do populista de extrema-direita nos Países Baixos teve lugar depois de 39% dos eleitores franceses com entre 18 e 24 anos e 49% com entre 25 e 34 terem votado em Marine Le Pen na segunda volta das presidenciais, em 2022 – o mesmo ano em que o partido de extrema-direita de Giorgia Meloni, o Irmãos de Itália, ficou em primeiro lugar entre os eleitores com menos de 35 anos.
Estes resultados não devem ser lidos de ânimo leve, até porque, como têm destacado vários analistas eleitorais, muitos jovens optam pela extrema-direita não porque partilhem do seu ideário xenófobo e nacionalista, mas pelas condições precárias que hoje enfrentam – na fase da vida em que era suposto viverem leves, felizes e concretizados, muitos têm empregos mal pagos (ou nenhum emprego) e não conseguem comprar ou arrendar casa, nem ter acesso a educação e cuidados de saúde adequados, muito menos viajar ou pensar em constituir família.
Como referia há alguns meses a analista Catherine de Vries, “Wilders pode dizer ‘os holandeses primeiro’, mas ele promete resolver as coisas”, enquanto “os partidos do governo são os que impuseram a austeridade” – um sentimento que, muito provavelmente, também vai mover o eleitorado europeu dentro de cinco meses. Schinas até pode vir a contar com a ajuda de Swift, mas deve a UE ter cuidado com o que deseja?