Uma exposição com cerca de 200 obras de William Klein (1926-2022), primeira antológica na Europa depois da morte do artista, vai mostrar, a partir de quarta-feira, em Lisboa, um percurso versátil que marcou o século XX.
Intitulada “O mundo inteiro é um palco”, a mostra abre ao público no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) com o trabalho de “um dos artistas mais influentes da segunda metade do século XX”, segundo o curador, David Campany, investigador da área da fotografia que conviveu 12 anos com William Klein.
Com cerca de 200 obras, a exposição abrange as várias vertentes do trabalho de Klein, entre fotografia de rua, moda e cinema, pintura e desenho gráficos, levando o visitante por uma viagem a grandes cidades como Nova Iorque, Paris, Roma, Moscovo e Tóquio.
“Era um artista muito versátil e esta exposição reúne uma seleção da maioria do seu trabalho”, disse David Campany numa visita guiada, hoje realizada para jornalistas no MAAT, sobre um percurso que junta peças desde há 60 anos até à atualidade.
Nos anos 1950, Klein começou a fotografar a alta-costura para a revista Vogue americana, tendo a possibilidade de experimentar os cenários das imagens, “desde que as roupas das modelos estivessem nítidas”, recordou o curador, acrescentando que a curiosidade, charme e imensa criatividade do artista levaram-no, na mesma altura, para as ruas, captando a vida quotidiana de Nova Iorque.
“Os diários que deixou mostram que era imensamente produtivo e sempre ávido de quebrar as regras, experimentar várias áreas artísticas”, apontou ainda, durante o percurso da exposição.
"O mundo inteiro é um palco" é uma visão de conjunto da vasta obra de William Klein, organizada em cinco secções: "Olhar para trás", "Gestos materiais", "Tóquio", "Filmes" e "Juntos".
William Klein "era um artista com uma independência feroz que, apesar de trabalhar no centro do mundo comercial, nunca deixou de se dedicar aos projetos artísticos que o apaixonavam, e fez tudo à sua maneira, sempre com uma grande intuição para o estilo, a vitalidade, e a maneira imprevista de como a vida se desenrola", descreveu Campany.
O título da exposição e do livro que a acompanha é uma citação do dramaturgo britânico William Shakespeare na comédia "As You Like It" ("Como vos aprouver", numa das traduções portuguesas), publicada pela primeira vez em 1623, que inclui uma personagem bastante melancólica, chamada Jacques.
Apesar de Jacques participar muito pouco no enredo complicado e hilariante da peça, surge em momentos-chave, elucidando o público sobre como observar a vida, o seu significado e o seu objetivo.
"Para Klein, tudo era uma aventura criativa que se ia desenrolando, cruzando as vanguardas e o 'mainstream', encontrando espaços entre a cultura comercial e a uma independência convicta", sublinhou o curador sobre o caráter do artista que deixou uma vasta obra em várias áreas.
Em articulação com a exposição será organizada pela Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, em parceria com o MAAT, uma retrospetiva da obra cinematográfica de William Klein, a decorrer em janeiro de 2025.
“O mundo inteiro é um palco” fica patente no MAAT até fevereiro de 2025.
O museu irá ainda inaugurar, também na quarta-feira, uma exposição com obras inéditas da artista Catarina Dias, intitulada "Inverted on us", com curadoria de Filipa Correia de Sousa, na Central, Sala Cinzeiro 8.
Nascida em 1979, em Londres, Catarina Dias, que vive e trabalha em Lisboa, tem desenvolvido, desde o início da sua trajetória criativa, uma obra centrada na prática do desenho e nas suas derivações plásticas e conceptuais, frequentemente em combinação com a fotografia e a escultura.
Nesta nova exposição, dá continuidade a um trabalho de questionamento em torno do enigma e mistério das imagens e das palavras, do que dão a ver e do que escondem.
Na mesma altura abrirá ao público a exposição “Black Ancient Futures”, com obras de 11 artistas lusófonos e de outras nacionalidades da diáspora africana que refletem sobre a possibilidade de espaços favoráveis a utopias e novas leituras da justiça racial e histórica.
Baloji, April Bey, Jeannette Ehlers, Lungiswa Gqunta, Evan Ifekoya, Kiluanji Kia Henda, Nolan Oswald Dennis, Gabriel Massan, Jota Mombaça, Sandra Mujinga e Tabita Rezaire são os artistas participantes na exposição “Black Ancient Futures”, com curadoria de João Pinharanda, diretor artístico do MAAT, e Camila Maissune.
“Black Ancient Futures” e "Inverted on us" podem ser vistas até março de 2025.