“Quero dar-vos os meus sentimentos. Ninguém merece passar por isto. A única coisa que eu posso fazer é pedir desculpa” – o julgamento de Fábio Guerra, sessão IV - TVI

“Quero dar-vos os meus sentimentos. Ninguém merece passar por isto. A única coisa que eu posso fazer é pedir desculpa” – o julgamento de Fábio Guerra, sessão IV

No quarto dia de julgamento, Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko não estiveram de acordo. O primeiro arguido, aconselhado pelo seu advogado, optou por não falar em tribunal. Por outro lado, Vadym, emocionado, fez um pedido que até o juiz surpreendeu

Olhos nos olhos com os pais de Fábio Guerra, Vadym Hrynko disse: “Quero dar-vos os meus sentimentos sinceros. Ninguém merece passar por isto. A única coisa que posso dizer é pedir desculpa”. A única resposta que o ex-fuzileiro recebeu foram as lágrimas dos pais do agente de PSP, de 26 anos, que morreu em março de 2022 à porta de uma discoteca em Lisboa.

Um ano depois, o julgamento procura reconstituir o que aconteceu naquela saída noturna que levou à morte do jovem da Covilhã.

O julgamento poderá terminar na próxima semana. As alegações finais estão marcadas para a próxima quinta-feira, dia 20 de abril, contudo, estão dependentes da presença de Cabo Fonseca, próxima pessoa a testemunhar e que se encontra em missão fora de Portugal.

“Meigo, carinhoso, verdadeiro e sério”

Foi também ouvida Sandra Baeta Alvarenga, antiga professora do 1.º ciclo de um dos arguidos.

“Para mim, o Vadym sempre foi um jovem muito afável”, conta a professora, “meigo, carinhoso, verdadeiro e sério”. Mas não ficou surpreendida quando soube que Vadym se tornou militar. “Não me surpreendeu. Sempre foi um aluno muito correto, muito disciplinado.”

“Sou o rei do Montijo”

Nesta sessão, sentaram-se na cadeira das testemunhas seguranças de discotecas que estavam lá na noite do desentendimento.

Às cinco da manhã de dia 19 de março de 2022, “houve uma altercação entre uns rapazes”, explicou Paulo Oliveira, segurança privado do MOME, que viu um rapaz “sozinho, alto e de raça branca”, a sangrar do nariz, e um grupo de cerca de 14 pessoas. “Vi um gordinho careca, que me disse que já não se passava nada”. Após levar o rapaz à casa de banho, Paulo tomou uma decisão.

“Como ele era só um, pedi que ele saísse e o restante grupo ficou dentro da discoteca”, contou o segurança, que não conhecia os arguidos até à data dos factos. Mal sabia que ao fechar o piso de cima da discoteca, a “confusão começou a acontecer lá fora”. Da janela, lembra-se de ver quatro elementos a ser agredidos. “O grupo que estava a ser agredido eram os polícias. Os que estavam a agredir foi o grupo onde estava o agressor do jovem que levei à casa de banho.”

A testemunha referiu ainda que só quando desceu viu uma pessoa no chão. “Um dos grupos, o maior, saiu em direção a Alcântara. O gordinho careca bateu no peito e disse algo que não consegui ouvir. Devia ser a dizer ‘sou o rei do Montijo’, digo eu”.

“Ninguém deu um pontapé na cabeça do que estava caído no chão”

Bernardo Graça, segurança da discoteca Plateau, saiu do trabalho e passou pela discoteca MOME. Estava a despedir-se dos colegas seguranças que estavam de serviço quando, “do nada”, viu “dois rapazes a correrem em direção ao Claúdio e ao Vadym”, seus conhecidos e amigos do seu irmão, “e darem um murro na nuca do Cláudio”, que, por sua vez, deu um murro num dos rapazes. A testemunha afirma que “ninguém deu um pontapé na cabeça desse primeiro rapaz. Eu meti-me em cima e não deram pontapés.”

O segurança garantiu, igualmente, na sessão de julgamento, que conseguiu afastar os dois rapazes e só depois viu Fábio Guerra no chão. “Foi tudo muito rápido, mas quando acalmou disse ao Claúdio e ao Vadym para irem embora”.

“Fui para casa”. Passadas duas horas, por volta das sete e meia da manhã, um colega de Bernardo que trabalha no MOME ligou-lhe. “Havia um rapaz inconsciente. Liguei-lhes [ao Cláudio e ao Vadym] e eles nem queriam acreditar. Ficaram surpreendidos”.

Apesar dos arguidos se mostrarem preocupados, a testemunha defende que Clovis Abreu – suspeito no caso Fábio Guerra que está desaparecido -, também ouviu a chamada telefónica e foi o único que não estava alarmado. “Recordo-me de ele dizer: ‘Isto é Sesimbra. Se tiver que ser preso, eu aguento’”.

Quem também achou Claúdio e Vadym inquietos foi João Jardim, fuzileiro e outra testemunha ouvida neste quarto dia de julgamento. “Achei os miúdos devastados e preocupados. Disse-lhes que se estavam a dizer a verdade tinham de ter a cabeça erguida. Sempre lhes pedi lealdade e honestidade, que é assim que deve ser entre os fuzileiros”.

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