Saco Azul: «Há uma montagem para enganar o tribunal» - TVI

Saco Azul: «Há uma montagem para enganar o tribunal»

  • Portugal Diário
  • JRS
  • 2 abr 2008, 19:37
Fátima Felgueiras e o saco azul (PEDRO FERRARI/LUSA)

Palavras de Fátima Felgueiras proferidas em audiência de julgamento

A presidente da Câmara de Felgueiras, Fátima Felgueiras, disse esta quarta-feira, em audiência de julgamento, que «há uma montagem deliberada para enganar o tribunal» no âmbito do processo saco azul, noticia a agência Lusa.

«Há coisas que alguém roubou em algum sítio», enfatizou a autarca, referindo-se a alguns documentos que constam dos autos, nomeadamente manuscritos que lhe são atribuídos.

A presidente, que é acusada da prática de 23 crimes e de ter lesado o Município, num total de 785.349 euros, respondia ao procurador Pinto Bronze a propósito de um cartão manuscrito que foi entregue ao tribunal, há alguns meses, pelo seu antigo assessor Horácio Costa, também arguido no processo.

Nesse documento, sem data, a presidente agradecia todo o apoio prestado durante a campanha mas Horácio Costa garante que era o convite da autarca para que viesse a integrar a lista do PS à Câmara de Felgueiras em 1997.

A presidente garantiu que não enviou esse cartão ao seu antigo colaborador e que esse documento era igual a outros enviados, após a campanha, a pessoas de fora do PS, nomeadamente empresários, que colaboraram no processo eleitoral autárquico daquele ano.

«Não tenho dúvida nenhuma que alguém se apoderou indevidamente desse cartão», reafirmou Fátima Felgueiras.

Documento com muita importância no processo

Este documento é importante neste processo porque, na tese da acusação, sustentará o grau de confiança que Fátima Felgueiras tinha à data no seu assessor, ao ponto de o convidar para integrar a lista do PS no quinto lugar.

A autarca explicou ao tribunal que apenas aceitou integrar Horácio Costa na lista, porque o cunhado deste, António Bragança, então adjunto da presidente da autarquia, fazia pressão de ir como número dois.

Segundo a presidente, não era seu desejo pôr António Bragança como segundo na lista, porque este desempenhava funções de coordenação na campanha eleitoral.

Fátima Felgueiras afirmou que a única forma de «manter quieto» o seu adjunto era colocar o seu cunhado (Horácio Costa) em lugar ilegível, o que veio a ocorrer.

A sessão também ficou marcada pela discussão da participação de Horácio Costa nas reuniões em que foi decidido formar o pelouro das finanças para gerir os donativos dos empresários que sustentaram a campanha autárquica socialista de 1997.

Horácio Costa reafirmou que integrou esse pelouro por indicação de Fátima Felgueiras e Júlio Faria, então deputado e ex-presidente da Câmara.

«Eu só estava nessas reuniões, porque a Dra. Fátima assim o ordenava», precisou ao colectivo de juízes presidido por José Castro.

A testemunha Augusto Faria, presidente da Junta de Idães e antigo dirigente do PS local, garantiu que esteve na reunião da direcção de campanha em que foram indicados os nomes para esse pelouro: António Dinis, Horácio Costa e Joaquim Freitas.

Frisou ainda que Fátima Felgueiras não esteve presente, porque a autarca sempre foi posta à margem das questões de natureza financeira da campanha.

Esta versão contraria os depoimentos das testemunha Vítor Sousa, antigo assessor de imprensa da Câmara e do antigo vereador Edgar Silva, que afirmaram ao tribunal ter sido a presidente a indicar os nomes.

Augusto Faria afirmou também que nunca Horácio Costa participou em reuniões da Comissão Política ou Secretariado do PS mas o arguido, que nunca foi militante socialista, reafirmou ao tribunal que esteve em várias reuniões partidárias em representação da presidente.

A testemunha Augusto Faria e a presidente negaram ao tribunal que tal tivesse acontecido:

«Se alguém de fora do PS diz que esteve nessas reuniões mente com quantos dentes tem», afirmou a presidente num tom veemente.

O julgamento prossegue 4 de Abril com a audição de testemunhas arroladas pela defesa de Fátima Felgueiras.
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