Sem clube desde o término de 2023/24, Sérgio Conceição aproveitou uma conversa no «Bitaites D’Ouro» para analisar o percurso enquanto jogador e treinador, ressalvando que não gostaria de treinar um atleta com as suas caraterísticas.
«Como treinador não gostava de ter um jogador Sérgio. Eu gostava de ter algumas das características do jogador, mas não aquela azia descomunal», referiu, na entrevista divulgada esta terça-feira.
Recuando ao princípio do século, aquando do famoso hat-trick contra a Alemanha, na última jornada da fase de grupos do Euro 2000, Sérgio Conceição guarda memórias de um grupo «muito inteligente».
«Tinha feito épocas fantásticas e era sempre o 12.º. Os violinos da Seleção: Rui Costa, João Vieira Pinto, Pauleta, Figo. E da frente quem saía? O Sérgio Conceição e eu não podia com aquilo. O Humberto Coelho [selecionador], contra uma Alemanha fortíssima…Foi uma oportunidade única.»
«Quando o Humberto deu a equipa, o pessoal pensava que eu estava feliz. Mas estava com azia. Eu disse: “Como é possível mudar a equipa toda? Jogar com três centrais, nunca jogámos assim, quer dar moral aos titulares”. Mas, fizemos um jogo maravilhoso. Tínhamos jogadores muito inteligentes, a jogar nas melhores equipas da Europa. Eram tempos diferentes», recordou.
Na fase final da carreira de jogador, de 2008 a 2010, Sérgio Conceição passou pelo PAOK, onde foi treinado por Fernando Santos.
«Apanhou-me com 33 ou 34 anos e diz que fui o jogador mais ranhoso que treinou. Eu era insuportável quando perdia, era um problema se ficasse no banco. Não com os colegas ou treinadores, mas comigo», explicou.
Enquanto treinador, Sérgio do Conceição passou por Olhanense, Académica, Sp. Braga, Vitória de Guimarães e Nantes, até chegar ao FC Porto, em 2017.
«No futebol, eu fui o primeiro treinador a contratar alguém que podia ajudar a nível emocional. No Sp. Braga tive a oportunidade de o fazer, porque achava que era uma mais-valia. Um treinador tem de se circundar por gente capaz, qualidade e talento nas diferentes áreas do staff. Nem toda a gente tem essa força mental, as pessoas são diferentes.»
«Estamos preocupados com o treino, qualidade de jogo da equipa, organização. E depois no plano mental? É que eu sou bruto a treinar, duro, exigente. Eu achava importante dar algo mais às equipas», argumentou.
Por isso, o técnico, de 49 anos, promove investigações para lá do futebol, a fim de conhecer os alvos no mercado.
«Quero saber quem foi o primeiro treinador, se os pais estão separados, se gosta de cães ou de gatos. Chega-nos um jogador da América do Sul, que não está habituado a determinada exigência e com um futebol diferente. Não é fácil ter resultados no imediato. Mas, as pessoas vivem de resultados.»
«Para mim não há impossíveis. É só impossível até ao momento em que se consegue fazer. Tenho uma parede e é preciso passar. Não é com marés de água doce que se conseguem grandes conquistas, tem de ser na turbulência», reiterou.
Por agora, Sérgio Conceição não guarda certezas quanto ao futuro.
«Fim da carreira? Na fase final da minha sétima época no FC Porto, diria que em breve [terminaria]. Agora, depois de dois meses em casa, já não penso nisso. E a minha mulher agradece», rematou.
Pelo FC Porto, de 2017 a 2024, Sérgio Conceição conquistou 11 troféus, tornando-se o treinador mais titulado da história dos dragões.