Esteve dez dias com ovelhas mortas e agora vai esperar mais 11 para vacinar as vivas. Surto de língua azul está a "dizimar rebanhos" em Portugal - TVI

Esteve dez dias com ovelhas mortas e agora vai esperar mais 11 para vacinar as vivas. Surto de língua azul está a "dizimar rebanhos" em Portugal

DGAV já deu autorização para uma nova vacina, mas os produtores têm de esperar vários dias até que seja administrada aos animais

Os primeiros sinais de alerta surgiram em Évora durante o mês de setembro, mas rapidamente outros distritos do Alentejo, Santarém e Castelo Branco se tornaram palco de um cenário de “catástrofe”: milhares de ovelhas começaram a sucumbir à febre catarral ovina, conhecida como doença da língua azul.

Nuno Pereira, proprietário de uma herdade em Portalegre, esteve dez dias à espera que fossem buscar as suas ovelhas mortas. “Foram recolhidas hoje [segunda-feira], mas com tantos animais [a morrer] torna-se difícil recolhê-los”, conta à CNN Portugal. “Entre sábado e domingo morreram em Portugal 2.100 [ovelhas]”, lamenta. Nas imagens que enviou à CNN Portugal é possível ver perto de duas dezenas de ovelhas sem vida, amontoadas. E agora teme pelos animais que ainda vivos: “Não lhe posso dizer se amanhã não estarão mortos, todos os dias estão a aparecer [mais ovelhas mortas]”, apressa-se a dizer.

À TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), Ana Rita, médica veterinária da Associação de Agricultores do Campo Branco, reconhece que "o sistema de recolha de cadáveres não tem mãos a medir, anda um bocadinho por todo o Alentejo e fora do Alentejo". A médica diz que esta é a primeira vez que este serotipo, que começou no centro da Europa, chega a Portugal.

A doença propaga-se após a picada de um mosquito, mais concretamente de insetos do género Culicoides. Os animais ficam febris, prostrados e sem capacidade de se alimentar. Para já, a única recomendação é a utilização provisória da Vacina Syvazul BTV 3 para ovinos e bovinos, autorizada pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). Esta vacina não está, no entanto, incluída no Programa de Sanidade Animal (PSA) e, por isso, representa custos elevados de aquisição e administração, além de que, avisa a CAP, a disponibilização da vacina também é morosa, o que dificulta uma resposta rápida.

Nuno Pereira revela que já pagou a vacina que a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) recomenda para travar este surto. Porém, admite estar com pouca esperança na capacidade de travar males maiores. “A recomendação é a vacinação, já pagámos a vacina, mas ainda não a demos. Temos de esperar 11 dias para que seja administrada aos animais, mas não sabemos se será a solução, temos outros colegas que já vacinaram os animais e a catástrofe foi maior após a vacina”, adianta em tom de alerta para aquilo que diz ser uma “catástrofe que se está a passar a nível nacional” e cujo impacto “ainda não sabemos qual vai ser”.

A doença da língua azul não é estranha aos produtores portugueses. Já tinham sido identificados em território português os serotipos 1 e 4 do vírus, “com declaração e vacinação obrigatória do efetivo ovino reprodutor adulto e dos jovens destinados à reprodução, bem como do efetivo bovino”, como se lê na nota publicada online pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). No entanto, este ano um novo serotipo parece ter apanhado todos de surpresa, até as autoridades de saúde veterinária.

A 13 de setembro foi detetado o serotipo 3 em Évora, mas rapidamente se alastrou para animais um pouco por todo o país, estando a "dizimar rebanhos", como diz a própria CAP. E os dados do Sistema de Informação de Resíduos de Animais (SIRCA), que cita, mostram isso mesmo: em setembro de 2024 havia já um aumento de 54% na recolha de animais mortos na região do Baixo Alentejo, em relação ao mesmo período do ano passado. Contas feitas, foram mais 4.000 animais do que no mesmo mês do ano passado. "Nos últimos dias, o número de animais recolhidos ultrapassou a marca de mil por dia, refletindo a gravidade da situação", adianta a CAP.

A febre catarral ovina, conhecida como doença da Língua azul, é causada por um arbovírus da família Reoviridae, género Orbivirus. Segundo a DGAV, “existem 24 serotipos antigénicos do vírus que não desenvolvem imunidade cruzada entre si”, sendo que a “virulência varia com os serotipos do vírus”. O organismo adianta ainda que as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores são livres desta doença.

Esta doença não é transmissível a humanos.

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