Guerra na Ucrânia terá consequências "bastante devastadoras" para a economia da Rússia - e o aviso não é de qualquer um - TVI

Guerra na Ucrânia terá consequências "bastante devastadoras" para a economia da Rússia - e o aviso não é de qualquer um

  • CNN
  • Julia Horowitz
  • 9 mar 2023, 08:14
Kristalina Georgieva

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O Fundo Monetário Internacional tem sido criticado pela previsão de que a Rússia terá este ano um crescimento económico mais forte do que o Reino Unido ou a Alemanha, apesar da crescente pressão das sanções ocidentais.

Mas Kristalina Georgieva, diretora do FMI, disse à CNN que as perspetivas económicas para a Rússia para além de 2023 são "bastante devastadoras".

"Quando se consideram as nossas projeções a médio prazo, o que elas significam é que a economia da Rússia está a encolher pelo menos 7%", indicou Georgieva em entrevista nesta quarta-feira.

Em janeiro, o FMI projetou que a economia da Rússia cresceria 0,3% este ano e 2,1% no seguinte. Isto foi muito mais otimista do que as últimas previsões do Banco Mundial e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com os seus economistas a apontarem contrações de 3,3% e 5,6% em 2023, respetivamente.

Até o próprio banco central da Rússia, que, na segunda-feira, prolongou os controlos de capital de emergência por mais seis meses, disse que o produto interno bruto pode contrair 1% este ano.

Jeffrey Sonnenfeld, professor de gestão de Yale, escreveu na revista Fortune que o "FMI tem estado a dormir" e a papaguear a propaganda do presidente russo Vladimir Putin.

"No que diz respeito à Rússia, é ingenuamente um eco das previsões do PIB inventadas por Putin, na realidade, canonizando e legitimando estes mitos económicos sem verificação", disse Sonnenfeld, num artigo assinado com os colegas Stephen Roach e Steven Tian.

Sonnenfeld tem uma lista de empresas ocidentais que reduziram as operações na Rússia desde a invasão da Ucrânia há um ano e apelou à saída destas do país.

Georgieva disse à CNN que a economia da Rússia iria sofrer com o tempo, à medida que os trabalhadores emigrassem e o acesso à tecnologia fosse cortado, e que as sanções à sua vasta indústria energética iriam ter um custo.

"Este ano, o que refletimos é que a Rússia conseguiu direcionar parte das [suas] vendas de petróleo para lá dos mercados da União Europeia", observou, referindo-se ao sucesso da Rússia em reencaminhar os envios de crude para a China e Índia. "Isso não vai ter um impacto duradouro para a economia russa."

"Não vemos a Rússia de forma alguma a beneficiar do que causou à Ucrânia e a si própria."

Na sequência das recentes proibições europeias de importação de crude e derivados de petróleo russos, as finanças de Moscovo têm mostrado sinais de tensão. Na segunda-feira, o governo russo comunicou um défice orçamental de 2,58 biliões de rublos (32 mil milhões de euros) para janeiro e fevereiro, em comparação com um excedente de mais de 5 mil milhões de euros no mesmo período em 2022. As receitas do petróleo e do gás caíram 46% num ano.

A luta contra a inflação continua

Entretanto, as economias americana e europeia revelaram-se surpreendentemente resilientes, disse Georgieva. Ela destacou a força dos seus mercados de trabalho e a ação rápida da Europa para limitar a dependência da energia russa.

"Tudo isto contribui positivamente para as nossas perspetivas de crescimento", sublinhou Georgieva. "Não vemos [uma] recessão global para este ano."

No entanto, isso não impedirá uma desaceleração global, uma vez que os bancos centrais continuam as suas campanhas para fazer baixar a inflação dos níveis mais elevados das últimas décadas. O FMI espera que a produção económica mundial, que cresceu 3,4% em 2022, suba 2,9% em 2023.

No entanto, de acordo com Georgieva, é essencial que os decisores políticos não atenuem a subida prematura das taxas de juro, para que os preços não voltem a subir.

"Mantenha o rumo", aconselhou Georgieva ao presidente da reserva federal Jerome Powell.

A reserva federal desacelerou o ritmo de subida das taxas de juros no mês passado, mas Powell indicou em testemunho ao congresso na terça-feira que o banco central pode precisar de se tornar mais agressivo.

"Os últimos dados económicos chegaram mais fortes do que o esperado, o que sugere que o nível final das taxas de juro será provavelmente mais elevado do que o anteriormente previsto", disse Powell. A reserva federal "estaria preparada para aumentar o ritmo de subida das taxas", se necessário, acrescentou.

*Olesya Dmitracova contribuiu para este artigo

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