Pararam as autoestradas numa marcha até Paris. O que querem e porque protestam os agricultores franceses - TVI

Pararam as autoestradas numa marcha até Paris. O que querem e porque protestam os agricultores franceses

É um protesto que se estende para lá de França, mas que tem no maior produtor agrícola da Europa o epicentro

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Não é um acidente, não é o mau tempo. São mesmo centenas e centenas de agricultores a marchar para Paris, entupindo a maioria das grandes estradas que vão dar à capital francesa, o que até já está a provocar constrangimentos em camiões que saíram de Portugal.

Milhares de agricultores franceses fizeram subir de tom os protestos, alinhando com aquilo que também se tem visto na Polónia ou em Itália, mas juntando-lhe a caraterística contestação francesa. É que, quando é para reivindicar, ninguém o faz como eles.

Mas afinal, porque estão os agricultores do maior produtor agrícola da Europa na rua?

Inflação e importações

Dizem que não estão a receber o suficiente, que estão asfixiados pelo excesso de regulação, nomeadamente aquela que se dirige à proteção ambiental.

Algumas das maiores preocupações passam pelo aumento agressivo da competitividade, sendo que os preços negociados com os supermercados é um problema específico do caso francês.

As críticas são particularmente dirigidas ao governo francês e aos retalhistas, uma vez que os agricultores alegam que as medidas de combate à inflação deixaram vários produtores incapazes de cobrir os custos de energia, fertilizantes e transporte.

Depois, o plano do governo para colocar um fim aos benefícios fiscais para a compra de gasóleo agrícola também deixou o setor descontente. Trata-se de outra medida para o setor energético, mas que os agricultores veem com maus olhos.

Em paralelo, as importações de bens a partir da Ucrânia, um tema particularmente sensível na Polónia, também estão a deixar vários agricultores descontentes. Existe ainda outro problema com a importação de produtos. É que estão em curso negociações para concluir um acordo entre a União Europeia e a Mercosur, a comunidade económica da América do Sul, que os agricultores europeus temem que possa afetar a competitividade de produtos como açúcar, cereais ou carne.

Governo francês colocou as autoridades na rua para garantir segurança (AP)

O que fez o governo e o que está para vir

O governo francês até tem tentado corresponder às reivindicações dos agricultores. A pressão foi tal que, com olhos nas eleições europeias de junho, o primeiro-ministro recentemente empossado, Gabriel Attal, anunciou a suspensão da subida dos impostos no combustível agrícola que tinha sido anunciada.

Mesmo com estes anúncios os sindicatos continuaram a exigir mais, prometendo não acabar os protestos, como não acabaram. Para já, e mesmo perante a possibilidade de haver uma violência, o governo francês parece tolerante aos protestos que podem prosseguir.

Ainda assim, o executivo ordenou à polícia que tomasse especial atenção aos aeroportos e aos mercados de agricultura em Paris, uma vez que estes eram alguns dos pontos sensíveis dos protestos.

“A postura continua a mesma: a polícia deve agir com muita moderação”, e só intervir “em último recurso”, se a integridade das pessoas estiver ameaçada ou em caso de danos graves nos edifícios, explicou o Ministério do Interior, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Para já os protestos decorrem pacíficos e o governo promete novas medidas para breve. Caso não vão ao encontro das pretensões dos agricultores, as autoridades francesas sabem que podem continuar a contar com mais manifestações.

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