Uma greve nacional em França para protestar contra um aumento da idade da reforma atraiu mais de um milhão de pessoas para as ruas na quinta-feira antes de terminar em violentos confrontos com a polícia em Paris e em outras cidades.
O protesto seguiu-se a uma greve de magnitude semelhante em janeiro e a dias de pequenas caminhadas e manifestações pelo meio. E estão previstas mais ações em larga escala para a próxima semana.
O que está a irritar os franceses é uma nova idade de reforma que será ainda uma das mais baixas do mundo industrializado.
Ao abrigo de uma nova lei, aprovada pelo parlamento sem votação na semana passada, a idade da reforma para a maioria dos trabalhadores franceses será aumentada de 62 para 64 anos.
Isto manterá a França abaixo da norma na Europa e em muitas outras economias desenvolvidas, onde a idade em que se aplica a pensão completa é aos 65 anos e está a aproximar-se cada vez mais dos 67.
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a idade da reforma situa-se entre os 66 e os 67 anos, dependendo do ano em que se nasceu. A legislação atual prevê um novo aumento de 67 para 68 na Grã-Bretanha entre 2044 e 2046 (embora o calendário deste aumento esteja a ser revisto e possa mudar). Em Portugal, situa-se nos 66 anos e quatro meses.
As pensões do Estado em França são também mais generosas do que noutros países. Com quase 14% do PIB em 2018, a despesa do país com as pensões do Estado é maior do que na maioria dos outros países, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.
O governo francês defendeu a reforma das pensões - que inclui outras mudanças - como necessária para manter o financiamento do sistema de pensões. Os atuais impostos sobre os trabalhadores pagam as prestações dos reformados, e como as pessoas vão vivendo mais tempo e mais baby boomers se reformam, o sistema corre o risco de ir à falência
O financiamento dos sistemas de pensões é uma preocupação em muitas economias desenvolvidas.
"As agências governamentais preveem enormes défices nos próximos anos, uma vez que os "boomers" continuam a reformar-se, e precisam de fazer mudanças muito rapidamente - caso contrário, perderão dinheiro para investir noutras coisas", disse Renaud Foucart, professor sénior de economia na Universidade de Lancaster, em Inglaterra, à CNN, em Janeiro, quando o plano francês foi proposto.
A reforma das pensões é "vista como tabu" em França, de acordo com Foucart.